O aumento da população mundial, que deve passar dos atuais sete bilhões de pessoas para algo próximo a 13 bilhões, até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas, exigirá da agricultura algo jamais feito na história da humanidade: duplicar, em tempo recorde, a produção global de alimentos. O desafio é gigantesco não apenas pela questão quantitativa, mas também pelo fator ambiental, questões que devem ser enfrentadas pelos países que têm vocação agrícola, como o Brasil. Detentor da maior área de terra cultivável do planeta e responsável por 40% do aumento estimado do plantio mundial de alimentos, o País precisa reduzir em 20% suas emissões de gases de efeito estufa, até 2020, para atender aos tratados climáticos internacionais. Desse total, perto de um terço corresponde à meta de redução estabelecida para o agronegócio.

 

Menezes, do PABC:

“Faltam projetos de redução das emissões no campo, não por desinteresse, mas por desinformação dos agricultores”

Nesse contexto, como será possível aumentar a atividade agrícola e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental? O governo federal, os produtores e 25 cientistas especializados no tema já têm as respostas. Elas constam do Programa de Governança Climática de Baixo Carbono (PABC), um plano de ação que define uma série de práticas que farão do agronegócio um aliado importante do meio ambiente, em vez de um vilão. “O impacto da agricultura no clima pode ser reduzido significativamente com apenas algumas mudanças de hábitos”, afirma o advogado Flávio Menezes, um dos responsáveis por criar, estruturar e implantar o projeto que se propõe a corrigir os antigos desacertos ambientais no campo brasileiro. “Isso se chama governança climática, assim como há governança corporativa nas empresas.”

A lista de iniciativas, elaborada em conjunto com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e que está alinhada à Política Nacional de Mudanças Climáticas, vem em boa hora. De acordo com o último Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa, a agropecuária é responsável por 19% das emissões anuais brasileiras, ficando atrás apenas do desmatamento e das queimadas, que respondem por 61% dos poluentes. “A adequação do manejo agrícola possibilita a menor utilização de máquinas movidas a óleo diesel e otimiza a logística do setor”, diz Hilton Silveira Pinto, diretor associado do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Universidade de Campinas. “Exemplo disso é o plantio direto como uma das ferramentas que possibilitam a mitigação do impacto ambiental.” Não deverá faltar dinheiro para colocar em prática as novas técnicas de manejo da terra. Um fundo de R$ 3,2 bilhões foi criado pelo governo com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar projetos ambientais de produtores rurais. “Esse dinheiro representa R$ 1 milhão para cada CNPJ de pequenos e médios empresários da agricultura brasileira”, diz Menezes. Embora não faltem recursos para reformular as práticas ambientais do agronegócio nacional, no ano passado apenas 250 produtores captaram R$ 800 milhões desse financiamento estatal. “Faltam projetos de redução das emissões no campo, não pelo desinteresse dos agricultores, mas pelo desconhecimento de como implementar um programa de agricultura e pecuária de baixo carbono”, diz Menezes.

As diretrizes da governança climática não devem demorar muito para emplacar no agronegócio brasileiro. Uma das etapas da frente de ação do programa é orientar os produtores a desenvolver iniciativas de redução do impacto ao meio ambiente, fase que já está em operação. “Este é apenas o primeiro passo da trajetória rumo à consolidação de uma agropecuária sustentável em benefício do produtor, da atividade rural, do Brasil e da população mundial”, diz a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA.