13/06/2021 - 7:00
Vice-presidente da República nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel morreu na madrugada de ontem, aos 80 anos, em Brasília, em decorrência de quadro infeccioso respiratório. Ele lutava havia sete anos contra o Alzheimer e estava internado desde o dia 30 de março no Hospital DF Star. De perfil conciliador, o recifense foi deputado estadual, federal, senador e governador de Pernambuco, além de ministro da Educação e da Casa Civil.
Marco Maciel teve sua carreira marcada pela discrição e pela habilidade como articulador político, inclusive no processo de redemocratização do País. FHC destacou a lealdade do seu vice e outros nomes da política apontaram a integridade como sua principal qualidade. “Se me pedirem uma palavra para caracterizá-lo, diria: lealdade”, disse o ex-presidente. “Viajei muito, sem preocupações: Marco exercia com competência e discrição as funções que lhe correspondiam. Deixa saudades.”
ACM Neto, presidente do DEM, ex-PFL, partido que Maciel ajudou a fundar, afirmou que ele foi uma “liderança capaz de motivar políticos de todas as idades”. “Com sua exemplar atuação na vida pública, escreveu uma história irretocável de dedicação ao nosso País.”
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), ressaltou o perfil conciliador do “professor e conselheiro”. “Era um verdadeiro estadista, cuja biografia deve servir como exemplo para o Brasil, especialmente neste momento tão tristemente marcado pelo acirramento ideológico e pela cega confrontação.”
Biografia. Marco Antônio de Oliveira Maciel nasceu em 21 de julho de 1940, no Recife, em Pernambuco, e seguiu os passos do pai na política. O perfil conciliador, lembra o jornalista Angelo Castelo Branco, autor do livro de notas bibliográficas Marco Maciel: Um Artífice do Entendimento (Editora Cepe), formou-se já nos tempos de estudante.
Maciel era aluno de Direito da Universidade Federal de Pernambuco e, no início da década de 1960, se candidatou à presidência do diretório estudantil do Estado. “De centro-direita, se candidatou contra o grupo de esquerda”, afirma o jornalista. “Ele resolveu visitar todas as faculdades da cidade para fazer seu discurso, mesmo as que eram reacionárias a ele. Maciel foi à faculdade de Arquitetura, que tinha muitos estudantes de esquerda, para discursar. Acabou sendo eleito.”
Filiou-se ao partido Arena, que dava sustentação à ditadura militar, e, em 1967, foi eleito deputado estadual. Em 1971, chegou à Câmara e, em 1976, tornou-se presidente da Casa.
À frente do Legislativo, participou de momentos políticos e históricos conturbados para o País, como o período de fechamento do Congresso pelo então presidente Ernesto Geisel, em 1977. Castelo Branco relembra que Maciel minimizou o episódio. “Ele dizia que na política às vezes era necessário dar três passos para trás para depois dar dez para a frente. Maciel viu o episódio como um recuo para depois ter um avanço.”
Já em meados da década de 1980, se associou a Tancredo Neves, Aureliano Chaves e Ulysses Guimarães em prol de um projeto de redemocratização. No período de maior destaque da sua carreira política, Maciel foi eleito vice-presidente pelo PFL, atual DEM, por dois mandatos, de 1995 a 2003.
Repercussão. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), divulgou nota de pesar pela morte de Maciel. “Sua partida inflige enorme perda para a política brasileira e a arte da conciliação.” O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), definiu Maciel como um “homem de espírito público, aberto ao diálogo, um democrata”.
O vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que Maciel “contribuiu para o engrandecimento do Brasil, sempre pautado pela ética e probidade”.
O corpo de Marco Maciel foi velado no Salão Negro do Senado e enterrado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Ele deixa a mulher, Anna Maria Maciel, e três filhos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.