E stá próxima a abertura do mercado americano para a carne bovina in natura brasileira. No final de julho, o ministro da Agricultura (Mapa), Blairo Maggi, esteve em Washington para celebrar o acordo que abre a negociação entre os dois países e voltou com a promessa de acesso para o produto. Há 17 anos, o Brasil tenta entrar na pauta das importações daquele país, que compra anualmente 1,56 milhão toneladas de carne e consome 11,4 milhões de toneladas. “Desta vez as portas do mercado americano estarão abertas”, afirma Maggi.

Um protocolo de intenções já havia sido assinado pela presidente afastada Dilma Rousseff e pelo presidente Barack Obama, em meados do ano passado, para frigoríficos de 14 Estados. O entrave era o protocolo sanitário, para o qual restam pequenos ajustes, de acordo com o Mapa.

O Brasil já exporta carne processada aos Estados Unidos. Foram 30 mil toneladas que renderam um faturamento de US$ 281 milhões em 2015. A intenção agora é conquistar o paladar dos americanos também com o produto fresco e congelado. O ministério espera incrementar os negócios em US$ 900 milhões com essa carne. Embora o caminho ainda seja longo até a consolidação dos negócios iniciados, o setor já está de olho nas possibilidades que um sinal verde dos Estados Unidos pode proporcionar. “Estamos preparados para atendê-los”, afirma Luiz Cláudio Paranhos, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) e da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Bovinocultura de Corte do Mapa. “Esta será uma oportunidade importante para destinarmos a carne de dianteiro para o mercado externo”, afirma. As peças como acém, paleta e músculo são utilizadas para a produção de hambúrgueres, produto que os americanos consomem em grande quantidade. São cerca de 12,3 bilhões de unidades por ano, uma média de 40 hambúrgueres por habitante. No Brasil, o preço é o principal atrativo para que esses sejam os cortes mais presentes no prato dos consumidores.

Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, salienta que as empresas terão de se preparar para ofertar o produto ao mercado americano e atender tanto a eles quanto aos clientes brasileiros. No entanto, Torres acredita que a oferta da carne nacional não se deve restringir ao dianteiro do boi. “Nós exportamos carnes de traseiro para mercados exigentes e a produção pecuária está caindo nos Estados Unidos”, afirma. “Portanto, é possível que eles tenham interesse por todo o tipo de produto.”

Na avaliação do consultor de carne de qualidade Roberto Barcellos, da Beef&Veal no entanto, as diferenças de produção entre os dois países podem fazer com que os americanos concentrem suas compras no produto destinado para a indústria de hambúgueres. “O perfil de consumo dos Estados Unidos é de uma carne de alta qualidade, que nós ainda não temos condições de produzir em grande escala”, afirma. Enquanto naquele país os bovinos são criados em confinamento, possuem alto nível de marmoreio e predominam as raças britânicas, no Brasil são as raças zebuínas, ainda de carne mais dura que predominam nos pastos, especialmente o nelore. Dos 208 milhões de cabeças criadas, cerca de 80% são alimentadas com capim. Além disso, há nos Estados Unidos um elaborado sistema de classificação de carcaças nos frigoríficos, o que ainda não é realidade no Brasil.

O que todos concordam é que, uma vez que o País consiga conquistar os americanos, as portas de outras nações, especialmente das que integram o Tratado do Atlântico Norte (Nafta), como o México e o Canadá, estarão mais propensas a se abrirem ao Brasil. “O mais importante não é a qualidade ou quantidade de produtos que negociaremos”, afirma Paranhos. “Mas sim estar credenciado para o que este mercado representa”, diz.