O ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola disse nesta quinta-feira, 9, que do ponto de vista jurídico, a mudança da meta inflacionária pode ser feita. Mas do ponto de vista do arcabouço do Regime de Metas Inflacionárias, “isso seria a pior coisa que poderia acontecer”, disse agora à noite Loyola, ao participar como palestrante do “Toro Talks: desafios de um novo Brasil”, evento anual organizado pela Toro Investimentos.

“Isso a mudança da meta tenderia a piorar as expectativas dos agentes econômicos em relação à inflação futura, provocaria uma desancoragem das expectativas de inflação, que subiriam até para se adaptarem a essa nova meta”, disse.

Para Loyola, uma eventual mudança da meta, com consequente desancoragem das expectativas, seria o mesmo que trocar seis por meia dúzia, só que com uma inflação maior.

“E os bancos centrais têm aquilo que chamamos de função de reação, uma variável que depende da distância entre a inflação verificada e a meta de inflação. Se você sobe a meta, sobe as expectativas, e a reação do BC vai exigir um juro nominal mais alto. Com isso, o objetivo de se baixar o juro não seria atingido”, disse Loyola.

Além de tudo isso, segundo ele, estaria se abrindo o precedente de mudar a meta no meio do jogo, para 2024 e 2025.

“E também não faz sentido colocar uma meta mais adiante acima do que temos agora. Imagine o BC fazendo todo o esforço para baixar a inflação agora sabendo que daqui a dois anos a meta estará mais alta. Não faz sentido”, criticou o ex-presidente do BC.

Loyola diz acreditar que o governo não vai mexer na meta, por todas as razões que colocou, e que a discussão sobre a mudança tem mais um componente político do que qualquer outra coisa.

Ele advertiu ainda que o Regime de Metas não é uma coisa rígida, e que se trabalha muito bem dentro de uma banda de tolerância.

“O BC tem espaço para trabalhar essa banda de tolerância dependendo da natureza da inflação, dependendo de quão difícil é o processo da desinflação”, disse Loyola abrindo parênteses para explicar que o processo de desinflação da atual alta global dos preços é mais difícil e demorado.

No Brasil, lembrou Loyola, o processo de desinflação costuma ser ainda mais demorado que em outras economias, por conta do efeito inercial que existe na média dos aumentos dos preços ao consumidor.

“Mas a nossa meta de inflação dá espaço para o BC trabalhar estes problemas porque tem uma banda relativamente larga de tolerância. É por ai que o BC pode trabalhar”, completou o ex-presidente da autarquia.