O melão foi a fruta mais exportada pelo Brasil no primeiro semestre deste ano. Foram aproximadamente 118 mil toneladas, tendo a Europa como principal destino. Em 2024, encerrou o ano na segunda posição da lista das mais exportadas, com 243 mil toneladas, atrás apenas da manga com 260 mil toneladas.

+Manga é a fruta mais exportada pelo Brasil, sendo os EUA um dos principais destinos

O Brasil é o terceiro maior exportador de melão do mundo, considerando todas as variedades, mas ocupa a oitava posição entre os que mais produzem a fruta, o que, segundo os produtores, evidencia o baixo consumo interno.

Carlo Porro, CEO da Agrícola Famosa, uma das maiores produtoras e exportadoras da fruta no mundo, aponta que o mercado brasileiro ainda “não conhece o melão”.

“Para você consumir melão da maneira adequada no Brasil, é preciso manter toda a cadeia de frio, diferentemente da Europa. Aqui, quando a fruta chega à gôndola, essa cadeia de frio (transporte refrigerado) acaba sendo quebrada e ela perde qualidade. O consumidor, então, não tem a experiência adequada por conta de um problema de infraestrutura da própria distribuição brasileira”, explica.

Apesar disso, o cultivo é essencial para a agricultura brasileira, sobretudo no Nordeste. No Rio Grande do Norte, estado que mais produz a fruta no país e responsável por 70% de todo o melão plantado e comercializado no Brasil, mais de 20 mil pessoas trabalham no setor.

A Famosa se estabeleceu na região e hoje colhe em média 1 milhão de frutos por dia, em uma área cultivada que ultrapassa os 11 mil hectares.

Com sede principal entre os municípios de Mossoró (RN) e Icapuí (CE), a Agrícola Famosa administra uma área total superior a 30 mil hectares em quatro estados do Nordeste, onde além do melão, cultiva melancias e uvas.

Em 2024, a empresa realizou a aquisição da espanhola El Abuelo. Com isso, a produção anual combinada da companhia está projetada para atingir entre 350 mil e 380 mil toneladas. A projeção é de que o grupo atinja um faturamento de 1,3 bilhão de euros.

A produção é altamente voltada para a exportação, com 75% da colheita destinada à Europa. Segundo CEO, o market share da empresa no continente já chega a 70% durante a safra brasileira (entre agosto e março).

As tarifas dos Estados Unidos não são um grande problema para a empresa, segundo Porro. Ele explica que as exportações para lá ainda são pequenas em comparação a outros países e que, caso os americanos queiram o produto, terão que pagar mais.

“A gente vem investindo no mercado americano nos últimos anos, colocando frutas premium. Este ano tínhamos uma previsão de 300 contêineres para os Estados Unidos, que dentro do nosso universo é pouco. Estamos agora em conversa com os distribuidores americanos, porque não temos como assumir esse custo do tarifaço. Então, se eles quiserem a nossa fruta, vão ter que pagar mais. Mas, se tivermos que abortar o projeto por um ou dois anos até essa situação se resolver, não nos afeta”, explica.

Fazenda Agrícola Famosa (Crédito: Divulgaçao)

Melão amarelo é o favorito dos brasileiros

No Brasil, o melão amarelo domina a produção nacional, com mais de 90% dela, sendo o mais consumido internamente. Na Europa, quem ganha espaço é o Pele de Sapo, enquanto o melão cantaloupe atende principalmente ao mercado dos Estados Unidos.

Para Gabriel Bittencourt, da Seção de Qualidade Hortigranjeira da Ceagesp, não é fácil alterar os hábitos dos consumidores e ampliar o consumo de outras variedades de melão no Brasil.

Melão amarelo, Melão Pele de Sapo e Melão Cantaloupe (Crédito: Ceagesp/Freepik)

“O Pele de Sapo apresenta sabor superior ao amarelo, mas o Amarelo está no mercado há muitas décadas e é amplamente reconhecido pelo público. Mudar hábitos tão consolidados não é tarefa simples”, explica.

Ele aponta que melões do grupo Cantalupensis, como cantaloupe, charentais e gália, enfrentam maior dificuldade no Brasil devido à menor resistência ao armazenamento sem refrigeração.

*Estagiário sob supervisão