ESTRATÉGIA: os frigoríficos estão mais agressivos, investindo pesado em unidades próprias ou ampliando os arrendamentos

Durante décadas, o cenário do confinamento bovino no Brasil foi nebuloso, difícil de ser projetado, pela falta de informações confiáveis. Nos últimos tempos, porém, o grau de incerteza em relação à atividade vem mudando, graças à oferta de números mais próximos da realidade, como os fornecidos pelos levantamentos estatísticos produzidos por entidades, como a Associação Nacional de Confinadores (Assocon), com sede em Goiânia. “O que temos em nossos arquivos serve como um parâmetro bastante confiável, já que os maiores confinadores do País são associados”, afirma Bruno Jesus de Andrade, analista técnico da Assocon. A boa notícia é que os números projetados para 2011 levantados com as intenções declaradas pelas fazendas de pecuaristas e frigoríficos que integram a Assocon apontam crescimento do confinamento brasileiro.

A pesquisa, que compreende 62 associados da Assocon, realizada no fim do primeiro semestre, está se confirmando. Segundo Andrade, o País deve encerrar 2011 com 3,1 milhões de bovinos terminados de forma intensiva. Um avanço significativo de 14,8% se comparado a 2010, quando foram confinados 2,7 milhões de bovinos, e recorde ante 2008, ano em que o País confinou 2,8 milhões de cabeças. “Apesar das exportações e do consumo fracos de carne bovina em 2011, no início do ano, quando o pecuarista planeja a temporada, a expectativa para as cotações da arroba do boi gordo era muito positiva”, diz Andrade.

 

De acordo com ele, mesmo com os preços do boi gordo abaixo dos patamares registrados no fim do ano passado, quando a cotação da arroba – a prazo e livre de imposto (Funrural) – chegou próximo a R$ 120, o setor deve ter um faturamento um pouco superior, em 2011, devido ao aumento da oferta de gado. O preço da arroba tem se mantido em torno de R$ 100 e boa parte dos animais já foi abatida. No ano passado, os confinadores obtiveram uma receita de R$ 3,96 bilhões com a venda de gado terminado, pronto para o abate. Segundo Andrade, até o fim de setembro, 49% dos bovinos confinados haviam sido abatidos. O restante seria enviado aos frigoríficos entre novembro e dezembro.

 

MERCADO NA EXPECTATIVA: o setor deve ter um faturamento superior ao de 2010, diz Andrade, da Assocon (acima). Para Bellotti, do Rabobank, o setor tende a crescer, mas no longo prazo

Apesar dos bons resultados dos dois últimos anos, o futuro da atividade é uma incógnita para os pecuaristas. A alta dos preços das commodities, especialmente do milho, principal grão utilizado na engorda intensiva, tem impactado no custo de produção. Para Guilherme Bellotti Melo, analista setorial do departamento de pesquisa do banco holandês Rabobank, o confinamento nacional tende a crescer, mas no longo prazo. “Antes de evoluir mais, o pecuarista deve investir no sistema extensivo”, afirma. Melo afirma que já existe um movimento entre os criadores para aumentar a produtividade das pastagens e a suplementação do gado, ainda no pasto, para que chegue ao confinamento o mais gordo possível. “O produtor começou a encarar o pasto como uma cultura agrícola e já vê necessidade de aumentar a adoção de sal mineral e o volume de concentrado na dieta bovina no sistema extensivo”, diz.

Investir nesses quesitos, de acordo com Melo, apesar do alto custo das commodities, sai pelo menos 30% mais barato do que confinar. “A diária de confinamento gira em torno de R$ 6 por cabeça”, diz Melo. “No Brasil, como o gado fica em média 120 dias nesse sistema, seriam R$ 720 por animal.” Os investimentos em confinamento, segundo Melo, são afetados ainda pelos embargos à carne do Brasil, como no caso dos russos, que em junho deste ano suspenderam as importações do País. “Essas medidas, que causam recuo nas exportações, acabam interferindo nas intenções do pecuarista de confinar”, afirma.

Por outro lado, há quem aposte na direção contrária. Para Alcides Torres Júnior, consultor especialista em pecuária da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP), o perfil do confinamento brasileiro está mudando. “Os frigoríficos estão mais agressivos. Estão investindo pesado em confinamento próprio ou ampliando os arrendamentos”, diz. É o caso do grupo JBS-Friboi, o maior confinador do País. Este ano, a empresa deverá abater 200 mil animais engordados no sistema, ante 168,7 mil em 2010, um crescimento de cerca de 19%.