25/04/2017 - 12:27
A tradicional e sofisticada grife francesa Hermès é conhecida em todo o mundo pela durabilidade de suas peças, confeccionadas para atravessar gerações. O que nem todos sabem é que as gravatas, e também os icônicos lenços criados em 1937 pelos herdeiros de Thierry Hermès, hoje têm na seda brasileira o seu principal componente. As peças, que podem levar dois anos para ficarem prontas porque são feitas de forma artesanal, chegam a custar R$ 1,2 mil. Elas são encontradas em lojas requintadas, como as da Madison Avenue, em Nova York, e da Fauburg Saint Honoré, em Paris, ou no pescoço de celebridades, entre elas a francesa Catherine Deneuve, a americana Sarah Jessica Parker, ou a inglesa Victoria Beckham.
A marca, que faturou E 5,2 bilhões no ano passado, utiliza a seda brasileira desde 2006. Em 2009, quando o então presidente da grife Patrick Thomas, inaugurou a primeira loja no Brasil, em um shopping na capital paulista, ele declarou sua preferência pela seda brasileira, “a melhor do mundo”. A Hermès compra, em média, 100 toneladas de fios por ano. O volume equivale a 18% das 536 toneladas vendidas pelo Brasil, no mercado externo, em 2016.
O País é o segundo maior exportador de fios de seda do mundo. Perde apenas para a China, com 100 mil toneladas. Mas, embora perca em quantidade, como já disse o francês Thomas, a qualidade do produto brasileiro se destaca no mercado. Enquanto um fio produzido na China tem, em média, 600 metros, o brasileiro conta com 1,2 mil metros de comprimento – o que significa menos emendas no tecido. Mais: o exemplar produzido por aqui é mais branco do que os dos concorrentes, facilitando o tingimento do tecido. Não por acaso, o italianos e também os japoneses, que foram os responsáveis por trazer as técnicas de produção de casulos de bichos da seda para o Brasil na década de 1940, hoje são importadores de seda para a fabricação dos tradicionais kimonos.
Eles compram da Bratac, a única empresa nacional que produz o fio de seda. Com faturamento de R$ 120 milhões em 2016 e sediada em Londrina (PR), a companhia é comandada por Renata Amano, da terceira geração da família fundadora da empresa. Para ela é fácil separar os produtos dos dois países. “A China trabalha com quantidade e nós com produtos feitos sob demanda e com alto padrão de qualidade”, afirma. No ano passado, a Bratac processou 528 toneladas de fios e neste ano deve chegar a 600 toneladas, alta de 15%.
No Brasil há 2,5 mil famílias que criam bichos da seda, os chamados sericicultores. Eles trabalham em sistema de integração com a Bratac: recebem as mudas de amoreira e as larvas que vão fabricar os casulos. Na safra 2015/2016, a produção nacional foi de 2,9 mil toneladas, das quais 2,4 mil saíram do Paraná. O restante foi produzido em São Paulo e Mato Grosso do Sul. O volume anual foi 2% acima do ciclo anterior. O técnico agrícola Osvaldo de Pádua, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), diz que a safra 2016/2017 deve ser maior e de melhor qualidade. A expectativa se deve ao aumento do número de produtores no chamado Vale da Seda, região no noroeste paranaense, que reúne 22 municípios responsáveis por 28% da produção de casulos verdes do Estado. São 671 toneladas, de 1,8 mil produtores.
Neste ano, o Vale ainda deve ganhar outros 180 produtores e um dos motivos é o valor pago pelo casulo. Na safra passada, os preços subiram 3,4%, chegando a R$ 16,50 o quilo. Nesta safra, o valor já está a R$ 21 o quilo. “Isso é resultado de uma política de reposicionamento da seda, que vem acontecendo há cinco anos e da qual estamos colhendo frutos”, diz Amano.
Para João Berdu, presidente do Instituto Vale da Seda, o crescimento também se deve ao investimento em tecnologia nas propriedades. “A mecanização de etapas da produção, como a colheita da amoreira tem sido essencial para atrair novos produtores.” Para ele, esse crescimento é importante, porque há espaços para a seda brasileira no mercado local, e não apenas para as marcas de luxo. “Estamos trabalhando para que parte das 1,2 mil confecções paranaenses da região se juntem a essa cadeia produtiva”, diz. “Acreditamos ser possível ampliar o uso da seda nacional, fazendo essas parcerias.”