O País e o jornalismo perderam nesta sexta-feira, 25, o seu mais destacado e influente repórter fotográfico em atividade na cena política brasileira. Dida Sampaio, de 53 anos, documentou com intensidade o período democrático a partir de Brasília e congelou em imagens os dramas e conflitos sociais da Amazônia e dos sertões do Nordeste e do Centro-Oeste.

Com imagens que formaram uma legião de admiradores, o fotógrafo do Estadão – que começou a trabalhar no jornal em 1994 – atingiu a excelência na acirrada e complexa cobertura do poder. Não se limitou a retratos de profunda beleza estética nem à própria fotografia. Foi um clássico repórter de política, atuando da apuração à publicação da história, que incluía informações obtidas nos bastidores. Tinha um olhar apurado para revelar casos encobertos nos corredores e gabinetes do Congresso.

Destacou-se ainda por atravessar o período de revolução tecnológica e digital na foto e no jornalismo sem perder a tradição e o legado da grande reportagem de campo. Em sua casa, em Brasília, guardava jornais impressos com suas fotos históricas ao lado de equipamentos modernos. Tornou-se um dos mais entusiastas usuários de drones para produzir videodocumentários.

Por sua obra, o cearense Francisco de Assis Sampaio radicado desde a infância em Brasília conquistou os mais importantes prêmios do jornalismo da América Latina. O repórter sempre reconhecido como o mais visceral dos profissionais da cobertura da vida política na capital e fora dela ganhou dois prêmios Esso, três Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, além de distinções como o Prêmio Dom Helder Câmara de Imprensa, Latino-Americano de Jornalismo Investigativo e Estadão de Fotografia e Vídeo.

Sempre entre os finalistas do principal prêmio de jornalismo do País, Dida finalmente recebeu o seu Esso de Fotografia, em 2015, pela imagem da então presidente Dilma Rousseff pedalando de bicicleta em frente a um lava-jato. A vitória foi dupla. No mesmo ano venceu o Esso Regional Sudeste, pelo especial Favela Amazônia, que retratava o avanço do tráfico, das milícias e do crime organizado de terra na floresta tropical. Foi a última edição do prêmio. Por capricho, Dida será sempre o atual vencedor do Esso de Fotografia.

Histórias

Muito mais que um caçador incansável de “furos” de reportagem, Dida procurou relatar um cotidiano do País sempre conturbado, dramático, contraditório e também terno e simples. Em 2017, registrou no especial Terra Bruta a violência no campo. No ano seguinte, percorreu a cavalo as veredas do norte de Minas para relatar o desmatamento, a pobreza e o êxodo que inspiraram romances e contos de Guimarães Rosa. Em 2020, foi o primeiro fotógrafo a chegar ao Pantanal no incêndio daquele ano.

Acre

Dias antes de ser internado, a 11 de fevereiro, após um aneurisma, Dida relembrou com um amigo momento especial da carreira. Em viagem ao Acre para uma reportagem sobre os 25 anos da morte de Chico Mendes, entrou no hospital onde Darly Alves, autor do assassinato do seringueiro, se recuperava de acidente de trânsito. Ele conseguiu a foto exclusiva.

As lentes do fotógrafo do Estadão registraram personalidades do século 20, como Nelson Mandela e João Paulo II. Congelou momentos dos presidentes de José Sarney a Jair Bolsonaro. Em 2020, Dida foi agredido em manifestação na Praça dos Três Poderes. A imagem da violência gerou comoção. Avesso à imprensa, Bolsonaro abriu o Alvorada, em outro momento, e posou para ele de forma exclusiva.

O respeito e a humildade que tinha para entrar nos gabinetes de Brasília eram os mesmos que utilizava para ter acesso às casas de madeira nos rincões do País. Tratava as fontes com igual deferência. O mergulho do repórter nas histórias permitiu ao País entender conflitos nos palácios de Brasília e no interior profundo. Dida morreu em consequência de um aneurisma e um AVC e lutou pela vida nos últimos 13 dias. Deixa a mulher, Ana, e os filhos Raíssa, Felipe e Gabriela.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.