Organizadores de festas clandestinas têm driblado a fiscalização das autoridades de saúde e de segurança graças às redes sociais e estruturas cada vez mais elaboradas para manter secreto o local do evento. Maria Cristina Megid, diretora da Vigilância Sanitária do Estado, reconheceu que não está sendo fácil coibir festas e aglomerações, hoje proibidas em São Paulo.

“Tem tido muita dificuldade para identificar esses locais. Temos recebido algumas denúncias e pedido apoio da segurança pública. Conseguimos desmobilizar algumas, mas outras não. Quem tem consciência do momento e sabe que essas festas sãos de risco, denuncie. A identidade será preservada”, disse ao Estadão.A população pode denunciar festas clandestinas e outras aglomerações por telefone (3065-4666) e e-mail (secretarias@cvs.saude.sp.gov.br).

Os métodos são semelhantes. O convite fica disponível para visualização de qualquer um no Instagram e no Facebook, com data, horário, preço e o lineup de quem vai tocar. A única informação restrita é o endereço, divulgado só horas antes.

O local que aparece no convite nem sempre é o certo. Um promotor de eventos, que pediu anonimato, foi no mês passado à festa LGBT Indústria, realizada duas vezes por mês – uma em SP e outra no Rio. Cada edição ocorre em um local, geralmente longe do centro.

A edição de novembro em São Paulo foi em um sítio próximo da Represa do Guarapiranga, zona sul. “Fomos ao endereço, paramos no estacionamento. Ali havia organizadores espalhados dando informações divergentes. Numa tentativa de despistar a fiscalização, acredito. Indicavam um lugar errado, você se perdia e voltava. Aí indicavam o certo”, contou. “Devia ter 4 a 5 mil pessoas. Todas já chegavam sem máscara e não havia distanciamento nenhum. Lá dentro, todo mundo junto, se abraçando, beijando. Como se não existisse o coronavírus.”

Na festa da Indústria do dia 6, os organizadores enviaram o endereço falso. Nesse local, um funcionário dizia o lugar certo. O DJ Yan Goedertt divulgou no Instagram vídeo da festa. É possível ver milhares de pessoas aglomeradas, sem máscaras.

Na mensagem, o DJ agradece ao organizador Paulo Galdino. Nos materiais de divulgação, há o nome de Galdino, telefone e dados bancários, para depósito do dinheiro do ingresso. O Estadão não conseguiu contato com o organizador.

O promotor de eventos destacou que, por ser clandestina, há uma precariedade nos serviços. “Me informei sobre as pessoas que trabalhavam no evento. Era uma rede de amigos e parentes que estava ali para colaborar. Não eram profissionais. Em um momento, duas pessoas passaram mal em um camarote. Uma amiga, médica, tentou entrar para ajudar e não conseguiu. Depois, apareceram os bombeiros e essas pessoas foram levadas para o que deveria ser um ambulatório. Era uma tenda, com alguns colchões no meio de um gramado, e mais nada.”

‘Celebrar a vida’

A festa Rolezera, que já acontecia eventualmente antes da pandemia, teve edição marcada para o último dia 5. Não informou o local e havia um site, com acesso por senha, para vender ingresso. No WhatsApp, a mensagem dizia: “Não podíamos deixar de juntar nossos amigos pra nos despedir desse ano atípico, né? Celebrar a vida e a amizade, com muita música e energia boa.” O organizador e o dono do local estão sujeitos a penas de um mês a um ano de detenção e multa. Já houve no Estado 1,2 mil autuações por aglomeração ou não uso de máscara no comércio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.