22/05/2014 - 14:48
Ao mesmo tempo que detém a maior reserva de água doce do mundo, o Brasil é um dos países que reúnem as melhores condições de oferecer uma importante contribuição à produção global de alimentos lá pela metade do século. De acordo com projeções da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), calcula-se que o País possa suprir 40% dos 2,6 bilhões de toneladas anuais demandadas em 2050. A presença dos dois fatores coloca na ordem do dia, de acordo com Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, secretário nacional de Irrigação, do Ministério da Integração Nacional, a discussão sobre como promover um melhor balanceamento desse potencial. Em outras palavras, como produzir mais alimentos usando menos água. Para ele, a resposta passa por investimentos em novas tecnologias, pela redução na burocracia de acesso ao crédito e, por fim, por uma certificação destinada às melhores práticas no campo. “Com irrigação correta, a produtividade no campo pode triplicar”, diz Oliveira. “Assim, não dependeríamos de novas áreas para suprir a futura demanda por alimentos estimada pela FAO.”
Segundo um levantamento realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil possui atualmente 5,8 milhões de hectares irrigados, quase o dobro da área de dez anos atrás. Entretanto, esse número poderia ser quintuplicado, sendo metade desse potencial utilizada no cultivo de grãos nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, não se trata de um mera questão de vontade política, que se resolve de um dia para o outro. Segundo Oliveira, antes de expandir as áreas irrigadas atuais, é preciso renovar os sistemas já instalados. Para ele, é importante a substituição das tecnologias ultrapassadas por outras mais modernas, que utilizam menos água e, de quebra, são capazes de triplicar a produtividade, reduzir os gastos com energia e ajudar a preservar o meio ambiente. “Hoje, temos sistemas tão avançados que monitoram o que cada gota pode gerar de ganhos à planta”, diz o secretário. “Os produtores brasileiros já sabem disso e buscam recursos para se adaptar.”
Nos últimos três anos, a empresa investiu R$ 300 mil para trocar o velho sistema de irrigação de microsaspersão por um equipamento de gotejamento na planta. O grupo possui 900 hectares irrigados em Petrolina (PE), nos quais cultiva uvas para o mercado interno e para a exportação. Segundo o diretor-geral do JD, Arnaldo Eijsink, só com essa troca a empresa economizou 30% de água e obteve ganhos de até 7% na produtividade. “Os ganhos com a economia de água e com a produtividade pagarão o investimento em pouco tempo”, diz Eijsink. A indústria brasileira de equipamentos está correndo contra o tempo para dar respostas a esse desafio. A Anauger, empresa paulista líder no mercado de bombas d’água, estima um crescimento de 10% no faturamento deste ano, ante os R$ 100 milhões de 2013. Esse crescimento deve vir do lançamento de uma nova tecnologia irrigante, à base de energia solar, que funciona mesmo que o tempo esteja nublado. “Nem mesmo Israel, que é referência em irrigação, tem algo parecido”, diz Marco Aurélio Gimenez, diretor-comercial da Anauger. “A procura por novidades está grande, o produtor só precisa de crédito para investir.”
Dinheiro disponível também é uma preocupação do secretário de Irrigação, que aposta na criação de mais linhas de crédito, como o programa Mais Irrigação. Lançado no ano passado pela presidenta Dilma Rousseff, o programa prevê um investimento de R$ 10 bilhões, em quatro anos, na elaboração de estudos e projetos de revitalização de cerca de 540 mil hectares. “A procura por esses recursos está muito grande”, diz Oliveira. “Por isso, precisamos já pensar em novos planos para o futuro.” Segundo Oliveira, para chegar em 2050 produzindo mais alimentos sem expansões significativas de área, o Brasil precisaria investir R$ 10 bilhões, por ano, nas próximas três décadas. Para se ter uma ideia desde 2003, o País investiu apenas R$ 30 bilhões em irrigação. Entre as empresas que já iniciaram o processo de modernização nos sistemas de irrigação está o Grupo JD, controlado pelos herdeiros de Jacques Defforey, um dos fundadores do grupo francês Carrefour.