No final de agosto, a BRF S.A. anunciou a renúncia de seu presidente global, Lorival Luz, que estava no cargo desde junho de 2019. O mesmo comunicado já trazia o nome de quem entraria em seu lugar: Miguel Gularte, que até então era o CEO da Marfrig Global Foods S.A. para América do Sul, função que ocupava desde julho de 2018. A Marfrig também informou sua movimentação nessa dança das cadeiras. Rui Mendonça Junior, que estava à frente da diretoria de Industrializados, assumiu a posição deixada por Gularte. Teoricamente, seriam trocas que acontecem em qualquer segmento, mas nesse caso há um tempero a mais.

ESTRATÉGIA Marcos Molina é fundador da Marfrig e preside o Conselho de Administração da BRF (Crédito:Silvia Costanti)

Assim que as mudanças foram divulgadas, o mercado passou a especular sobre a possibilidade de uma fusão entre as empresas. Por se tratar de duas das principais indústrias globais de proteína animal, a confirmação da notícia mudaria o foco do quadro corporativo para o calor da concorrência no setor. O que, de imediato, não chegaria a ameaçar a liderança da JBS S.A. Ao menos com base no relatório de resultados das empresas no segundo trimestre de 2022. A receita líquida da JBS, R$ 92,2 bilhões, é quase o dobro da soma de Marfrig, que registrou R$ 34,5 bilhões, com a BRF (R$ 12,9 bilhões).

Mas não é por acaso que a suposta fusão voltou a ser cogitada. O assunto parece estar na chapa, com fogo baixo, só aguardando o ponto certo, desde que a Marfrig, maior produtora global de hambúrgueres, com capacidade de produzir 244 mil toneladas por ano, assumiu 33,27% do controle da BRF, se tornando a principal acionista da dona das marcas Sadia e Perdigão. Além disso, o fundador da Marfrig, Marcos Molina, virou presidente do Conselho Administrativo da BRF, o que foi visto pelo setor como um avanço estratégico na direção de uma junção. Sem a confirmação, o tema segue no campo da especulação.

EXPECTATIVA Para o mercado, experiência de Miguel Gularte pode dar agilidade à gestão da nova casa, a BRF (Crédito:Divulgação)

CURRÍCULO O que não faz parte da suposição nos negócios é a competência profissional dos executivos. A experiência de Gularte no setor de carnes, com ênfase no mercado internacional, já soma quase 40 anos. Sua carreira começou pela Cooperativa Industrial de Carnes e Derivados (Cicade), no Rio Grande do Sul; teve o comando do frigorífico PUL, no Uruguai; a vice-presidência internacional da Minerva; e a presidência da JBS Mercosul. Por conta desse histórico, a equipe de Research da XP Investimentos, acredita que o executivo “deva ser capaz de tornar a BRF mais ágil, eliminando a inércia incômoda que era responsável por oportunidades perdidas no passado da empresa”.
Já Mendonça, que completou quatro décadas atuando no setor de carne bovina, está na Marfrig desde 2007. Passou a dirigir o setor de industrializados em 2017 e, entre o período de 2018 até essa mudança, a participação da área na receita da companhia na América do Sul passou de 5% para 15%. Agora, como costuma se dizer, o sarrafo subiu, pois o desafio ganhou novas proporções. A receita líquida da operação como um todo foi de R$ 7,1 bilhões no segundo trimestre de 2022, o maior índice na história da companhia para um período de três meses. De lado a lado, tudo indica que vai ter mais brasa sob a grelha.

DESAFIO Rui Mendonça é o CEO da Marfrig América do Sul (Crédito:Gustavo Pitta)