15/06/2021 - 12:22
Senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, afirmaram, durante depoimento do ex-secretário de saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, que documentos comprovam que a empresa fornecedora de oxigênio White Martins já havia alertado, em julho de 2020, que o Estado do Amazonas corria o risco de desabastecimento de oxigênio. Em janeiro deste ano a crise devido a falta do insumo e o colapso do sistema saúde estouraram no Estado. Pacientes morreram em unidades de saúde por falta do oxigênio hospitalar.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) citou dois documentos da empresa White Martins sobre o volume produzido de oxigênio medicinal e o consumo, enviados à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas. Um de 16 de julho de 2020, em que a empresa informa que está trabalhando “sob a máxima capacidade, com os nossos caminhões de cilindros, consumindo horas de trabalho diurno e noturno” e reforça que era “imperioso” que se tomassem “medidas preventivas imediatas” para aumentar lidar com a demanda de oxigênio do Estado. A sugestão da empresa foi um aumento de 25% no aumento do volume contratado pelo governo do Amazonas.
A segunda carta é de 9 de setembro do ano passado, com o assunto: “Aumento de consumos de gases medicinais durante a pandemia covid-19 – Sugestão de Plano de Contingência”, onde o gerente executivo da empresa, Petrônio Bastos, escreve à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas, reiterando a carta anterior e afirma que o “empenho de dotações orçamentárias não foi emitido”. “Reiteramos e pedimos urgentes medidas, para não haver fornecimento sem cobertura de saldo contratual”, afirma o gerente da White Martins.
A White Martins foi procurada pela reportagem para comentar os documentos, mas não havia respondido até a publicação desta matéria.
Braga criticou a falta de ação do governo estadual para antecipar o problema de desabastecimento, afirmando que o governo teve tempo para tomar providências. “Houve tempo, houve notificação”, declarou o parlamentar. “Havia um aumento gradual firme e constante em função do número de infectados (por covid), e a secretaria e o governo do Estado teve tempo para poder agir”, criticou.
Senadores também contestaram a afirmação do secretário de que a falta de oxigênio no Estado tenha acontecido por dois dias, entre os dias 14 e 15 de janeiro. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), interrompeu o ex-secretário para dizer que as imagens que mostravam o problemas que a falta de oxigênio causou ao sistema de saúde amazonense eram “diárias”.
Braga também aumentou o tom, e acusou o ex-secretário de mentir durante o seu depoimento, como outros depoentes da CPI. “Eu não aguento mais, o Pazuello veio aqui, mentiu, o Elcio veio aqui, mentiu, agora vem o secretário mentir também?”, criticou, ao citar os depoimentos do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e do ex-secretário do Ministério da Saúde, Elcio Franco.
Campêlo argumentou que a falta entre os dias 14 e 15, como afirmou, foram na rede de saúde. “Uma coisa é faltar na rede de saúde, no hospital, outra coisa é o paciente que está tratando em casa porque não tem vaga no hospital tentar comprar o cilindro no mercado e ele não existir”, afirmou, na defesa que somente nesses dois dias foram registradas intermitências do fornecimento de oxigênio na rede estadual de saúde. Ainda sobre o desabastecimento, Campêlo afirmou que o problema relatado pela White Martins era de logística, e não de falta do insumo.
O ex-secretário afirmou que também não teve conhecimento de nenhuma ação do Ministério das Relações Exteriores na tentativa de obter insumos com países vizinhos ao Brasil para tentar diminuir os efeitos da crise no Estado.