Otítulo deste artigo é um questionamento que aparece nas mais diferentes ocasiões, ao se tomar como base a economia brasileira. A essa indagação, é preciso responder com outra: de que agronegócio estamos falando? Afinal, são muitos os segmentos e distintas as realidades.

De fato, os indicadores macroeconômicos do setor vão bem, especialmente se comparados à economia como um todo. No comércio exterior, os últimos 12 meses registram superávit de US$ 78 bilhões. No resultado do PIB de 2015, a atividade agropecuária registrou crescimento de 1,8%, ante uma retração de 3,8% do País como um todo. Além disso, a valorização do dólar compensou de modo importante, ao menos até a safra passada, a queda nas cotações internacionais das principais commodities produzidas pelo Brasil. Não há dúvida de que dessas informações deriva o senso comum de que tudo vai muito bem com a agropecuária.

Então, apesar de alguns períodos de melhoria, por que a confiança do agronegócio apresenta uma trajetória clara e muito bem definida de queda, desde que ela começou a ser medida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em 2013? Em um primeiro momento, essa queda pode parecer uma grande contradição, mas não é. Os números macro não mostram o que os indicadores de confiança conseguem captar.  Isso porque ela trata das expectativas, embasadas em fatos concretos ou emocionais, que determinam comportamentos e decisões relativos ao negócio. Observando os dados com atenção, se por um lado permanece em alta a avaliação do produtor agropecuário sobre o seu próprio negócio e o setor em que atua, por outro, o receio quanto à economia e à política é grande, a ponto de fazê-lo agir como qualquer consumidor assalariado. Sem a certeza do que acontecerá, o produtor coloca o pé no freio e reavalia as suas compras: nesse caso, o custeio e os investimentos.


De olho no clima:  intempéries e menos uso de insumos na lavoura levaram à reducão da safra

O resultado disso é uma redução no pacote tecnológico utilizado na lavoura, com reflexos importantes no agronegócio, mais especificamente nas indústrias de insumos. O ano de 2015 foi de resultados ruins para vários segmentos: o de defensivos registrou queda de 22% no faturamento; fertilizantes tiveram retração de 6% nas entregas; e as máquinas e implementos agrícolas sofreram recuo de 30% nas vendas, sobre um percentual negativo de 16% em 2014, sendo que, em 2016, já acumulam um tombo de 30,9% no primeiro semestre do ano.

Dessa forma, apesar do enorme cuidado dos produtores na gestão agronômica da propriedade na última safra, o menor uso dos insumos, aliado aos problemas climáticos enfrentados na condução da lavoura, levou a uma redução na safra brasileira de grãos em relação ao ciclo anterior, depois de seis anos consecutivos de alta, segundo o relatório divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento.

Na outra ponta, a indústria de alimentos, apenada recentemente com o aumentos de impostos,  como o IPI, vê os consumidores mudando suas escolhas para produtos menos elaborados. Itens básicos, como o óleo de soja e a farinha de trigo, fundamentais para o preparo das refeições, já apresentam retração nas vendas. Os números mais recentes sobre a comercialização de produtos alimentícios em 2015, medida pelo IBGE, registraram recuo de 2,5%, o que representa o pior resultado desde 2003. Fica claro que o agronegócio não está alheio ao que acontece na economia brasileira. Neste exato momento, por exemplo, a forte volatilidade do dólar frente ao real lança dúvidas e incertezas. Não podemos perder competitividade em nível internacional.

Portanto, é preciso cuidado na análise de um setor tão complexo. Misturar em um mesmo balaio produtos como soja, etanol, laranja, máquinas agrícolas, defensivos e a indústria exportadora de alimentos, com as atividades voltadas ao mercado doméstico, é garantia de erro de avaliação. É possível que o encaminhamento do cenário político e o início da gestão do presidente em exercício Michel Temer, tenham a capacidade de modificar os baixos níveis de confiança. O aumento verificado nas entregas de fertilizantes em 2016 pode ser um bom indicativo nesse sentido. De qualquer forma, para completar a resposta à pergunta acima, seria bom acrescentar: poderia estar melhor, bem melhor.