, Autor do Livro verde do rastreamento colaborativo

Ao adquirir um alimento, o consumidor quer ter muito mais do que sabor ou preço competitivo. Ele exige mais informações sobre o processo de produção, a composição, a procedência. Este é o papel da rastreabilidade, habilidade de traçar o percurso de determinado produto do início ao destino final.

A rastreabilidade é uma prática mais antiga do que se pode imaginar. Romanos e gregos já marcavam seus animais para reconhecê-los entre outros. Séculos se passaram e a discussão acerca da prática reacende de maneira espetacular, levando-se em conta modernas ferramentas e conceitos, relacionados principalmente aos anseios gerados por uma nova onda global de consumo consciente, amadurecida pela produção industrial intensificada, avanços tecnológicos e acesso à informação.

Entretanto, o rastreamento de alimentos de forma sistemática é mais recente, tendo como dogmas questionamento sobre qualidade dos produtos, boas práticas, segurança alimentar, origem, preocupações ambientais e outras.

A nova onda utiliza o termo rastreabilidade colabocolaborativa. Já não é suficiente entender melhor o processo produtivo. É preciso que cada segmento forneça informações relevantes para o seguinte, até o fechamento do ciclo. Ou seja, o consumidor quer entender o caminho percorrido pelo produto desde a colheita até o varejo, assim como os processos a que foi submetido.

A ampliação do comércio é um agente impulsionador da rastreabilidade colaborativa, já que os compradores são cada vez mais exigentes em relação aos acordos comerciais. Nesse sentido, esses sistemas configuramse como facilitadores dessa prática, eliminando barreiras para obtenção de certificações e proporcionando segurança alimentar para o consumidor.

Os exemplos são muitos, como as cadeias agrícolas, que garantem alimentos de acordo com a demanda específica de um segmento – orgânicos, por exemplo; e os setores ambientais, como o de madeira certificada a partir do correto manejo de reflorestamento.

Procedência: o consumidor está mais exigente

O ganho para todos é a identificação, com clareza e segurança, do trânsito do produto desde o plantio, passando pela extração, logística, pelo entreposto e varejo, permitindo ainda a adoção de selos de conformidade ambiental.

O termo rastreabilidade colaborativa é novo no Brasil, mas muito conhecido e usado na Comunidade Europeia, que prima pela rastreabilidade de gêneros alimentícios. Os Estados Unidos e o Canadá também avançam nesse tema, até por uma motivação inesperada: o terrorismo.

Motivos não faltam para o processo de rastreamento ser executado nas mais diferentes áreas produtivas. Os exemplos se sucedem. Podemos lembrar o surto da vaca louca na Europa no final da década de 90 ou a venda de carne chinesa falsificada como brasileira em 2007. Casos como esses revelam que o controle sobre a produção de alimentos é essencial no modelo comercial atual.

Mesmo com todos os benefícios claros da rastreabilidade colaborativa, ainda há alguma resistência por parte de quem produz ou gera serviços. Alguns entendem que a implantação do processo é onerosa e exige muito tempo e modificações na metodologia do trabalho já existente, recorrendo à prática apenas quando há obrigatoriedade prevista em lei. Torna-se urgente, portanto, lançar olhar diferente sobre essa questão. É hora de fazer as apostas e escolhas para o futuro. E as ferramentas estão aí.