Da produção à comercialização, a presença feminina tem se tornado cada vez mais notável na indústria do café, assumindo cargos de liderança. No cenário global, de acordo com um levantamento da International Coffee Organization, entre 20% e 30% das fazendas de café são geridas por mulheres e até 70% da mão de obra na produção, dependendo da região. No Brasil, 13,2% dos estabelecimentos são liderados por mulheres.

“A contribuição feminina ao longo da história tem sido fundamental no caminho da pavimentação da agricultura no país, tanto para uma cafeicultura sustentável como produtiva. É muito importante incentivar as mulheres a serem donas e administradoras do seu negócio. Venho de uma família que sempre me apoiou nesta luta, eu e minha mãe somos produtoras, e hoje sou a primeira Vice-Presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), onde 38% dos líderes são mulheres”, disse Mariana Heitor.

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Mariana é gestora da fazenda Reserva Heitor, em Patos de Minas (MG), e faz parte da terceira geração da família na cafeicultura. Dos 216 hectares da Reserva Heitor, 140 são destinados ao cultivo do café de maneira sustentável. A fazenda implantou áreas de preservação permanente e de reserva legal, além de ser referência em projetos do gênero na região. Hoje, a área reflorestada na propriedade corresponde a 44,1 hectares.

Mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas brasileiros com produção de café são dirigidos por mulheres, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além das dirigentes, há também aquelas que estão na condição de cônjuge em codireção, sendo 32.400 mulheres em estabelecimentos com café arábica e 15.700 em estabelecimentos com café canephora. Dessa forma, pode-se afirmar que há um público feminino de 88.700 mulheres dirigindo e codirigindo estabelecimentos com café em todo o Brasil.

“O estímulo vem por meio de conhecimento e informação, por isso, há 9 anos, criamos o projeto Elas no Café, que visa capacitar e incentivar a presença feminina no setor por meio de cursos teóricos e práticos. No início do programa registramos 13 cooperadas e hoje são 116 inscritas, um aumento de 792% de mulheres ativas. Estima-se que ao longo do programa cerca de 400 mulheres foram capacitadas, isto só reafirma que estamos no caminho certo, com compromisso a diversidade e inclusão”, afirma a Vice-Presidente da Expocacer.

Michele Silva é uma dessas mulheres ativas no projeto e gestora da fazenda Três Mulheres Cafés, em Patrocínio (MG). Na liderança da fazenda desde 2018, ela conta que passou por muitos desafios, mas com o olhar diferenciado, conseguiu elevar a propriedade para outro patamar.

“A maior dificuldade é o que todos já estão cansados de saber: o preconceito. Mas acredito que a mulher tem um olhar mais refinado e mais organizado, o que auxilia no monitoramento dos processos de um café de qualidade. Nós temos o poder de conseguir influenciar todo o núcleo familiar com ideias e experiências” explica Michele.

As filhas da produtora já são ativas no mundo do café e fazem parte de um programa da cooperativa chamado de Teens, que visa incentivar a sucessão familiar na cafeicultura, passando pelos processos de produção, gestão e exportação, até ao consumo final. Dados do IBGE revelam que o segmento é composto de 30% a 35% de produção familiar.

“Eu acredito que, nós, mulheres estamos no caminho certo. Fizemos diferença na história da cafeicultura e vamos continuar fazendo por meio das próximas gerações. Minhas filhas, por exemplo, já estão envolvidas no setor desde pequenas. Eu não penso em deixar apenas uma herança, mas em deixar minha marca, um legado na vida das pessoas e da minha família”, finaliza a produtora.