11/05/2017 - 13:09
Na tarde do dia 27 de março, uma colhedora de grãos pegou fogo no município de Capinzal, no interior do Estado de Santa Catarina. O produtor saiu ileso, porque foi apenas um princípio de incêndio combatido a tempo por uma equipe de bombeiros. A mesma sorte não teve um fazendeiro de Bandeirantes (MS), dois dias antes. O agricultor perdeu parte de sua lavoura de milho, depois de perceber, tarde demais, que sua colhedora estava em chamas. Nesta época do ano, tempo de colheita intensa no campo, notícias como essas são frequentes e mostram que não é incomum tomar prejuízos por fatores adversos e imprevisíveis, como os acidentes com os equipamentos. “Não é só o fogo que está nesta lista de estragos”, afirma Daniel Veneziani Kozma, gerente técnico de seguros patrimoniais rurais do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, que faturou R$ 15,8 bilhões em prêmios emitidos no ano passado. “Colisão e tombamento estão entre os principais riscos para os donos de máquinas agrícolas.”
A saída, cada vez mais, tem sido apostar em apólices de seguro que cobrem esses riscos. Não por acaso, de acordo com dados do mercado, o seguro para benfeitorias e produtos agropecuários tem avançado no País. São instrumentos financeiros para proteger-se de perdas com equipamentos de alto valor, como colhedeiras que podem custar R$ 1,5 milhão. Em dez anos, esse ramo de cobertura cresceu 286%, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), ligada ao Ministério da Fazenda. No ano passado, foram R$ 239,8 milhões em prêmios, valor equivalente a 6,6% do total movimentado no mercado de seguro rural no País. Além das colhedeiras e tratores, os planos podem proteger pulverizadores e plantadeiras, bem como equipamentos fixos como silos, armazéns e aviários. O crescimento do setor de seguros tem ocorrido mesmo com as máquinas e equipamentos fora da área de abrangência do Programa de Subvenção ao Prêmio, que é monitorado pelo governo federal. De acordo com o engenheiro agrônomo Márcio Martinati, gerente de produtos rurais da seguradora Tokio Marine e membro da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg), esse setor conta com a isenção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “Hoje são 17 companhias que oferecem a proteção para as máquinas agrícolas”, diz Martinati. “Grande parte da carteira dessas empresas é para equipamentos financiados por crédito rural e vem apresentando crescimento médio de 8% nos últimos três anos.”
De acordo com Kozma, o setor tem crescido sobre dois pilares: a exigência dos financiadores, no momento da compra de maquinários, e também por causa da percepção do produtor sobre o benefício do instrumento. “O produtor tem feito essa opção por conta própria, porque percebe a importância na gestão de seu negócio”, afirma ele. No ano passado, R$ 203,9 milhões, valor equivalente a 85% do total dos prêmios emitidos, foram revertertidos para o pagamento dos sinistros (ocorrências) previstos nas apólices.
Entre as empresas, a BB Mafre domina o mercado. No ano passado, o segmento do agronegócio da seguradora movimentou R$ 2,7 bilhões, valor equivalente a 17% dos prêmios emitidos pela empresa. Em seguida vem a japonesa Sompo, a brasileira Bradesco, a alemã Allianz e a suíça Swiss Re. Os planos oferecidos são bem variados: cobrem roubo, tombamentos, colisões, pane por queda de raio, além de incêndio e explosões. Em relação ao preço da apólice, dependendo do tipo de máquina, o perfil do produtor e a inclusão de coberturas adicionais, como serviços de conserto, as taxas médias podem variar de 0,06% a 2% sobre o valor do equipamento. A apólice para uma colhedeira de grãos de R$ 1,5 milhão, por exemplo, pode sair por cerca de R$ 30 mil a uma taxa de 2%. “Esse exemplo de taxa se refere a um bom pacote de seguro, com coberturas adicionais incluídas”, diz Kozma.
Na avaliação de Martinati, uma ferramenta que está sendo criada pela Fenseg deverá ajudar na difusão desse nicho de seguros. A entidade está elaborando uma tabela padrão para os equipamentos, que facilitará na definição das taxas pagas às seguradoras, tornando o risco dos equipamentos mais conhecido. “Não há nada parecido com isso para as máquinas agrícolas”, diz ele. “A dificuldade em estabelecer parâmetros de preço ocorre porque as máquinas não possuem um número de Registro Nacional de Veículos Automotores e nenhum outro número padrão que identifique as características de marcas, modelos, potência, tração e suas características”. A tabela de referência também pode ajudar as seguradoras, que estão ávidas na busca de novas formas de avaliação e precificação do risco, onde a tecnologia tem oferecido ao mercado uma constante modernização dos equipamentos, como o uso de GPS e de piloto automático, entre outras ferramentas.