R$ 120 mil é a renda anual com a venda de oito mil toneladas de milho, o que corresponde a 7,1% do total

“Prefiro ganhar menos dinheiro, com culturas diversificadas, mas ser dono de um negócio mais seguro”

Nelson pineda, agricultor e pecuarista

Se existe uma expressão que faz parte do vocabulário do fazendeiro Nelson Pineda é justamente aquela que diz: “Diversificar é sempre o melhor negócio.” Primeiro, ele diversificou sua pátria: nasceu venezuelano e adotou o Brasil como lar. Para quem duvida, o produtor diz: “Nosso país é aquele pelo qual lutamos.” Depois, diversificou a profissão. Engenheiro químico formado pela Universidade Federal de Genebra, jogou para o alto a carreira numa multinacional suíça a fim de cuidar da fazenda de sua esposa, Cláudia, e lá construiu um verdadeiro reduto da boa gestão agrícola. Seu foco, claro, está na diversificação de culturas.

Em pouco mais de 1.400 hectares, Pineda cultiva café, milho, possui uma pequena indústria de leite e ainda faz a extração do látex de um robusto seringal. E ainda por cima possui 10% a mais de reserva legal averbada do que determina a lei. “O mais engraçado é que já fui fiscalizado duas vezes pela Receita Federal, que não entendia por que eu possuía mata se podia derrubar”, relembra.

Com tantas atividades numa área relativamente pequena para os padrões de grandes propriedades brasileiras, ele admite que, se fosse especializado em uma única atividade, sua propriedade iria faturar mais do que o rendimento atual, de R$ 1,7 milhão por ano. “Mas em compensação o risco de uma quebra seria muito maior. Com tantas culturas, dificilmente acontecerá um ano em que passarei no vermelho”, explica.

R$ 800 mil é a renda anual com a comercialização de 200 tourinhos de 50 arrobas, o que corresponde a 47,5% do total

R$ 100 mil é a renda anual com a venda de 33% da produção de látex, terceirizada na fazenda. A cultura responde por 5,9% do total

R$ 500 mil é a renda anual para a produção de duas mil sacas limpas de café, o que corresponde a 29,8% do total

R$ 162 mil é a renda anual obtida com a venda de 1,5 mil litros de leite pasteurizado ao dia, o que corresponde a 9,7% do total

A agropecuária é considerada por excelência uma atividade de risco, justamente por possuir variáveis incontroláveis, como o clima e o próprio mercado. “Por isso, a diversificação de culturas é sempre uma boa saída”, comenta José Vicente Ferraz, analista da AgraFNP. Segundo ele, mesmo dentro de uma mesma cultura recomenda-se variar as formas de produzir. “O produtor pode trabalhar com diferentes cultivares, tolerantes a diferentes doenças, justamente para não apostar todos os ovos numa mesma cesta”, comenta. Essa foi a visão de Pineda quando chegou à fazenda, em meados da década de 1980.

Naquele tempo, já existia uma infraestrutura completa para o cultivo e beneficiamento do café, assim como para o manejo do gado de leite. “A região era uma bacia leiteira muito importante que foi perdendo a força, justamente pelos altos e baixos do setor”, relembra. Aos poucos, a fazendo foi recebendo investimentos, se especializando na venda de tourinhos. “Começamos a fazer testes de progênie e a desenvolver métodos de seleção”, explica.

A maior renda da fazenda está no comércio de tourinhos. Por ano, são vendidos 200 animais de 50 arrobas, que somam um faturamento de aproximadamente R$ 800 mil. Mesmo existindo uma concentração de 47,5% da receita total na atividade pecuária, outras áreas da fazenda também recebem cuidados.

Com um novo projeto, seis mil cabeças de gado irão produzir tourinhos no extremo oeste da bahia

Às 6h, em frente ao relógio de ponto, o trabalho é distribuído seguindo uma rígida planilha de afazeres. Na parte alta da propriedade, um grupo de homens segue para o cafezal com variedades arábica e robusta. Por ano, são produzidas duas mil sacas limpas, o que representa um faturamento de R$ 500 mil. Perto dali, um outro grupo sangra um largo corredor de seringueiras.

O trabalho é uma parceria com produtores regionais, que fazem o manejo do local e ficam com 70% da receita. Mas os 30% restantes deixam R$ 100 mil no caixa da fazenda. “As seringueiras, além de produtivas, valorizam as terras, o que é sempre recomendável para quem não quer ver suas terras desapropriadas”, comenta Pineda. Segundo ele, terras que possuem seringueiras são menos sujeitas à desapropriação, justamente porque o valor das terras é muito alto. “É uma forma de proteger o patrimônio e ainda levantar uma receita importante”, avalia.

A escolha de cada atividade se dá não só pela rentabilidade, mas pelo conjunto agronômico da propriedade. Um exemplo é o milho, plantado pela primeira vez utilizando uma variedade transgênica. Ao todo, oito mil toneladas serão colhidas, o que representa um rendimento de R$ 120 mil. “A diversificação de investimentos, numa atividade de alto risco, é sempre muito prudente”, pondera o analista Ricardo Almir, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Especialista em modelos de investimento, Almir avalia que o tipo de estratégia adotado por Pineda fornece um “hedge natural”. “É como aplicar na bolsa de valores: você pode optar por apostar tudo em poucas ações ou pulverizar os investimentos”, analisa.

“Investir em látex é uma boa forma de evitar a desapropriação”

Nelson Pineda, produtor

Assim como na bolsa de valores há papéis que são mais valorizados do que outros, no campo também há atividades que oferecem um rendimento menor, porém, com um recebimento regular. Esse é o caso do leite, que mesmo com uma rentabilidade baixa traz dinheiro diariamente para a fazenda. “Produzimos 1.500 litros por dia, o que nos dá uma renda de R$ 162 mil ao ano”, explica o fazendeiro. “Isso ajuda a pagar as contas até que as culturas perenes como o café comecem a produzir”, completa.

Todo o sistema foi projetado para produzir leite tipo A, porém não há na região mercado para esse produto. “Nosso registro é para leite B”, informa Pineda. Mas, se um dia a região comportar a venda de um produto premium, a infraestrutura já está pronta.

Com a área totalmente utilizada, Pineda partiu para novos investimentos. Há três anos, o fazendeiro começou um projeto na região de Correntina, no extremo oeste da Bahia. Lá, ele já possui seis mil cabeças de gado, no mesmo sistema de cria utilizado em São Paulo. “Existe um grande mercado carente de genética comprovada e a pecuária baiana vai crescer muito nos próximos anos, por isso nos instalamos lá”, avalia. A ideia, segundo ele, é ampliar os ganhos e, claro, diversificar o local de produção. Afinal, essa é uma das palavras preferidas desse venezuelano que encontrou um jeito bem brasileiro de produzir no campo.