RECEITA DE SUCESSO: para melhorar o desempenho reprodutivo do rebanho, Eduardo Filho fez um descarte radical de fêmeas, mandando para o abate 40% de sua criação

Da mesma maneira que um alicerce malfeito pode provocar rachaduras nas paredes de uma casa, a ponto de condená-la a transformar-se num monte de entulho, construir uma fazenda que produz com qualidade também depende de uma boa base de sustentação para que a “obra” não desmorone. Pelo menos é assim que a família Pinheiro Campos, dona da construtora mineira Emccamp Residencial, a empresa que mais constrói moradias populares para o programa do governo federal Minha Casa Minha Vida – com mais de 20 mil unidades por ano -, justifica os resultados que vem obtendo nas duas atividades: a construção de casas, de um lado, e do outro, a criação de gado nelore e a produção de café. “Toda base é fundamental para um negócio dar certo”, diz Eduardo Pinheiro Campos Filho, diretor financeiro da Emccamp e da Terra Brava Agropecuária, com três fazendas no sul de Minas Gerais. A previsão de faturamento das duas empresas é de R$ 520 milhões em 2012, dos quais R$ 20 milhões devem vir da agropecuária. “Evidentemente que os negócios urbanos são muito maiores que os rurais, mas eles nunca foram desprezados”, diz Eduardo Filho. A Terra Brava detém 3,5 mil hectares nos municípios de Presidente Olegário e Patos de Minas, região de terras valorizadas onde um hectare pode chegar a valer, em média, R$ 3,5 mil.

Pelo menos duas vezes por mês, o jatinho da família leva Eduardo Filho e seu pai, Eduardo Pinheiro Campos, de Belo Horizonte, onde está localizado o QG da Emccamp, até as fazendas Boa Sorte, São João Grande e Dona Neném. Da pista de pouso à sede das fazendas, pai e filho percorrem as mesmas estradas de terra batida nas quais o avô, conhecido em Minas como coronel Chico Cambraia, passava pelo menos quatro décadas atrás. “Meu avô sempre deu aula de como trabalhar a terra”, diz Eduardo Filho. “A meta dele era a modernização das lavouras de café e o melhoramento genético do gado.” O coronel Chico Cambraia criava gado zebu havia mais de 50 anos, mas ainda não era o nelore de hoje. “Naquela época, a raça gir reinava absoluta”, diz Eduardo Filho. “A partir da década de 1960, ele passou para o nelore, como fizeram quase todos os criadores de zebu deste país.”

Nos últimos anos, por ter uma extensão de terras hoje considerada pequena para uma pecuária extensiva, a Terra Brava começou a intensificar a produção e agregar valor ao negócio. “Nos 2,9 mil hectares de pecuária, optamos por melhorar o rebanho e vender animais para os pecuaristas que não têm tantos recursos para melhorar seus rebanhos ou têm como foco somente a criação de gado comercial”, diz Eduardo Filho. Na Terra Brava, o rebanho é de mais de 1,5 mil animais registrados na ABCZ, dos quais 600 são fêmeas destinadas ao melhoramento genético. O trabalho intenso de seleção elevou o índice de prenhez dessas fêmeas para 90% ao ano, o que significa mais bezerros nascidos no rebanho. Em geral, para os pesquisadores, índices acima de 85% no rebanho são considerados muito bons.

TIME DE CAMPEÕES

A Terra Brava aposta na compra de grandes reprodutores nelore

TOUROS: Carvalho diz que o mercado de sêmen é promissor

É na central Alta Genetics, em Uberaba (MG), uma das principais empresas de inseminação artificial do País, que estão concentradas as apostas em genética de qualidade da Agropecuária Terra Brava. Estão alojados na empresa os quatro touros comprados por Eduardo Filho. Os animais servem a um duplo propósito. Além de utilizar o sêmen dos touros no rebanho de fêmeas da Terra Brava, o pecuarista está vendendo o excedente. Ele quer participar de um mercado que no ano passado vendeu 3,3 milhões de doses de sêmen de gado nelore, 22% a mais que em 2010, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). O mercado de inseminação artificial no País, que no ano passado comercializou 11,6 milhões de doses de 26 raças bovinas, é estimado em R$ 400 milhões.

Com os quatro touros, Eduardo Filho espera faturar R$ 3 milhões por ano, a partir de 2013, o dobro de sua atual renda com a venda de sêmen. “Comprei animais que são apostas no mercado”, diz. O mais valioso, o touro Triunfo, foi comprado da fazenda Camparino, em Mirassol D’Oeste (MT), por R$ 300 mil, no ano passado, durante a Expogenética, em Uberaba. “No mesmo leilão em que comprei o touro, vendi cinco mil doses de sêmen”, diz Eduardo Filho.”Fiquei estarrecido.” Outro touro que promete boas vendas de sêmen é o nelore Gingado, comprado por R$ 18 mil da fazenda Colonial, de Gabriel Donato de Andrade, dono da construtora Andrade Gutierrez. O touro tem obtido avaliação positiva para a característica stayability, palavra que nos programas de melhoramento significa a capacidade de o touro ter filhas que vão viver por muitos anos. “É a característica econômica mais importante, porque esse touro vai produzir filhas que vão se manter no rebanho e vão parir sem falhar”, diz Eduardo Filho.

