Ainda no gramado do estádio de Le Havre (França), após a seleção feminina do Brasil ser eliminada pelas anfitriãs nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2019, Marta se emocionou. A craque pediu que as jogadoras mais jovens aproveitassem o novo momento que se avizinhava para o futebol feminino, fruto do sucesso de audiência da competição. Segundo a Federação Internacional de Futebol (Fifa), foram cerca de 1,1 bilhão de telespectadores no planeta. Por aqui, só a final (que nem teve a seleção brasileira em campo) alcançou cerca de 20 milhões de pessoas, um recorde global.

Um ano e meio depois, Marta não tem dúvidas de que o cenário da modalidade de fato avançou. De lá para cá, já foram realizadas duas edições dos Campeonatos Brasileiros sub-16 e sub-18 (a de 2020 ainda está em andamento), as equipes nacionais de base têm sido acompanhadas de perto pela técnica Pia Sundhage e a seleção feminina principal teve premiações e diárias equiparadas às da masculina.

“Sem dúvidas, tudo que aconteceu em torno da Copa, durante e depois, tem sido de grande importância. As coisas realmente estão mudando, mas a gente, como brasileira, sabe que o povo é muito exigente e espera resultados expressivos da noite para o dia. Isso não acontece. Só acontecerá com trabalho e planejamento. Estamos no caminho certo. Temos hoje no Brasil grandes clubes, de nome, investindo na base, isso é importante. Precisamos de renovação, caras novas. A Pia tem feito isso muito bem”, declarou Marta em entrevista coletiva por videoconferência nesta sexta-feira (19)

A camisa 10 integra a seleção brasileira no She Believes, torneio amistoso disputado em Orlando (Estados Unidos) e que serve de preparação para a Olimpíada de Tóquio (Japão). Na última quinta-feira (18), a craque abriu o placar na goleada por 4 a 1 sobre a Argentina. Neste domingo (21), o desafio será contra as anfitriãs, atuais campeãs mundiais, às 17h (horário de Brasília). Pia ainda não confirmou o time que iniciará a partida. No que depender de Marta, um duelo deste tamanho tem grande papel na renovação do escrete canarinho.

“Algumas meninas nunca estiveram aqui [em uma competição pela seleção brasileira] ou não tiveram oportunidade de jogar grandes jogos como o de agora, especificamente contra a seleção dos Estados Unidos, considerada a melhor do mundo. É nesses jogos que vamos lapidando as atletas. Elas têm de passar por essas situações, como eu passei, quando tinha 16 anos”, comentou a craque do Brasil.

Entre as 25 convocadas de Pia para o She Believes, somente a zagueira Tainara e a meia Ivana Fuso ainda não haviam atuado pela seleção brasileira principal. A defensora de 21 anos foi titular contra a Argentina, enquanto a meia de 19 anos entrou no segundo tempo. Na relação de atletas que integra a delegação em Orlando, a meia Julia Bianchi, de 23 anos, e a atacante Giovana Queiroz, de 18 anos, vestiram a amarelinha pela primeira vez durante a “era Pia”, iniciada em agosto de 2019.

Ataque e defesa

Diante das argentinas, Marta chamou atenção por não atuar apenas ofensivamente, na ligação entre o meio de campo e as atacantes Debinha e Bia Zaneratto, mas também recuar para auxiliar a marcação. A tarefa defensiva é uma das demandas do estilo de jogo de compactação e intensidade que Pia tenta implantar na equipe canarinho. A camisa 10 esteve em sete jogos da seleção brasileira sob comando da sueca, com dois gols.

“Já exerci essa função em outras ocasiões na seleção brasileira, mas, talvez, sem essa questão de defender tanto quanto atacar. É o que a Pia nos coloca, de ter a vontade de correr, de defender. Sinto que tenho condições de contribuir, ter o contato com as meninas que estão chegando, mostrar a elas um caminho a seguir e me doar 100%, aprendendo o tempo inteiro. Acredito que é importante manter essa vontade para levar a vida de atleta por muitos anos, como a Formiga”, destacou Marta, em menção à volante de 42 anos, que não foi liberada pelo PSG (França) para o She Believes.

Feliz aniversário

Por falar em idade, Marta celebrou nesta quinta-feira o aniversário de 35 anos. No fim da entrevista coletiva, realizada por videoconferência, a craque foi surpreendida pela participação online da mãe, dona Tereza, e da madrinha, dona Riso, direto de Alagoas, terra natal da brasileira eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo. As mensagens, emocionadas, também levaram a meia-atacante às lágrimas, ainda que ela tentasse disfarçar.

“Mãe, não posso chorar, estou maquiada [risos]. Madrinha, estamos ao vivo [risos]. São as minhas mães, meus amores de toda a vida, que moram no coração. Ô povo para chorar, esse de Alagoas [risos]”, brincou Marta.