07/11/2025 - 7:00
Clima e produção agrícola sempre andaram juntos — um impactando diretamente o outro e definindo o andamento das safras e o equilíbrio do mercado do campo. Com as mudanças climáticas cada vez mais presentes no cotidiano do agricultor brasileiro, as culturas mais resistentes a essas instabilidades tendem a ganhar espaço, como é o caso do girassol.
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Em sua mais recente previsão climática, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) estimou 71% de probabilidade de desenvolvimento do fenômeno La Niña já em outubro, podendo se estender até fevereiro de 2026.
Veja vídeo:
O fenômeno oceânico resfria as águas superficiais de parte do Pacífico e altera os padrões de temperatura e chuva em todo o planeta. No Brasil, ele é responsável por provocar estiagens no Centro-Sul, o que causa prejuízos expressivos a culturas como soja, milho e cana-de-açúcar, que dependem de temperaturas mais amenas e de um regime de chuvas bem distribuído ao longo do ciclo produtivo.
O milho, por exemplo, é uma cultura que demanda em torno de 600 milímetros de água. Já o girassol precisa de apenas 250 milímetros para se desenvolver — um diferencial importante em períodos de seca.
É nesse cenário que o cultivo de girassol vem ganhando força no país, sobretudo em sistemas de rotação com outras culturas.
Para Ana Luiza Scavone de Camargo, líder de Desenvolvimento de Novos Negócios nas Américas da Advanta Seeds, a rentabilidade é um dos fatores que podem atrair ainda mais produtores.
“Em períodos de poucas chuvas, o milho vai sofrer muito mais e o girassol muito menos. Então, há uma possibilidade de obter uma lucratividade maior com o girassol do que com o milho nessas condições. E quando falamos de aquecimento global e mudança no regime de chuvas — cada safra sendo diferente da outra — o girassol acaba se tornando uma opção interessante. E, quando olhamos para o Sul do Brasil, temos um cenário um pouco diferente”, aponta.
Segundo dados da Conab, na safra 2024/25, o Brasil contou com uma produção estimada de 104,4 mil toneladas de grãos, cultivados em 61,9 mil hectares, com produtividade média de 1.622 kg/ha — um aumento de 41,2% em relação ao ciclo anterior.
Outra importante característica do girassol é o ciclo curto, que varia entre 90 e 120 dias. Isso permite ao produtor maior flexibilidade no uso da terra, além da possibilidade de encaixá-lo entre as safras principais, como no inverno, após a soja ou o milho — aproveitando áreas que ficariam em pousio.
“Essa rotação gera outros benefícios diretos, pois melhora o perfil do solo, auxilia no controle de pragas e doenças e contribui para a sustentabilidade agrícola”, acrescenta Ana.
O óleo de girassol é amplamente utilizado na alimentação humana por ter sabor leve e baixo teor de gordura saturada, além de ser rico em ácidos graxos insaturados (ômega-6 e ômega-9) e vitamina E.
Além do uso alimentar, o produto é matéria-prima para cosméticos, sabões e biocombustíveis (biodiesel).
Espaço para crescer
Apesar do avanço recente, o girassol ainda tem muito espaço para crescer no Brasil. Uma boa comparação é com a Argentina, que cultiva aproximadamente 2 milhões de hectares — número muito superior aos 60 mil hectares plantados no território brasileiro.
O cultivo nacional se concentra majoritariamente no Cerrado, com o estado de Goiás na liderança da produção. O Valor Bruto da Produção (VBP) também vem crescendo: passou de R$ 94 mil em 2020 para R$ 171 mil em 2024, segundo dados do IBGE.
Por que o cultivo cresce
Raízes profundas: o girassol busca água em camadas mais baixas do solo, sendo uma opção interessante para regiões com chuvas irregulares ou sob influência de fenômenos como El Niño e La Niña.
Baixo custo e aproveitamento de áreas: pode ser plantado logo após a soja, sem competir com culturas principais, ajudando a manter a cobertura do solo e gerando renda extra ao produtor.
Mercado diversificado: o óleo de girassol tem alto valor comercial por ser considerado mais saudável, e o resíduo do grão (torta) é utilizado na alimentação animal.
Sustentabilidade: o cultivo contribui para a rotação de culturas e recuperação do solo, reduzindo pragas e melhorando a estrutura física da terra.
Os desafios
Apesar das vantagens, o girassol ainda enfrenta baixo investimento em pesquisa, escassez de sementes adaptadas e falta de políticas de incentivo.
Mesmo assim, o potencial é grande. A Embrapa aponta que o Brasil poderia multiplicar várias vezes a produção atual, especialmente com o cultivo integrado a sistemas de rotação com soja, milho e algodão.
