O que nasceu primeiro, a bandeja de ovos ou a galinha? De onde vem o leite, da vaca ou da caixinha? Com quantos litros de água se faz um bom café, do plantio até a “xicrinha”? Chef ou agricultor, quem é o popstar da cozinha?
Se lançadas a público e por mais óbvias que possam parecer, algumas das repostas a estas perguntas poderiam contrariar o senso comum da cadeia produtiva e abrir espaço para a discussão em torno da educação para a alimentação e a maior aproximação de consumidores finais ao cotidiano agrícola.
Tempera ainda mais esta reflexão o fato de estarmos presenciando no Brasil o crescimento de uma cultura gastronômica e movimentos em busca de bem-estar por meio de alimentos saudáveis, mas, que por muitas vezes, deixam de lado o principal responsável pela sua refeição, o produtor rural. Afinal, o que seria da obra-prima de um master chef sem a dedicação de um top farmer?
Cafeterias gourmet, cervejarias artesanais, açougues boutique e empórios de orgânicos são exemplos que colocaram o alimento em outro patamar de consumo no país e, neste contexto, produtores e agentes do agronegócio podem contribuir em muito para que o conhecimento seja o item principal deste cardápio, levando o saber do campo ao garfo.
Recursos como a rastreabilidade e a integração entre produção e varejo já permitem o acesso a dados da origem do alimento, a que tipo de insumos foram aplicados em seu cultivo e que certificações atestam sua qualidade e manejo sustentável. Mas, o principal e não menos importante, identificam qual produtor esteve à frente do desafio de transformar horas de trabalho numa experiência que proporciona sabor e nutrição.
O desafio aqui é tornar estas informações palatáveis para a grande massa, colocando a produção rural em seu devido lugar como a estrela principal do negócio da alimentação. Uma variedade de reality shows gastronômicos, encontros de food trucks, resenhas de food lovers ou vídeos de youtubers já têm revelado os segredos da cozinha e contribuído para tornar a culinária acessível a todos. Porém, a democratização da comida não pode se limitar apenas ao menu da mídia e das redes sociais.
Acesso a alimentação também deve levar em conta a disponibilidade e a redução do desperdício, onde a educação é fator fundamental para a mudança de comportamentos. Prova disso é a iniciativa do Banco de Alimentos, ONG que arrecada e redistribui por mês, em média, mais de trinta toneladas de alimentos que seriam destinados ao descarte. Não fosse pelo trabalho didático junto aos estabelecimentos envolvidos, certamente esta instituição não teria muito o que arrecadar.
A vida saudável é outro aspecto em que a educação alimentar faz a diferença. Como bem ilustrado no documentário Muito Além do Peso, há uma consequência da falta de equilíbrio na alimentação das crianças e no impacto direto na saúde do adulto que ela se tornará no futuro. Abordando principalmente a obesidade infantil, o enredo também apresenta o curioso fato de muitas crianças desconhecerem aquilo que consomem, com dificuldade de identificarem legumes e frutas apresentados pelo entrevistador.
No entanto, este não é um fenômeno presente apenas nas mesas brasileiras. Num levantamento feito em maio de 2016 pela organização britânica LEAF – Linking Environment And Farming – de um grupo de dois mil adultos entrevistados 51% não conseguiu relacionar a vaca como a origem da manteiga, 23% deste mesmo público desconheciam o porco como a fonte do bacon e 22% não sabiam que os ovos vinham das galinhas.
Educação e tecnologia andam de mãos dadas e podem servir como ponte para diminuir este espaço entre campo e cidades. Startups e agtechs que contribuem com a extensão rural também poderiam aplicar sua expertise para difundir a educação para os alimentos.
Uma das oportunidades é a gamificação, conceito pedagógico baseado em tecnologia e jogos (games), que se mostra como uma das mais importantes tendências de ensino para crianças e adultos. Imagine a receita bem-servida que seria unir smartphones e realidade aumentada para entreter e educar pais e filhos à mesa, numa jornada lúdica em busca de vitaminas e nutrientes, tendo a saúde como recompensa.
Você é o que você come. Se esta sopa de letrinhas te abriu o apetite, aproveite para estimular o paladar com novos conteúdos e alimentar o conhecimento em sua próxima refeição. Procure saber de onde veio a sua comida, seus benefícios nutricionais e funcionais, assim como quem fez parte da cadeia que a tornou disponível. Bon appétit!