Não é à toa que a Alta Genetics, responsável por comercializar o sêmen dos animais da Terra Brava, bateu o seu segundo recorde em vendas de sêmen, no ano passado, com mais de 3,3 milhões de doses vendidas. Para o presidente da empresa, Heverardo Rezende de Carvalho, esse é um mercado promissor. “Em 2012, a projeção é crescer 20%”, diz.

Atualmente, a Terra Brava, que planeja faturar R$ 18,5 milhões em 2012, vende 150 tourinhos, filhos das melhores fêmeas do rebanho, e 30 mil sacas de café por ano. Ainda falta incluir nessa conta a venda de 60 mil doses de sêmen, produzidas por quatro touros mantidos na central de inseminação artificial Alta Genetics, em Uberaba (MG). Com o sêmen, o faturamento previsto para este ano é de R$ 1,5 milhão (leia quadro). Mas nem sempre foi assim, apesar do empenho do avô e do pai de Eduardo Filho. “Eles são de uma época em que as tecnologias mais avançadas de reprodução do rebanho e de cuidados com a lavoura estavam engatinhando”, diz.

 

PRODUÇÃO DE CAFÉ: o grão premiado da Terra Brava leva o nome Dona Neném, em homenagem à mãe de Eduardo Campos. Por safra, são colhidas 30 mil sacas

Na pecuária, de acordo com o criador, o trabalho atual está focado na produção de touros próprios, com qualidades para fornecer sêmen para uma central de inseminação. Eduardo Filho já investiu R$ 4 milhões no melhoramento genético dos animais e na infraestrutura das fazendas nos últimos cinco anos e pretende investir mais R$ 6 milhões nos próximos cinco anos. “O descarte das fêmeas que não emprenham tem sido radical”, diz Eduardo Filho. “A ordem é não dar nenhuma chance àquelas que falham e não possam gerar bons filhos.” A regra é inflexível e se aplica inclusive às fêmeas Puras de Origem (POs), registradas na Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Para isso, o pecuarista, que até 2007 tinha um rebanho de 840 fêmeas registradas, mandou ao abate 40% delas.

Nos planos da Terra Brava está o aumento do rebanho de boas fêmeas para cinco mil animais, a partir do atual núcleo de seleção. “Essas fêmeas vão produzir touros melhoradores que poderão ser vendidos a uma média de R$ 8 mil”, diz Eduardo Filho. “São touros para os criadores que precisam melhorar seus rebanhos de fêmeas comerciais e com isso produzir bezerros mais pesados, para que sejam abatidos até os 24 meses.”

No cafezal, o trabalho tem sido mais fácil que na pecuária. Hoje, a lavoura de 600 hectares, totalmente mecanizada e irrigada com tecnologia israelense, produz 50 sacas de grãos por hectare, muito acima da média nacional, em 2011, de 22 sacas por hectare. “Mas ainda queremos melhorar a produção”, diz Eduardo Campos. Para ele, é possível chegar a grãos ainda mais puros e obter prêmios por qualidade. Para medir sua evolução no campo, a Terra Brava tem participado de concursos internacionais com o café de marca própria Dona Neném, uma homenagem à sua mãe. No Japão, a marca conseguiu o primeiro lugar e na Itália ficou em terceiro, em disputas com cafeicultores de outros países. Em novembro passado, a fazenda sagrou-se vencedora na 4ª Prova de Cafés Certificados Imaflora, da Rainforest Alliance, uma das principais certificadoras do mundo.

Na fazenda, para fazer marketing internacional, foi construída uma sala de degustação da bebida. Na época de colheita do café, de junho a agosto, a sala da casa principal fica repleta de visitantes. “São japoneses, tailandeses, americanos, franceses, que passam horas trocando ideias e experimentando os cafés cultivados na fazenda”, diz Eduardo Campos. “Com isso, eles levam a seus países uma impressão positiva do Brasil.”

O NEGÓCIO EM NÚMEROS

O negócio em números

O BOI DA TERRA BRAVA

– 600 matrizes

– 90% de índice de prenhes

– 4 touros de repasse

– 4 touros em centrais de inseminação

– 150 touros comercializados em 2012*

100% É O PERCENTUAL DE

– inseminação do rebanho

– manejo dos bovinos no pasto

– café irrigado

O CAFÉ DONA NENÉM

– 600 hectares plantados

– 30 mil sacas de café colhidas por safra

NA CAIXA

– R$ 18,5 milhões com a venda de touros e do café

– R$ 1,5 milhão com a venda de sêmen

– R$ 500 milhões de faturamento da Emccamp em 2012*

– R$ 1 bilhão será o faturamento da Emccamp em 2013*