Na tentativa de atrair o voto feminino para o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, a primeira-dama Michelle exalta a transposição do rio São Francisco e se dirige a “mulheres sertanejas” em uma das inserções da campanha bolsonarista na TV. A obra no Nordeste, usada como trunfo pelo chefe do Executivo, tem início em 2007, no governo de seu principal adversário na eleição, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto.

“A água chegou no sertão. Trouxe vida, alegria e esperança. A mulher sertaneja, que carregava lata d’água na cabeça, agora pode usar a sua força para voltar à escola ou para tirar o alimento que está brotando na terra. Tem mais tempo para ficar com a família, com os filhos e viver uma nova vida”, diz a primeira-dama na peça publicitária. “Um presente para a mulher que merece e deve ser o que ela quiser. Juntas estamos construindo um Brasil para elas, com elas e por elas.”

Michelle é vista pelo comitê de Bolsonaro como um trunfo para conquistar o voto das mulheres. Até então, o foco da primeira-dama estava em consolidar o apoio das eleitoras evangélicas. Mesmo antes do início oficial da campanha, ela começou a acompanhar o presidente e a discursar em eventos religiosos, como a Marcha para Jesus.

É a primeira vez que a primeira-dama fala para um público feminino mais amplo, não necessariamente ligado à religião, como as mulheres nordestinas. Em discursos recentes, Bolsonaro tem apostado em medidas sociais, como o Auxílio Brasil e o microcrédito, para alavancar sua popularidade entre mulheres que são chefes de família.

Ataques de Bolsonaro

No primeiro debate presidencial na TV, realizado por Bandeirantes, Cultura, Folha de S.Paulo e UOL no último domingo, 28, contudo, Bolsonaro se irritou e acabou atacando a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet (MDB), o que foi considerado um erro pela campanha à reeleição.

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) chegou a dizer que muitos homens são “tchutchuca” com outros homens e “tigrão” com as mulheres, em referência ao presidente.

A avaliação na campanha é de que Bolsonaro estava indo bem no debate ao usar os escândalos de corrupção nos governos petistas para tentar aumentar a rejeição a Lula.

No entanto, a performance do candidato à reeleição “desandou” quando o foco se deslocou para o ataque às mulheres, disseram aliados ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. “Ele não conseguiu segurar a onda”, afirmou uma fonte.

O Nordeste é a região do País que mais rejeita Bolsonaro, devido à identificação dos eleitores com as políticas sociais do PT. As obras da transposição, que deslocaram parte das águas do rio São Francisco para atender o semiárido, começaram em 2007, durante o governo Lula, e foram avançando, com atrasos, ao longo dos anos.