Com os elevados juros para financiamentos, especialmente no Plano Safra 2015/2016, em que as taxas podem chegar a até 9,5% ao ano, em linhas como o Moderfrota, as fazendas e empresas rurais vêm tendo cada vez menos margem de manobra para tomar decisões eficientes na gestão do negócio. Por isso, preocupadas com o atual momento de vacas magras e com o grande risco de inadimplência por parte dos credores, as instituições financeiras começam a identificar oportunidades de negócios além da oferta de crédito. Entre elas estão bancos como o holandês Rabobank e o Itaú BBA. Essas instituições colocaram em prática um plano para auxiliar na tomada de decisões, utilizando os princípios do manejo integrado de riscos, ou gestão de riscos, visando garantir mais segurança às operações. “O problema mais frequente dos produtores não vem do manejo da fazenda, mas sim do estresse financeiro”, afirma Antonio Carlos Ortiz, diretor de Clientes Produtores Rurais do Itaú BBA.

A BMF&Bovespa define como risco um valor estimado da probabilidade da ocorrência de um fato relacionado a possíveis perdas ou impactos negativos de um negócio. Esses riscos financeiros podem ser de mercado, de crédito, de liquidez ou operacional. Um risco de mercado, por exemplo, é o que está ocorrendo com os cafeicultores nesta safra. Por causa da seca no final do ano passado, a colheita do grão foi afetada nos últimos meses. Em relação a 2014 foram quatro milhões de sacas a menos: 40 milhões neste ano, ante 44 milhões na safra passada. Para os produtores, as perdas podem passar de R$ 2 bilhões no ano.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 4,9 milhões de propriedades rurais no País, mas ainda é baixo o percentual das que fazem uma gestão de risco eficiente. Nesse universo, os produtores empresariais são os que mais se preocupam com a gestão de risco, mas isso não é sinônimo de excelência. De acordo com Ortiz, há cerca de três mil grandes produtores, mas não passam de 30 os que utilizam a técnica de forma abrangente e controlada em seus negócios. “O dado é alarmante, em função da importância do agronegócio na economia brasileira”, afirma Ortiz. Segundo o executivo, 70% dos produtores nem mesmo fazem análise de investimento, antes de tomar uma decisão.

A importância da gestão de risco pode ser percebida em uma conta simples. Por exemplo, um agricultor com uma receita anual de     R$ 100 milhões, e uma dívida de R$ 120 milhões, caso tivesse uma boa gestão de risco, conseguiria um empréstimo bancário de pelo menos dois pontos percentuais abaixo do que outro produtor que não utiliza a ferramenta. Somente em juros, essa redução representaria uma economia de cerca de R$ 1,5 milhão. “Este é só um exemplo de quanto um produtor pode economizar, ao profissionalizar sua gestão financeira”, diz Ortiz.


“O problema mais frequente dos produtores vem do estresse financeiro” Carlos Ortiz,do Itaú BBA

Por isso, na agenda da agrônoma Fabiana Alves, diretora de Rural Banking do Rabobank no Brasil, saúde financeira é um tema recorrente. “A maneira antiga de gerenciamento financeiro não atende mais a atual complexidade das operações no campo, diz ela.” O banco, que colocou no mercado US$ 2,7 bilhões em recursos para o agronegócio na última safra, está oferecendo aos produtores um serviço de orientação de gestão, por meio de um departamento de consultoria exclusivo que reúne seis executivos. Criado em 2008, o serviço já foi utilizado por 54 produtores. No primeiro ano foram três projetos, em 2015 já são 12. Além disso, o produtor tem acesso a um software que auxilia no controle e na organização das finanças da propriedade. “Nossos consultores ensinam cada passo na gestão, até que a propriedade obtenha o máximo de eficiência”, afirma Fabiana.

Para a economista do Banco Mundial, Bárbara Farinelli, gerente de projetos da instituição, além dos produtores, os demais agentes da cadeia do agronegócio também precisam investir em gestão de risco. Engajada neste desafio, no final de 2014, Bárbara coordenou o projeto chamado Avaliação Integrada de Riscos Agropecuários, com o apoio do ministério da Agricultura e da Embrapa. A ideia é que as políticas públicas passem a ser monitoradas a partir do conceito de gestão de risco, como, por exemplo, na tomada de decisão de preços mínimos para uma determinada commodity. A pesquisa, com cinco mil especialistas, identificou os potenciais riscos à produção agrícola. “Com base nessas opiniões, vamos adaptar à realidade brasileira as experiências que deram resultados em outros países”, diz Bárbara.


“A maneira antiga de gerenciamento não atende mais a atual complexidade das operações” Fabiana Alves, do Rabobank