23/05/2020 - 8:05
Em fevereiro deste ano, quando o epicentro da epidemia do coronavírus ainda estava na China, o agricultor Valdir Fries, de Itambé, no Paraná, viu as exportações da soja brasileira despencarem e os preços caírem. “A saca baixou para R$ 80 na região, uma perda de R$ 5 por saca, devido à incerteza sobre o que poderia acontecer. Acreditamos que não era hora de se apavorar, esperávamos que fosse melhorar em abril ou maio, afinal o mundo precisa da soja brasileira. E foi o que aconteceu”, disse.
Naquele mês, ele conta que havia comercializado pouco mais de um terço da produção no mercado futuro. “Diante dos preços da época, o que fizemos de melhor foi aguardar a melhora dos preços internos e felizmente acabamos acertando”, disse. Puxado pelas importações asiáticas, o preço da soja subiu e o produtor não esconde a animação. “Vendemos agora acima de R$ 95, chegando a R$ 100 a saca na região. Não só eu, outros produtores também aproveitaram e venderam grande parte da soja disponível. O que nos resta da safra passada é muito pouco.”
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Aproveitando o momento de boa cotação, Fries já vendeu 40% da soja que vai produzir na safra 2020/21 no mercado futuro. “Na relação da troca com os insumos, o preço atual nos beneficiou. Com todo esse mercado favorável, grande parte da soja foi para incrementar a exportação que cresceu bastante. Com a desvalorização do real, os asiáticos estão aproveitando para comprar volumes maiores”, disse. O produtor lembra que o ganho se deve à valorização do dólar frente ao real. “Não fosse isso, estaríamos em situação difícil. O dólar caiu um pouco nos últimos dias, mas ainda está em um patamar bom para quem exporta.”
Fries cultiva 220 hectares de soja por safra no sítio Rancho da Mata, na região de Maringá, noroeste do Estado. Ele já prepara o próximo plantio. “Estamos com os insumos comprados para a próxima safra e vamos plantar mais soja. Há uma necessidade no mundo e principalmente dos asiáticos pela soja do Brasil. Com certeza, com a previsão de bom clima, vamos ter uma boa produção. A boa notícia de hoje (ontem), é que as chuvas estão chegando por aqui. O cenário é animador”, disse.
Carne
O crescimento nas exportações de carne evitou que os preços internos do boi sofressem desvalorização, como era a expectativa dos produtores no início da pandemia. Mas o criador precisa ficar atento à desvalorização do real frente ao dólar, alerta o pecuarista Higino Hernandes Neto, de Camapuã, no centro-oeste de Mato Grosso do Sul. “O frigorífico está pagando hoje R$ 172,50 por arroba, com o dólar a R$ 5,56, o que dá média de US$ 31 por arroba. Em maio do ano passado, a gente vendia nesse mesmo preço, mas com o dólar a R$ 3,80, o que fazia a mesma arroba valer US$ 45 dólares”, exemplificou.
O criador lembra que os insumos do gado são dolarizados, o que também aumenta os custos da produção. O custo alto fez com que Hernandes Neto desistisse de engordar bois em confinamento. “Colocar todo o insumo na boca do boi fica muito caro. Soja, milho e outros grãos também tiveram os preços puxados pela exportação e o custo do gado no cocho ficou muito alto.” O cenário incerto fez com que os frigoríficos deixassem de comprar boi no mercado a termo, com preço fixo para agosto ou setembro, o que deixa o mercado interno vagaroso, segundo ele.
Para melhorar a margem, o pecuarista investe na formação e venda de bois jovens para terminação, que saem a até R$ 250 a arroba. “Prefiro trabalhar com as duas coisas, mas ganho mais vendendo bezerros do que boi.” Ele produz em Camapuã e Rio Verde(MT).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.