06/10/2022 - 12:54
A Boa Safra Sementes, que tem sede em Formosa (GO), inaugurou oficialmente um centro de distribuição em Sorriso (MT), unidade com capacidade de estocagem de 40 mil big bags, sendo que cada uma comporta em média uma tonelada de sementes. Além da função estratégica no atendimento ao cliente, oferecendo mais agilidade e amplitude logística, a nova instalação é uma representação de quão positiva tem sido a entrada da empresa na B3, a bolsa de valores brasileira, por duas vezes. A primeira, com a abertura de capital em abril do ano passado, que injetou recursos para tocar o plano de expansão de ter operação nas principais regiões produtoras do País. E a segunda, em agosto último, com a estreia de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), em parceria com a Suno Asset, gestora do Grupo Suno. O terreno que abriga o CD de Sorriso é um dos ativos desse Fiagro.
Empresa teve seu melhor faturamento em 2022: R$ 1 bilhão
Mais do que um novo passo na expansão da Boa Safra, que já é a maior produtora nacional de sementes de soja, com 6% de market share, essa inauguração é uma conquista pessoal e profissional dos irmãos Marino e Camila Stefani Colpo, respectivamente CEO e presidente do Conselho de Administração da empresa. “Quando eu tinha uns 15 anos, víamos nos jornais muitas notícias sobre IPOs e meu pai comentava que ‘empresário esperto chega na bolsa’”, disse Marino, que transformou aquela frase em compromisso. “Falei para ele que chegaríamos lá, coloquei no papel e assinamos juntos, como um contrato.”
Ainda na adolescência, Marino foi incentivado por seu pai, Neri Colpo, a entender sobre economia e mercado financeiro. O executivo conta que recebia do pai as edições do extinto jornal Gazeta Mercantil para treinar interpretação de texto, pois em seguida passaria por uma chamada oral. “Comecei a gostar do jornal e passei a entender de economia.” O interesse avançou para a vida acadêmica, mas o empresário achou que se falava pouco sobre bolsa de valores na faculdade de economia e migrou para administração de empresas, graduação concluída pela UniCeub, em Brasília (DF). “Minha monografia foi sobre hedge de commodities”, afirmou. Marino também tem especialização em mercado financeiro pela Northwestern University de Chigaco (EUA).
SEMENTES Enquanto o irmão se encarrega da estratégia administrativa, Camila tem a responsabilidade de garantir a qualidade técnica da produção da Boa Safra. Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), tem pós-graduação em gestão de agronegócios pela UPIS, de Brasília, e em desenvolvimento humano de gestores pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). E completa o currículo com especialização em melhoramento genético de sementes de milho e girassol pela Syngenta, feita em Toulousse, na França.
Foi lá que Camila conheceu a produção de sementes de milho em câmara fria, técnica que acabou se tornando um diferencial da empresa, apesar dos olhares desconfiados no início. Segundo a dupla que comanda a Boa Safra, muita gente acreditava que o mercado não pagaria um preço diferenciado pela qualidade, por se tratar de um insumo mais barato. Com a estrutura pronta e o ganho de escala no alto padrão técnico, a demanda veio. Para se ter ideia, o relatório de resultados da empresa sobre o segundo semestre do ano mostrou R$ 831 milhões em carteira de pedidos, que passam a ser entregues a partir de setembro. O volume é 52% maior do que o registrado no mesmo período de 2021.
O próprio mercado suprimiu as dúvidas sobre o potencial das sementes com mais tecnologia. A crescente procura por sementes tratadas é prova disso, tanto que já responde por 30% a 35% da demanda, de acordo com os donos da Boa Safra. “E há muito espaço para crescer”, disse Camila. Segundo ela, como o preço dos insumos tem elevado o custo de produção das lavouras, o agricultor busca acertar mais. “E a semente é o início de tudo. Uma semente ruim não vai dar lavoura boa”, afirmou. O retorno financeiro está exatamente no aumento da produtividade, resultante dos ganhos em vigor e germinação. “O investimento rende mais sacas por hectare com melhor rentabilidade.” As análises de campo da Boa Safra na safra 2020/21 mostraram índice de vigor em 91,4% e de germinação em 94,9% em suas sementes.
FUTURO O rápido crescimento da Boa Safra, com resultados expressivos, tem se mostrado uma plataforma segura para os próximos passos. No ano passado, com receita líquida acima de R$ 1 bilhão, a empresa obteve lucro de R$ 128 milhões, quantia 82% superior à registrada em 2020. Esses números ainda são motivo de celebração, mas também de atenção, pois a régua tende a subir. Certamente, os 40 mil acionistas da companhia esperam performance no mínimo semelhante. É a direção que apontam os planos de expansão.
Desde a abertura de capital, a Boa Safra já concluiu quatro novas unidades: as plantas de Jaborandi (BA), Buritis (MG) e Cabeceiras (GO) e o CD de Sorriso. Mais duas estão em andamento, a unidade de beneficiamento de sementes em Primavera do Leste (MT) e o CD de Balsas (MA). Com toda essa infraestrutura pronta, a empresa pode fechar o ano com capacidade de produção de 170 mil big bags. Segundo Marino, o avanço dessas obras garante a oferta de sementes e resolve a questão da logística, um dos principais gargalos do setor. “Esses dois CDs são só o começo, temos mais dez planejados”, disse. Até 2026, o objetivo da companhia é concluir três obras por ano, sendo uma fábrica e dois CDs. “Ainda podemos crescer muito no extremo Norte e no Sul”, afirmou Marino.