Há muito tempo não se via um cenário tão favorável para a pecuária bovina. Enquanto a economia brasileira vive turbulências e incertezas, quem se dedica à produção e à pecuária seletiva tem visto horizontes bem mais estáveis. Com o preço da arroba do boi gordo valorizado acima da inflação, nem mesmo o recuo do consumo de carne no mercado interno conseguiu abalar os rendimentos. Eles foram compensados em uma balança na qual o ajuste foi feito pela velha e certeira lei da oferta e da procura. Em 2015 houve uma menor oferta de bois para o abate, a retenção de fêmeas continuou crescendo, unidades frigoríficas ociosas foram fechadas e o câmbio compensou até uma exportação menor, mas com faturamento maior.

Diante deste cenário, e de um ciclo virtuoso na pecuária, quem tem investido na área espera por resultados positivos também em 2016. O produtor Carlos Viacava, da marca CV Nelore Mocho, com fazendas no interior paulista, é um exemplo. “Em 2015, não vendi mais animais porque não tinha”, afirma. Foram 750 touros, a maior parte negociada por valores acima de R$ 9 mil. “Minha receita foi 30% superior a 2014.” Para este ano, Viacava diz que o plano é ofertar 800 touros na fazenda e nos leilões que realiza.  O otimismo do criador vem de sua experiência e da vivência de mercado. “A arroba do boi nos Estados Unidos está bem mais cara que no Brasil e isso nos dá uma perspectiva de que temos para onde crescer”.

O bom momento da pecuária tem atraído investidores para o setor como Gabriel Belli, empresário da construção civil, dono do grupo Carthago, de Uberaba (MG). Ele começou há três anos e em 2015 realizou o seu primeiro leilão de gado. “A primeira experiência foi um sucesso muito além da minha expectativa”, diz Belli. “O faturamento, que esperava alcançar em cinco anos com os investimentos já realizados na pecuária, obtive no ano passado.” Para 2016, o criador iniciante na seleção de gado já programou dois leilões. Dono de matrizes como Melopéia e Sama, ele acredita que dentro de pouco tempo terá produção própria para a venda. Ousado, o projeto pecuário tem sido executado com o irmão Daniel Belli.  “Somos empresários, traçamos metas e temos limites para compras e vendas”, diz ele. “Investimos à medida do retorno financeiro e, por isso, o próximo passo é criar gado de corte e touros.”


“Em 2015, não vendi mais porque não tinha. Neste ano, a oferta será de 800 touros.” Carlos viacava,
pecuarista e promotor de leilões

De acordo com o produtor Luciano Borges, do Rancho da Matinha, também em Uberaba, o comércio de touros avaliados foi excepcional em 2015 e isso atrai o mercado. Borges conduz em sua propriedade um trabalho pioneiro no País, no qual os animais são avaliados pelo desempenho metabólico, ou seja, pelo que consomem de alimentos e sua relação econômica. “Em uma propriedade é preciso realmente controlar custos”, diz Borges. “Por isso, na nossa seleção genética buscamos por animais que consomem menos e dão mais lucro.”

A oferta de animais melhoradores também está na base do projeto Nelore JOP, iniciado em 2003 por um grupo de pecuaristas que foi à Índia buscar novas linhagens com o objetivo de refrescar o sangue da raça no Brasil, evitando a consanguinidade. Na época, o grupo comprou 35 fêmeas e quatro reprodutores que permaneceram naquele país. Em três etapas, foram trazidos para cá 2,3 mil embriões. Até agora, 300 nascimentos foram comunicados à Associação Brasileira de Criadores de Zebu, responsável pelo registro dos animais.  Thiago Trevisi, da Top Consultoria Pecuária, que representa o grupo de investidores, diz que a previsão é vender parte do trabalho já realizado a partir deste ano.  “O ano de 2015 confirmou a qualidade do material importado, agora nosso foco é contribuir com as gerações futuras de animais aqui no Brasil”, afirma Trevisi. 

Para o diretor da Programa Leilões, Paulo Horto, os produtores devem se planejar. Em 2015, a empresa intermediou a venda de 200 mil animais, entre gado de seleção e comercial, equinos e gado leiteiro, em cerca de 500 eventos.  “Muitas reservas de datas de leilões foram feitas no ano passado”, diz Horto. Para ele, este é o ponto forte dos criadores que vendem bem. “A hora é de investimento em tecnologia, para produzir mais quilos de carne por hectare, porque ela custa pouco diante do benefício que pode devolver ao empreendedor rural.”