MARCELO SCHUNN DINIZ JUNQUEIRA, é engenheiro agrônomo e CEO da Clean Energy Brazil

Desde a época do Pró-Álcool nunca se falou tanto sobre etanol. Na década de 1970, o combustível foi a salvação da primeira grave crise energética do Brasil. Aos poucos, o petróleo retomou seu posto e o pobre combustível tupiniquim foi relegado a uma quase nobre insignificância, mas um herói, mesmo enfraquecido, nunca deixaria de ser um herói. As reservas naturais de petróleo já começam a dar sinais de cansaço, o preço do barril aumenta a cada pregão, o que eleva ainda mais o preço na bomba para o consumidor, que é quem paga a conta. Todas essas peças já comporiam um cenário perfeito para o surgimento de uma via alternativa, mas não bastou. Com mudanças bruscas na temperatura do planeta e fenômenos naturais que assolam cidades, o meio ambiente dá sinais de que algo precisa mudar, e rápido.

 

ENERGIA DO CAMPO: no Brasil não compete com os alimentos

Como em todas as histórias de bandidos e mocinhos, por diversas vezes o mocinho é interpretado como um oportunista, que lança mão da desgraça alheia para agregar valor ao seu poder. Com o etanol não poderia ser diferente. A bola da vez foi a crise dos alimentos e declarações sem fundamentação técnica publicadas na imprensa tentaram em vão fazer uma relação direta entre a produção de biocombustíveis e o aumento de preço dos alimentos.

Há inúmeros fatos que refutam tais afirmações. Em primeiro lugar, há uma crescente demanda no consumo de alimentos, impulsionada por países como China e Índia, junto com um aumento da população mundial e a uma elevação de renda das nações emergentes. Para se ter uma idéia, nos últimos 200 anos a população mundial saltou de 957 milhões para 6,7 bilhões. E em 2050 seremos nove bilhões de habitantes. Com o crescimento populacional aumenta também o desafio de se produzir cada vez mais.

Outro ponto que, sem dúvida, interfere no custo dos alimentos é o preço do petróleo, utilizado como matériaprima para grande parte dos combustíveis utilizados no maquinário agrícola, no transporte de alimentos e na produção de fertilizantes.

Utilizar o argumento que incrimina o etanol de milho e da cana funcionaúlria como um belo susto àqueles que pensavam em investir no setor. Mas essa argumentação não funcionou. Prova disso é um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrando que os investimentos externos diretos nas atividades agrícolas cresceram mais que em outros setores da economia. Nos últimos sete anos, o total de investimentos saltou de 2,3% para 13,8%.

A vantagem do Brasil está latente. O potencial do País pode conduzi-lo ao papel de um dos mais importantes players desse mercado. Afinal, projeções indicam que o País deve liderar o mercado. As condições são ideais em todos os sentidos. Maior fronteira agrícola do mundo, com terras férteis e vasta área para o cultivo, clima e relevo adequados, know-how que vem evoluindo desde o Brasil colonial e um forte aporte de investimentos externos.

O setor sucroalcooleiro no Brasil vem se preparando para um novo patamar de crescimento, com uma maior profissionalização na gestão das usinas, diversificação de investimentos como a co-geração de energia elétrica a partir do bagaço da cana, busca constante por inovações tecnológicas no canavial, fusões, aquisições, IPOs, processo de governança corporativa, entre outras práticas que dão credibilidade ao mercado.

Fica claro que não se trata apenas de uma questão de evitar a fome mundial, mas de um verdadeiro pânico e contra-ataque diante da ameaça do biocombustível brasileiro. Para quem não acreditava no Brasil, observe os heróis e guerrilheiros angustiados com o canto do Macunaíma.

“O Brasil possui as condições ideais para liderar o mercado de biocombustíveis”