O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) após a operação contra os empresários que escreveram mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp. “Ativismo político do Judiciário”, disse Barros Estadão. “Tem que haver bom senso”, completou.

Nesta terça-feira, 23, a Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão em endereços ligados a oito empresários próximos do presidente Jair Bolsoanaro. Além das buscas, o Supremo também solicitou a quebra do sigilo bancário e bloqueio das contas bancárias.

A ordem foi dada na última sexta-feira, 19, e partiu do ministro Alexandre de Mores, que é o relator do inquérito dos atos antidemocráticos. O caso ocorre em meio à tentativa do comitê da campanha de Bolsonaro (PL) de melhorar a relação entre o presidente e Moraes. Bolsonaro já fez diversos ataques ao magistrado, chamou Moraes de “canalha” e chegou a dizer que não cumpriria decisões proferidas por ele. Desde a semana passada, no entanto, o presidente tem baixado o tom e participou da posse de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no último dia 16. Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, nesta segunda-feira, 22, Bolsonaro disse que o conflito com o ministro estava “superado”.

O Estadão procurou os ministros Fábio Faria (Comunicações), Ciro Nogueira (Casa Civil) e o empresário Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação que hoje assessora Bolsonaro na campanha. Os três silenciaram sobre a operação determinada por Moraes.

A avaliação de aliados do presidente é que a de que o ministro do STF testa os limites de Bolsonaro toda vez que o Palácio do Planalto tenta hastear uma “bandeira branca”. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) encarou a operação como uma “provocação” de Moraes contra o presidente e minimizou o conteúdo das mensagens dos empresários. “Não faz sentido uma coisa dessa, as pessoas não podem mais falar o que pensam. Vejo como provocação”.

O chefe do Executivo ainda não comentou publicamente sobre o caso, mas a portas fechadas, em reunião com empresários do Esfera Brasil, em São Paulo, Bolsonaro disse que não é golpista e não defende qualquer tipo de intervenção no Brasil. O almoço com o presidente foi oferecido pelo fundador do Grupo Esfera, João Camargo.

A mensagens, reveladas pela coluna do jornalista Guilherme Amado, no site Metrópoles, foram feitas em um grupo de WhatsApp. Um dos empresários chegou a falar que preferia um “golpe” em vez da volta do PT ao governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial deste ano.

A operação também repercutiu negativamente na Procuradoria-Geral da República (PGR). O procurador-geral, Augusto Aras, estranhou a decisão de Moraes contra empresários que defenderam o golpe. A PGR não foi consultada para o cumprimento dos mandados de busca e apreensão nos endereços dos empresários que defenderam o golpe, caso Lula ganhe a eleição.

O receio da cúpula da campanha de Bolsonaro é o de que o episódio agrave a crise entre os Poderes. Há temor de que a decisão de Moraes sirva para estimular atos políticos pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal nas manifestações de 7 de Setembro.

Do almoço com os empresários participaram Michel Klein, das Casas Bahia; Flávio Rocha, presidente das Lojas Riachuelo e o presidente da Febraban, Isac Sidnei. Na comitiva presidencial, estavam os ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil; Fabio Faria, Comunicações; o ex-ministro da Infraestrutura e atual candidato ao Governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e a presidente da Caixa, Daniella Marques. Acompanharam o presidente, ainda, o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).