13/11/2013 - 14:15
O preço do milho está em queda livre desde janeiro no mercado brasileiro de commodities. Até outubro, a cotação do cereal recuou mais de 25%. Em um ano, a queda acumulada foi de 35%, passando de R$ 31 a saca de 60 quilos para R$ 20. Se o mesmo acontecesse com outra cultura, como algodão, feijão, arroz, ou mesmo o trigo, a resposta dos produtores para a safra 2013/2014 seria uma brusca redução de área e, consequentemente, de produção do cereal. Mas não é o que deve acontecer com o milho. A história para esse grão, que se tornou a segunda cultura mais importante do País, sugere o contrário: o milho veio para ficar. Mesmo que a intenção de plantio mostre uma área menor de cultivo, dada a dobradinha que faz com a lavoura de soja, a produção do cereal não deve ser afetada de forma significativa.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a previsão de cultivo para a safra 2013/2014 é de 15,3 milhões de hectares, 3,5% menor que a safra deste ano. Já a previsão para a produção é de 79,4 milhões de toneladas, uma pequena queda inferior a 2%. Para Eraí Maggi, um dos maiores produtores rurais do País e proprietário do Grupo Bom Futuro, com sede em Cuiabá (MT), não há caminho de volta para o cereal. “Por excelência, o milho se tornou a nossa cultura de inverno na segunda safra, reservando a primeira para a soja reinar absoluta” diz Maggi. “Se eu não plantar milho na segunda safra, colocarei o que nas minhas terras? Nada.”
O raciocínio de Maggi é partilhado por outros agricultores do Centro-Oeste. Na região, a soja e o algodão na primeira safra dividem as atenções do produtor, deixando o milho, uma cultura que possui variedades com alta produtividade adaptadas ao inverno, para ser cultivado na segunda safra, reforçando as receitas obtidas com a soja. Segundo Maggi, dono de 300 mil hectares, em 36 fazendas, o milho pode até não remunerar tão bem o produtor quanto a soja (normalmente, são necessários de 2,5 sacos de milho para um saco de soja), mas traz vantagens. Entre elas, a cobertura do solo no sistema de plantio direto. “A soja plantada sobre a área de milho chega a produzir 5% a mais”, diz Maggi. “Sem contar os benefícios de usar a palha como adubo e a redução de pragas.”
Para Carlos Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), a queda esperada na produção de milho no Estado, por conta dos preços, não é nada alarmante. Na safra 2013/2014, Mato Grosso deve produzir 19 milhões de toneladas, 13% a menos que os 22 milhões de toneladas da safra passada. Porém, se os números forem comparados à produção de 2010/2011, o milho continua atrativo. Naquele período, Mato Grosso produzia apenas 7,6 milhões de toneladas. “O produtor tem que plantar milho, não tem jeito”, diz Fávaro. “Mas, nesta safra, ele pode produzir menos para tentar elevar a cotação.” Os preços na região estão na casa dos R$ 10 por saca, enquanto o custo de produção está estimado em R$ 13,50.
A segunda safra do cereal tornouse um modelo tão forte que o Paraná começa a copiá-lo. No Estado, o grão sempre predominou nas áreas dedicadas à primeira safra. Mas, nos últimos cinco anos, essa situação vem mudando. Na safra 2007/2008, o Paraná cultivava uma área de 1,3 milhão de hectares de milho na primeira safra, e 1,1 milhão de toneladas na segunda safra. Hoje, a área de verão está reduzida a 870 mil hectares, enquanto a safra de inverno ultrapassou a casa dos 2,1 milhões de hectares. “No Paraná, os produtores ainda têm a opção de plantar trigo e cevada na segunda safra, além do milho”, diz Juliana Yagushi, engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral). “No entanto, nas últimas safras, o milho veio com maior demanda, e também acabou se tornando a nossa principal cultura de inverno.”
O produtor Rodolfo Botelho, da fazenda Capão Redondo, de Guarapuava (PR), pensa o mesmo que seus colegas mato-grossenses e não mudará a gestão da fazenda. Normalmente, ele planta 1,3 mil hectares de soja e 500 hectares de milho. E assim será na safra 2013/2014. “É importante manter o milho porque ele divide os custos de operação da soja”, diz Botelho, fã incondicional da parceria entre as duas culturas.