08/08/2025 - 7:00
Nesta quarta-feira, 6, entrou em vigor a taxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre diversos produtos brasileiros. Apesar das centenas de isenções, a tarifa atingirá produtos importantes da pauta de exportação brasileira, como café e carne bovina, o que pode tornar o mercado americano, nosso segundo maior parceiro comercial, um destino inviável.
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Em 2024, o comércio total entre Brasil e EUA atingiu cerca de US$ 91,5 bilhões, dos quais o Brasil exportou US$ 42,3 bilhões e importou US$ 49,1 bilhões, resultando em superávit de US$ 6,8 bilhões para os EUA. Só no primeiro semestre de 2025, os EUA foram responsáveis por aproximadamente US$ 26,6 bilhões das importações de bens brasileiras, com um superávit americano de US$ 4,5 bilhões nesse período.
Entretanto, os EUA não são nosso principal parceiro comercial. Enquanto cerca de 12% das exportações brasileiras em 2025 foram para os americanos, a China respondeu por 28% do volume exportado em 2025.

O que coloca justamente a China, nosso maior parceiro comercial, como possível mercado alternativo para os produtos brasileiros.
Segundo Marcelo Cunha, professor e consultor de Negócios da Faculdade UNA, a medida da China de autorizar 183 novas empresas brasileiras a exportar café, válida por cinco anos desde julho de 2025, é uma resposta direta ao “tarifaço” americano sobre o café.
Em junho, o Brasil exportou cerca de 440 mil sacas de café aos EUA, contra apenas 56 mil sacas à China, o que ilustra o potencial de crescimento do mercado chinês como compensação rápida às restrições dos EUA.
A pedido da IstoÉ Dinheiro, o consultor de Negócios da Faculdade UNA elaborou uma lista dos produtos agropecuários que seriam exportados para os Estados Unidos e poderiam ter a China como novo destino.
Principais produtos de exportação do Brasil para Estados Unidos e China
Café: Os EUA absorvem cerca de 8,1 milhões de sacas (60 kg) por ano do Brasil, aproximadamente 33% das exportações brasileiras de café, em um comércio estimado em US$ 4,4 bi/ano. Já a China, recebeu cerca de 538 mil sacas nos primeiros seis meses de 2025, e próximo de 56 mil sacas em junho, o que representa 7,9 vezes menos que os EUA naquele mês. Logo, a China pode absorver um volume crescente, mas está longe de substituir totalmente o mercado americano, especialmente no curto prazo.
Carne Bovina: Os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, correspondendo a cerca de 12% das exportações de carne no primeiro semestre de 2025, com alta de 33% ao ano. É claro que a China também é uma grande importadora de proteínas brasileiras, principalmente de carne suína, bovina e frango, mas ainda há dispersão nos números específicos para carne bovina. Considerando a estrutura global, a China pode absorver parcela dessa demanda, mas o reequilíbrio completa ainda está em curso.
Soja: Embora não estejam entre os mais afetados pelas tarifas recentes, a soja é um dos principais produtos exportados Brasil (15 a 16% das exportações brasileiras) globalmente. Nos EUA, o produto têm presença menor como destino: o mercado americano importa soja, porém bem menos que a China.
Produtos que poderiam trocar os EUA pela China
Soja e derivados: já têm a China como principal destino; os EUA representam uma parcela pequena e facilmente substituível.
Carnes (bovina e de frango): a China é grande compradora e poderia absorver volumes adicionais, embora ajustes sanitários e logísticos sejam necessários.
Café: a China vem aumentando rapidamente suas compras, mas ainda consome cerca de 7 a 8 vezes menos que os EUA; a substituição seria gradual.
Marcelo Cunha explicou que o prazo para realocação varia de acordo com o produto. “No caso da soja e carnes, a substituição parcial poderia ocorrer quase imediatamente, dado que a infraestrutura logística e a demanda chinesa já existem. Para o café, o processo demandaria mais tempo, pois envolve mudança de hábitos de consumo, contratos comerciais e adequações sanitárias ou técnicas.
O especialista explica que para que a China substituísse os EUA de forma mais ampla, seriam necessários:
- Acordos comerciais e sanitários que facilitem a entrada de novos produtos e ampliem cotas existentes;
- Uma expansão logística e portuária, garantindo capacidade de escoamento para a Ásia;
- Promoção comercial ativa, incentivando novos nichos de consumo (como café gourmet e suco de laranja)
- Diversificação produtiva, ampliando o mix exportado para atender à demanda chinesa por bens industriais.
*Estagiário sob supervisão