14/11/2025 - 12:15
O consumo de legumes e hortaliças no Brasil ainda está muito abaixo do ideal. De acordo com a FAO, cada brasileiro consome em média 141 gramas por dia, menos da metade das 400 gramas recomendadas pela OMS. Mesmo com esse cenário, o setor tem buscado alternativas para estimular o consumo, e uma delas vem do mercado de produtos premium.
Com alto valor agregado e apelo visual, as mini hortaliças vêm ganhando espaço entre produtores e consumidores, impulsionando a valorização da cadeia e atraindo novos públicos. Enquanto países como Portugal e Itália apresentam consumo muito superior — 416 e 353 gramas diárias por pessoa, respectivamente — produtores brasileiros apostam nesse formato mais prático e atrativo para estimular hábitos alimentares mais saudáveis.
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Esses mini vegetais evoluíram para produtos gourmet, conquistando espaço no mercado premium. Apesar do propósito de fomentar o consumo, não é fácil encontrar esses produtos nos supermercados. Com cores vibrantes, formatos diferenciados e sabores concentrados, eles são muito valorizados por chefs de restaurantes de luxo, que os utilizam em apresentações sofisticadas e pratos visualmente atrativos.
A produção de verduras, legumes e frutas miniaturizadas é um promissor nicho de mercado, que oferece boa rentabilidade aos agricultores, mesmo que os investimentos iniciais sejam mais altos em comparação ao sistema de cultivo convencional. Uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), aponta que o consumo médio de vegetais e frutas em miniatura cresce a taxas anuais de 15% a 20%.

Em média, as mini hortaliças apresentam preços significativamente superiores aos das versões tradicionais. Um exemplo claro é a mini cenoura, que pode ser encontrada no mercado a cerca de R$ 50 por quilo, valor muito acima da cenoura comum, que chega a custar apenas R$ 3 por quilo.
Olhando para esse nicho e para o grande valor agregado desses produtos, Deborah Gaiotto ingressou na produção de mini hortaliças em sua fazenda, em Minas Gerais. Segundo contou, 80% de toda a produção dos “minis” é destinada a chefs da alta gastronomia, em residências privadas ou restaurantes de luxo, o que exige cuidados especiais.
“Como trabalho com produto mais premium, os cuidados são diferentes. Se eu produzisse em grande escala, por exemplo, de cenoura, eu ia lá plantar o meu canteiro gigante, ia colher, dar uma pré-lavagem e entregar para um distribuidor. Nós precisamos ter algo a mais. Eu tenho um cuidado maior na hora de plantar, quero espaçar de um jeito que a cenoura fique bonita, e sei que quero preservar o máximo de cenouras dentro do canteiro”, explicou.
A fazenda de Deborah produz exclusivamente produtos premium voltados para nichos, incluindo hortaliças orgânicas e flores comestíveis. Entre os mini legumes cultivados, a cenoura se destaca como o carro-chefe da produção, sendo reconhecida pela qualidade, apresentação e cuidado no cultivo.

“Eu acredito que, ao adquirir um produto, a pessoa não compra apenas o item em si, mas o conceito da empresa. Os custos são mais altos, sim, porque entregamos produtos selecionados e padronizados. Quando o cliente abre a caixa ou o saquinho, dificilmente encontrará algo fora do padrão; tudo já está pronto para uso. Ele terá a certeza de encontrar cenouras arrumadinhas, bonitinhas, limpas, sem manchas ou partes escuras. Trabalhamos muito mais com a proposta de um produto premium do que com produção em grande escala.”
Investir nesse segmento pode ser uma boa oportunidade para os produtores. Conforme o Cepea, a expectativa é que o setor de hortaliças mantenha crescimento em receita, impulsionado por produtos de maior valor agregado e alinhados às novas preferências do consumidor, que busca qualidade, praticidade e apelo visual.
Mas o que são as mini hortaliças?
Mini hortaliças são vegetais cultivados em tamanho reduzido, com cuidado no plantio e na colheita para garantir uniformidade e qualidade. São produtos prontos para consumo e fáceis de preparar.
As hortaliças baby são colhidas ainda jovens, antes de chegarem ao tamanho adulto, mas continuam sendo da mesma variedade tradicional. Por exemplo, a baby cenoura é colhida aos 40–50 dias, antes de crescer completamente. Já as hortaliças mini são naturalmente pequenas, desenvolvidas por seleção ou melhoramento das variedades, e mantêm esse tamanho mesmo quando estão maduras, como acontece com mini tomates do tipo grape, cereja ou sweet.
Lara Vilela, professora de agronomia da Una Itumbiara, detalhou à Dinheiro Rural que o processo de manejo no campo não é tão diferente assim dos cultivos tradicionais.
“O manejo segue princípios semelhantes aos das hortaliças convencionais, mas com maior precisão no controle de irrigação, adubação e sanidade, já que o ciclo produtivo é mais curto. As mini hortaliças exigem monitoramento frequente do desenvolvimento das plantas para garantir colheita no ponto ideal, que geralmente acontece poucos dias antes do estágio considerado comercial nas hortaliças tradicionais”, explica Vilela.
De modo geral, as mini hortaliças possuem composição nutricional bastante semelhante à das versões tradicionais, mas costumam apresentar concentrações maiores de vitaminas devido ao estágio em que foram colhidas, ainda jovens.
“Por serem colhidas mais cedo, tendem a apresentar maior concentração de compostos bioativos, como antioxidantes, vitaminas e minerais, além de textura mais tenra e sabor mais intenso. A diferença não está na espécie, mas no ponto de colheita e, em alguns casos, em cultivares selecionadas especificamente para produção em menor escala”, conclui.
Veja a diferença entre Babies e Minis
Mini hortaliças (Minis): São produtos geneticamente miniaturizados, resultado de melhoramento genético ou seleção varietal. Elas chegam naturalmente ao tamanho reduzido e não são colhidas precocemente. São obtidas por melhoramento genético de sementes.
Exemplos: mini tomates (sweet grape, tipo grape), mini abóboras (minimoranga), mini berinjelas, mini pimentões (de cores variadas), mini pepinos (ou micropepino), mini cenoura, mini beterraba, mini rabanete, mini erva-doce (funcho), mini milho, mini cebola, mini repolho (obtido por adensamento) e mini alface americana (obtida por adensamento).

Hortaliças babies ou baby leafs (Babies): São obtidas por práticas culturais, especificamente pela colheita antecipada das folhas em relação ao tempo tradicional de consumo. A folhagem é jovem e não está completamente expandida. As hortaliças baby são da mesma variedade tradicional, sem alteração genética.
Exemplos: Alface baby (minifolhas verdes e roxas), rúcula baby, agrião baby, folhas de beterraba, mini espinafre e nabo pequeno (em que o principal consumo é o broto).
