João Alves Neto: diretor irá comandar as operações brasileiras, com foco em milho e ervihas

A história da família francesa Bonduelle é o que se pode chamar de um caso em que tradição e sucesso andaram de mãos dadas. Afinal, em 150 anos, eles passaram de pequenos produtores de vegetais nos pomares da França a um dos maiores grupos processadores de alimentos do mundo. Hoje, o grupo está presente em 17 países, processa por ano cerca de 900 mil toneladas de legumes e conta com um faturamento anual de ? 1,7 bilhão. São com esses respeitáveis números que a empresa finca de vez sua bandeira no Brasil. A multinacional acaba de abrir sua primeira fábrica no município de Cristalina (GO) e a ideia é intensificar sua presença por aqui, que já existia, porém, focada apenas na importação e distribuição de seus produtos. “O Brasil terá um papel estratégico no plano de expansão da empresa fora da Europa”, revela o diretor da Bonduelle no Brasil, João Alves Neto. A nova unidade, que em sua primeira fase contou com investimentos de R$ 40 milhões, deve receber nos próximos três anos, cerca de R$ 120 milhões em investimentos e alcançar uma produção de 50 mil toneladas, atingindo 100% da sua capacidade. A meta é dobrar a participação da empresa no mercado nacional, que hoje é de 5%, para 10% e alcançar faturamentos próximos de R$ 120 milhões ao ano. “Nossas operações irão crescer no País”, prevê Neto.

A chegada da gigante ao Brasil faz parte de um amplo plano de desenvolvimento do grupo, que conta com investimentos de 80 milhões de euros, e o objetivo de expandir a atuação da empresa em mercados fora da Europa, que atualmente responde por cerca de 40% do faturamento. “Há dez anos não tínhamos negócios fora da Europa. Hoje, eles já respondem por 25% do faturamento da empresa”, ressalta o vice-diretor-executivo do Grupo Bonduelle, Pierre Deloffre. Para o francês, a chegada ao País irá acelerar esse processo. “O Brasil é atualmente o país que melhor atravessou a crise e queremos crescer em um mercado que está crescendo. Isso mostra nosso dinamismo.”

Moderno: para ter produto diferenciado, a empresa trouxe da França uma colheitadeira desenvolvida especialmente para colher milho verde. O equipamento é único no Brasil

Para atingir essas metas, a empresa aposta no desenvolvimento de um novo conceito de alimento em conservas, que se estende do plantio à produção agroindustrial, que tem em sua base a parceria com produtores da região. Um modelo que tem na produção de ervilhas seu carrochefe. “O Brasil não produz ervilhas frescas, estamos sendo pioneiros nesse cultivo”, garante João Neto. Para tornar essa lavoura viável, a empresa trabalhou em parceria com a multinacional suíça Syngenta, para desenvolver variedades da planta adaptadas às condições brasileiras e importou alguns híbridos da França. A ideia de implantar a cultura em larga escala no País foi um dos fatores que motivaram a instalação da fábrica em Cristalina, cidade goiana conhecida pelo alto nível de desenvolvimento técnico das lavouras, com 48 mil hectares de área irrigada que correspondem a 10% do município. “Além disso, temos condições climáticas excelentes para esse tipo de cultivo”, revela o diretor.

Hoje já são 500 hectares cultivados com ervilha na região e 100% da produção é comprada pela empresa que, para incentivar produtores a aderirem ao cultivo, fornece as sementes, assistência técnica, se responsabiliza pelo plantio e pela colheita e garante a compra. “A cultura também é muito rentável e uma excelente alternativa como cultura de inverno”, pondera o diretor que, para garantir a qualidade dos produtos, até importou uma máquina francesa, especializada em colher milho verde. “No Brasil as máquinas são adaptadas”, explica.

Tanto cuidado com cada detalhe da operação brasileira tem explicação. Nos planos da Bonduelle, o Brasil será o ponto de partida para a exportação com toda a América Latina, um mercado ainda pouco explorado pela empresa. “O primeiro que queremos atingir, naturalmente, é o Mercosul, que não possui taxas de importação. Nós já estamos presentes em alguns países com escritórios locais, mas pretendemos intensificar essa presença a partir das operações brasileiras”, diz o diretor de operações e desenvolvimento da Bonduelle, Benoît Bonduelle, que não esconde que uma das estratégias de crescimento pode se dar através da aquisição de terras, principalmente na região Centro-Oeste. “É uma forma de nos proteger das variações das commodities. Mas é algo que não está no nosso foco nesse primeiro momento”, finaliza.