O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta terça-feira, 28, que o regime de metas de inflação exige metas críveis, mas que o nível desses alvos não é um instrumento de política monetária. “Do ponto de vista de política monetária, é mais importante como se dá a diferença entre as expectativas e a meta do que propriamente a meta”, disse Guillen, durante participação em evento do Goldman Sachs, em São Paulo.

A afirmação veio em resposta a uma pergunta do diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, que questionou Guillen sobre o risco de que as expectativas permaneçam desancoradas, mesmo com um aumento das metas de inflação.

Para Guillen – que acumula também da Diretoria de Política Monetária do BC -, o canal das expectativas é importante para reduzir o custo da desinflação no Brasil.

Arcabouço

O diretor de Política Econômica do Banco Central reforçou que o novo arcabouço fiscal terá impacto na inflação por meio do seu efeito nas expectativas do mercado.

“O canal principal do arcabouço fiscal afetando a inflação é via o canal expectacional, é afetando como vai se dar a ancoragem das expectativas, é afetando como vai se dar os prêmios de risco, esse é o canal que a gente considera mais importante para ter um efeito sobre a desinflação”, disse ele.

Reação da política monetária

Indagado sobre o que poderia levar o Banco Central a voltar a subir juros – possibilidade que foi mencionada no comunicado e na ata do Copom de março -, Guillen disse que é necessário pensar na função de reação da política monetária. “Pensando na função de reação, tem três componentes principais: as expectativas do mercado, a projeção de inflação do BC, o balanço de riscos. E temos adicionado também a inflação de serviços e o hiato do produto”, comentou.

Segundo Guillen, as expectativas mostraram uma deterioração grande “no último ciclo”. Sobre o hiato do produto, disse ver pouca mudança.

Guillen acrescentou que o cenário alternativo de taxa Selic estável até o fim de 2024 – que mostra inflação de 3% no fim do ano que vem, no centro da meta – serve para mostrar a potência da taxa de juros sobre as projeções do BC. “Você consegue pensar um pouco qual é o impacto de postergar esse processo de corte de juros sobre a projeção”, explicou.

2024

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que surpresas de curto prazo – como o inverno mais ameno na Europa e a reabertura da China – aumentam as projeções globais de crescimento em 2023, mas que o aperto monetário mundial deve limitar a atividade em 2024.

No evento organizado pelo Goldman Sachs, Guillen acrescentou que as expectativas do mercado para a atividade no Brasil estão estáveis.

Ele lembrou que as projeções para o PIB de 2023 estão ligadas ao desempenho esperado para a agropecuária, devido à safra recorde prevista, mas com desempenho pior em indústria e serviços.

Taxa neutra

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que o debate sobre o nível da taxa neutra de juros real envolve uma decisão de quais variáveis usar para a estimativa. Na ata do Copom de março, a autarquia reiterou a visão de que a taxa real de juros neutra é de 4%.

“Agora, acho que é mais uma discussão se você incorpora variáveis forward looking ou backward looking. Se você olha o Focus, o que tem precificado no mercado, indica uma elevação da taxa neutra. Se você olha backward looking, as relações econômicas, como o hiato e a inflação se comportam, você vê menos dessa elevação”, disse ele.

Guillen – que também acumula o cargo de diretor de Política Monetária do BC – participou nesta terça-feira, 28, de evento do banco Goldman Sachs, em São Paulo. Durante a sua fala, ele disse que uma expansão parafiscal teria o potencial de aumentar a taxa neutra de juros e diminuir a potência da política monetária.

O diretor acrescentou que o BC deverá publicar uma projeção para a inflação de 2025 no Relatório Trimestral de Inflação, que será publicado esta quinta-feira, 30. “Mas a incerteza sobre uma projeção para 2025 é muito elevada”, notou.

Mercado de crédito

Diogo Guillen defendeu também que “fricções” no mercado de crédito podem ser endereçadas através de medidas macroprudenciais de liquidez – e, portanto, não exigiriam reação da política monetária. “Tanto no Comef quanto no Copom a gente falou um pouco sobre o crédito, chamando a atenção para a separação entre instrumentos para diferentes objetivos, chamando atenção que, se é uma fricção em alguma modalidade, em algum mercado, você tem o uso de medidas macroprudenciais”, disse.

Durante o evento organizado pelo Goldman Sachs, em São Paulo, ele destacou que a desaceleração do crédito é esperada, devido ao aperto monetário conduzido pelo BC. “A pergunta é se o crédito vai desacelerar mais do que é compatível com a postura da política monetária”, observou Guillen.

Guillen notou que a composição de crédito para pessoa física no Brasil parece migrar para modalidades de alto custo, que implicam maior inadimplência e maior spread. A alta de juros tempestiva feita pelo BC aumenta o risco de defasagem sobre o setor, disse.