O filme Interestelar, saga hollywoodiana que faturou US$ 188 milhões em 2014, conta uma história apocalíptica. Em um futuro sem data determinada, o fazendeiro Cooper encara a dura tarefa de manter a sua produção de milho em algum canto do meio oeste americano, enquanto uma praga vai devastando a agricultura mundo afora. Na trama, fazendeiros como Cooper são uma espécie de “bunker de resistência”, ajudados por um aparato tecnológico formado por potentes máquinas e tratores autônomos. “Fomos nós que preparamos a colhedeira usada no filme”, diz o engenheiro agrônomo Christian Gonzalez, diretor de marketing para a América Latina da multinacional americana Case IH. A empresa pertence ao grupo italiano CNH Industrial, que faturou US$ 26,4 bilhões em 2015. “Nesse caso, era uma máquina da linha de produtos, modificada para parecer autônoma.” Mas a ficção vai se tornando realidade. Desde o final de 2015, a companhia colocou para trabalhar no campo o seu primeiro protótipo de trator autônomo. E não é somente a Case IH que segue nessa corrida tecnológica. Novas má­­qui­­nas vão mu­dar a rotina das fazendas no futuro e as experiências estão começando agora. Entre tantas iniciativas, a marca alemã Fendt, por exemplo, do grupo americano AGCO, que faturou US$ 7,5 bilhões em 2015, está criando robôs para operações de plantio. Também estão nessa corrida as americanas New Holland e John Deere, e a alemã Claas, por exemplo.

“O protótipo é parte de um projeto global da Case IH, o The Road To Automation” christian gonzalez, da Case IH
“O protótipo é parte de um projeto global da Case IH, o The Road To Automation” christian gonzalez, da Case IH

No caso do trator da Case IH, ele é a primeira máquina agrícola do mundo sem a cabine do operador. Desenvolvido em parceria com a empresa americana Autonomous Solutions, o modelo, chamado Magnum, funciona a partir de comandos enviados por tablet. Munido de sensores e câmeras, ele permite que o produtor acompanhe toda a tarefa. “O protótipo é parte de um projeto global da Case IH, o The Road To Automation”, diz Gonzalez. “Apostamos na inovação autônoma por ser um caminho inevitável para o setor.” O trator já foi testado secretamente por um produtor de grãos do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos, mas a máquina só deverá ser vendida em dez anos, por falta de regulamentações de mercado. Por enquanto, ela começa a ser mostrada aos produtores. Em agosto do ano passado, a Case fez sua primeira apresentação na Farm Progress Show, em Iwoa, uma das mais importantes feiras agrícolas do país. No mês passado, o trator estava na França, na Paris International Agribusinnes Show (Sima), um evento gigantesco do setor. “Também colocamos o Brasil na nossa agenda”, diz Gonzalez. “Estamos estudando em qual grande feira apresentá-lo”.

Máquinas autônomas poderão representar mais ganhos ao produtor, em função da inevitável diminuição mundial de mão de obra para a agricultura. O campo deve seguir o mesmo movimento de automação ocorrido na indústria pesada, nas últimas décadas do século 20, quando vários serviços passaram a ser executados por robôs. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), mostram que o número de trabalhadores no campo diminuiu 85,4% de 2005 até 2014, chegando a 121 milhões de pessoas. “Por isso a automação é um investimento promissor”, diz Gonzalez. Para a consultoria americana Tractica A­gri­cultural Robots Report, o mercado de tratores autônomos será de US$ 30,7 bilhões em 2024. Isso representa 18% do mercado global de máquinas de 2016, que foi de US$ 170 bi­lhões, segundo a consultoria Transparency Market Research. Já a previsão da receita global com a venda de máquinas para os próximos cinco anos é crescer 65%, chegando a US$ 281,6 bilhões.

A Fendt, que busca uma fatia desse mercado, está apostando em pequenos robôs para as operações nas lavouras. O vice-presidente global Fuse da AGCO, Matt Rushing, diz que no futuro, as propriedades rurais poderão aumentar significativamente sua sustentabilidade, produtividade e precisão além das soluções já existentes hoje.

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“Temos uma equipe trabalhando desde junho de 2015 no Projeto Mars”, diz Rushing. O equipamento, como um pequeno carro e com um pouco mais de meio metro de altura, faz o plantio, a fertilização e a aplicação de defensivos. A inovação é uma quebra de paradigma para o engenheiro agrônomo Rafael Antonio Costa, gerente de marketing da AGCO para a América Latina. “Máquinas grandes e maiores, são inevitáveis para o futuro da indústria”, diz Costa. “Mas é possível pensar também em modelos menores e que reduzem a compactação do solo”. Com essa tecnologia, no futuro os produtores poderão solicitar os serviços de plantio como já faz com a colheita, alugando máquinas. A tendência é empresas terem esses robôs para oferecer o serviço aos produtores. “Seria como solicitar a tarefa de plantio, como se pede hoje um carro pelo Uber.”