20/09/2012 - 13:18
Barretos, uma cidade de apenas 112 mil habitantes no interior de São Paulo, a pouco mais de 400 quilômetros da capital, recebe todos os anos um milhão de visitantes para a Festa do Peão de Boiadeiro, a maior do gênero, no País. Neste ano, a festa que aconteceu entre os dias 16 e 26 de agosto serviu de palco para o frigorífico Minerva, que também tem sede na cidade, anunciar que estará de cara nova nos próximos meses. A terceira maior empresa nacional do setor, atrás apenas da JBS e Marfrig, com um faturamento de R$ 4,3 bilhões no ano passado, vai ter uma nova marca. “Estamos mudando nossa identidade visual, que, de agora em diante, será única para todos os nossos produtos”, diz Fernando Galleti de Queiroz, presidente da empresa que passa a adotar o nome de Minerva Foods, seguindo o exemplo da BRFoods, a companhia formada pela fusão da Sadia com a Perdigão.
Por trás dessa decisão estão dois anos de estudos para entender como se posicionar no mercado consumidor de carne bovina. A indústria de carnes tem deixado de ser exclusivamente um mercado de commodities, ou seja, sem diferenciação entre um produto e outro, para um segmento de marcas identificadas. A expectativa do grupo Minerva é de que até novembro todas as embalagens e ferramentas de comunicação exibam a nova cara da empresa. Segundo o gerente de marketing Fábio Teixeira, o caminho foi natural. Nos últimos anos, a companhia conquistou a confiança do trader e agora, com a marca, deve se fortalecer no mercado varejista de carne. “Com a marca, estamos criando uma plataforma para, no futuro, falarmos diretamente com o consumidor”, diz Teixeira.
O Minerva segue os passos de seus dois principais concorrentes. O JBS tem investido para que o consumidor reconheça nomes como Swift, Maturatta, Angus Prime. A Marfrig, por exemplo, quer transformar a marca Seara Foods em sua identidade global para carne bovina. Segundo Márcia Dutra, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em comportamento do consumidor de carne bovina, as marcas de carne tendem a se tornar um patrimônio para as empresas, à medida que se posicionam para um público cada vez mais seletivo. “Ainda há muito que caminhar, mas há marcas que já se estabeleceram no País, principalmente aquelas ligadas a raças, como a angus e a nelore”, diz Márcia. Para ela, a marca é uma promessa e leva junto um valor.
O grupo Minerva está especialmente de olho na distribuição de seus produtos. Junto com a carne bovina, a empresa já entrega peixes, aves e até margarina de outros fornecedores, explorando ao máximo sua estrutura de transporte. Hoje, são atendidos 25 mil pontos de venda no País. Segundo o vice-presidente de operações no Brasil, Luiz Ricardo Alves, a receita de produtos de terceiros cresceu 70% em 2011. “Como o foco é o pequeno e o médio varejista, nossa distribuição é um diferencial”, diz Alves. “A logística tem fidelizado clientes.”
No ano passado, o grupo Minerva encerrou o ano entre os três maiores exportadores brasileiros de carne bovina, com cerca de 1,3 mil clientes em mais de 100 países, que propiciaram receitas no valor de R$ 2,4 bilhões. No segundo trimestre deste ano, a companhia alcançou 74% de utilização da sua capacidade instalada, que é de abater 10,4 mil bovinos por dia e desossar duas mil toneladas de carne. A receita no trimestre foi de R$ 1,1 bilhão. De acordo com Edison Ticle, vice-presidente de finanças, o frigorífico está com boa condição financeira. “Estamos numa situação confortável para aproveitar oportunidades de mercado.” Segundo Ticle, a empresa tem mantido a política de não ter mais de 20% de dívida com vencimento no curto prazo e conta, hoje, com um caixa para gasto imediato, de R$ 819 milhões. Queiroz, que além de diretor é um dos herdeiros do grupo Minerva, diz que a empresa tem dobrado de tamanho a cada três anos e não pensa em parar. “Temos uma estratégia muito clara de crescimento sustentável”, afirma.