O Ibovespa ficou de guarda dos 113 mil pontos, orbitando a estabilidade em parte da sessão até que se conhecesse a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), a qual, mesmo sem trazer novidades, levou os índices de ações em Nova York às máximas do dia, embora sem deixar o terreno negativo na sessão. No melhor momento pós-ata, a referência da B3 retomou o nível de 114 mil pontos, não visto no intradia desde 22 de abril.

Ao fim, mostrava alta de 0,17%, aos 113.707,76 pontos, entre mínima de 112.482,58 e máxima de 114.146,23 pontos (+0,56%), saindo de abertura aos 113.507,82 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro foi a R$ 59,8 bilhões na sessão. Na semana, o índice avança 0,84% e, no mês, 10,22% – no ano, tem alta de 8,48%.

“A ata do Fed não traz grandes novidades e se mostra datada, ao mencionar que o mercado de trabalho dava alguns sinais de desaceleração e que a inflação ainda continua muito alta. Exatamente o que aconteceu depois foi o inverso: dados do mercado de trabalho bem fortes, com quase o dobro da geração de vagas esperada, e a inflação cedendo mais do que o projetado pelo mercado. O documento de hoje parece bem ultrapassado, e o que fará diferença, na próxima semana, será o evento de Jackson Hole, de onde se espera comentários sobre os próximos passos”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

“A ata da reunião trouxe explicações do cenário (do Fed) para a economia americana, mas não explicitou qual será o ritmo de aperto monetário para a próxima reunião, em setembro. De forma geral, a autoridade monetária irá aumentar ou diminuir o ritmo do aperto monetário a depender do estado da economia”, observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

No Brasil, a sinalização do BC de que o ciclo de elevação de juros se encerrou ou está muito próximo disso continua a atrair recursos externos para a B3 – em termos líquidos, na casa de R$ 11 bilhões em agosto, até segunda-feira, conforme os mais recentes dados -, o que se conjuga com acomodação da inflação, expectativas mais favoráveis sobre o PIB e a uma temporada positiva de balanços corporativos.

“Olhando 30 dias, aproximadamente do piso do ano (de meados de julho) aos 114 mil de hoje, o Ibovespa tem uma recuperação em torno de 18%. Há muito caixa disponível, como não se via desde 2008, e esses recursos estão indo essencialmente para Bolsa, com a indicação do fim do ciclo de alta de juros aqui, ou no máximo mais um aumento de 25 pontos-base (na Selic). O BC fez o dever de casa, não ficou atrás da curva. E, considerando S&P 500 a 4.300 pontos, ainda há descontos na B3 e recursos disponíveis para que o Ibovespa avance mais”, diz César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

“O mercado é comparável a um pêndulo, tendendo a corrigir excessos, seja de pessimismo ou otimismo. Muito de pessimismo tinha ido para o preço”, acrescenta o gestor, destacando também a mais recente temporada de resultados corporativos, positiva aqui e no exterior, e na qual se mostrou que, mesmo com o desafio da inflação, empresas conseguiram defender margens.

“Hoje tivemos um dia de volatilidade, em que o Ibovespa abriu em queda e chegou a perder quase 1% na sessão para, à tarde, se firmar em leve alta. O mundo tem estado mais otimista com relação ao Brasil. A ata do Fed condiciona os próximos passos sobre juros à inflação. Não há certeza ainda quanto ao grau de ajuste à frente (para a taxa de referência dos EUA). O Brasil reagiu mais rápido e de forma mais agressiva aos sinais inflacionários, o que nos permitiu um controle mais dinâmico”, diz Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos.

Nesta quarta-feira, as ações e setores de maior peso no Ibovespa se firmaram majoritariamente no positivo no meio da tarde, após a ata do Fed. A exceção significativa foi Vale (ON -2,46%), que devolveu os ganhos do dia anterior. Petrobras ON e PN, por sua vez, fecharam respectivamente em alta de 3,33% e de 2,34%, em dia moderadamente positivo para as ações de grandes bancos (Bradesco ON +0,37%, Itaú PN +0,40%), à exceção de BB (ON -0,90%). Na ponta do Ibovespa, destaque para Cemig (+5,67%), Copel (+4,48%) e CSN Mineração (+4,42%), com Americanas (-6,13%), Via (-6,08%) e Yduqs (-5,56%) no lado oposto.