01/08/2009 - 0:00
Paulo Emílio “A clonagem é muito cara, por isso estou investindo na criação de uma linhagem própria, a partir do Bandido”
Paulo Emílio Marques é uma das figuras mais conhecidas do mundo dos rodeios. Nem tanto pelo seu desempenho em cima dos animais, mas, sim, por possuir a mais respeitada – senão temida – tropa de touros do Brasil. Com cerca de 160 animais da mais alta qualidade em sua fazenda na cidade de Icem, no interior de São Paulo, ele já é tido como o principal fornecedor de montarias para os grandes eventos, como Barretos ou Jaguariúna, mas ainda não está satisfeito. Agora, em uma jogada ousada, Paulo Emílio quer apurar ainda mais seu rebanho por meio de uma técnica antes restrita aos criadores de nelore de elite: o melhoramento genético.
Brincadeira de fim de tarde: animais são constantemente testados pela equipe do tropeiro que seleciona os melhores e mais “pesados”
Para isso, o empresário conta com a ajuda de especialistas e nada menos do que duas mil doses de sêmen do touro Bandido, famoso por estrelar a novela América, da Rede Globo, mas que faleceu no início do ano. Tido como o touro mais temido da história recente dos rodeios, Bandido já tem três clones, ainda usados apenas em exibições, além de dezenas de filhas e netas próprias, que vêm sendo cruzadas com outros touros com potencial. Um trabalho inovador, especialmente quando falamos de animais sem raça definida e baixo valor de mercado, se comparados aos nelores de elite.
Mesmo assim, Paulo Emílio acredita que a técnica possa agregar mais valor à sua vitoriosa tropa. “Queremos formar uma linhagem baseada na genética do Bandido”, afirma o criador, lembrando que a raça dos animais pouco importa dentro da arena. “Os touros bons para rodeio já nascem com as características que determinam garra, inquietude e a vontade de derrubar o peão. Isso não é característica de nenhuma raça específica”, continua.
Por isso, compra lotes e mais lotes de touros Brasil afora para selecionar alguns poucos com nível para integrar sua tropa. O valor pago muitas vezes ultrapassa os R$ 25 mil por animal, motivo pelo qual quer passar a investir na genética já garantida do Bandido. Para fazer um clone, gastase algo em torno de R$ 100 mil, mas o retorno é garantido. Principalmente em publicidade. No entanto, a ideia é investir nos cruzamentos, bem mais baratos e com maiores chances de sucesso. Para se ter uma ideia, dos oito clones feitos a partir do DNA do Bandido, apenas quatro estão vivos.
PIONEIRO – A história de Paulo Emílio nos rodeios começou cedo. Aos 14 anos, quando ainda dava seus primeiros passos na carreira de peão, recebeu uma oferta de seu pai para deixar as arenas e partir para os bastidores, pois considerava o lugar mais seguro. Mesmo relutante, o jovem acabou aceitando a proposta e pouco tempo depois fundou a Companhia de Rodeio Paulo Emílio. Em pouco tempo já era referência em animais para montaria, mas sua fama ainda era restrita ao mundo dos rodeios. “A consagração veio em 2005, quando fui convidado por Glória Perez, autora de América, para dar conselhos e dicas sobre o universo country, suas peculiaridades e seus costumes”, lembra ele, que, de tanto ser citado nas conversas entre os peões-atores da novela, acabou por interpretar a si próprio na trama.
Famoso, virou uma grife do rodeio e não parou mais de crescer. Hoje, aos 40 anos, é sinônimo de excelência em touros de montaria e recebe algo em torno de R$ 600 por animal a cada rodeio, valor bem superior ao pago aos pequenos tropeiros. Em média, são cedidos 30 animais por evento, o que lhe rende R$ 18 mil em uma semana. Agora, multiplique isso pelos 120 rodeios realizados pela sua equipe anualmente e chegamos a um faturamento próximo aos R$ 2,2 milhões/ano. Sem contar os patrocínios, como da montadora Dodge, marca que estampa na camisa. Prova de que os lucros dos rodeios vão muito além dos astros do PBR, o badalado campeonato mundial transmitido mundo afora.
Cara de um, focinho do outro: sozinho na foto, o lendário touro Bandido, que virou até estrela de novela. Acima, três clones do animal, utilizados por Paulo Emílio em sua lucrativa companhia de rodeios