Uma nova onda vai elevar a produtividade no campo, cada vez mais. É a era da informatização das fazendas, a agricultura digital, chegando definitivamente ao agronegócio. Ela vai além do melhoramento de sementes e do uso de defensivos da Revolução Verde, iniciada na década de 1950 pelo agrônomo americano Norman Borlaug (1914-2009) e que levou produção de alimentos a uma escala geométrica crescente. Supera, também, a atenção dada ao sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que ganhou força a partir dos anos 2000. “É a era digital que estará presente nos campos daqui para frente”, diz a analista de sistemas, Silvia Maria Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas (SP).
“A informação é o novo petróleo da economia mundial.”

Para Cristina Palmaka, presidente da SAP no Brasil, empresa alemã de tecnologia, esse é o combustível que está movendo os motores das empresas do setor. “O Brasil possui uma vocação inegável para o agronegócio”, diz ela. “O foco na ampliação do uso de tecnologias no campo é primordial para o desenvolvimento e para a melhoria da produtividade da safra nacional.” No caso das máquinas, não há um equipamento sequer que saia da fábrica sem contar com algum tipo de tecnologia da informação, como monitores digitais de desempenho de plantio e colheita, ou conexão com sensores de solo ou redes de computadores. “Tratores e colhedeiras de alto desempenho já vêm com muita tecnologia embarcada”, diz o agrônomo Dirceu Ferreira Júnior, diretor do Centro de Expertise em Agricultura Digital da alemã Bayer. “É o que está tornando a adoção da agricultura digital muito mais próxima e rápida no campo.” Para ele, o grande desafio é fazer com que o fazendeiro use o máximo de recursos embarcados, não somente nas máquinas, mas em todas as inovações que estão à mão do produtor. Entre elas os aplicativos de celular, os sistemas de monitoramento digital para a fazenda e os equipamentos autônomos. Além de uma infraestrutura de internet robusta para o campo, problema que começa a ter alguma solução a caminho. “O que estamos vendo é uma onda de produtores jovens nas fazendas do País”, afirma Ferreira Júnior. “São justamente eles que estão demandando por inovações digitais.” Além disso, a operação das máquinas está cada vez mais fácil, permitindo o maior uso do potencial dos equipamentos.

Não é por menos que a Bayer, prestes a absorver toda a musculatura da Monsanto, compreendendo um mercado global de agricultura de cerca E 20 bilhões de faturamento, mais a especialista em softwares de gestão SAP, com uma receita global de E 23,5 bilhões, são algumas das gigantes que apostam na digitalização do campo no País. Iniciado desde o ano passado, o programa Digital Farming, da Bayer, é um exemplo dessa nova realidade. A empresa está introduzindo no campo o conceito de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). Ela vem testando armadilhas digitais inteligentes para monitorar pragas. “Esse programa já está sendo testado para o controle de plantas daninhas”, diz Ferreira Júnior. Essas armadilhas enviam os dados para programas de gestão de defensivos que estão armazenados na internet. A partir daí, podem ser traçadas estratégias de aplicação. Em uma linha semelhante, a SAP também vem desenvolvendo o IoT do campo. De acordo com Rafael Calijuri, diretor de Agronegócios da SAP, o programa de gestão da empresa é alimentado com informações vindas de máquinas agrícolas. Dados como a velocidade do vento e a quantidade de produto a ser distribuído no solo vão ajudando a máquina a fazer ajustes automáticos, no momento da operação. “O caminho é a automação dos processos”, diz Calijuri. “É o que vem tornando fácil o uso dessas novas tecnologias.”

Para a AGCO, dona das marcas Valtra e Massey Ferguson e de um faturamento de US$ 8,3 bilhões no ano passado, facilidade é justamente a palavra de ordem, segundo o administrador de empresas Alexandre Vinicius de Assis, diretor de Contas-Chave da companhia no País. “É por esse conceito que os produtores estão utilizando ao máximo o potencial das máquinas”, diz Assis. Um exemplo é o sistema de câmbio automatizado, presente em modelos da Valtra. A máquina faz toda a regulagem, de acordo com a velocidade. É menos trabalho para o operador e melhor retorno econômico. A inovação, lançada no ano passado, pode reduzir em até 30% o consumo de combustível. Comparando um trator de 230 cavalos de potência, arrastando um implemento de até 22 toneladas, pode consumir 8,5 litros por hora, em vez de 11 litros. “Isso é feito sem esforço do operador.”