18/02/2019 - 11:00
A brasileira BRF fez sua própria releitura do mito grego sobre a superação, que narra o embate entre Hércules e Aporia, uma espécie de gênio malévolo. Reza a lenda que, certa vez, a pequena Aporia impediu que Hércules atravessasse uma passagem estreita. Mas bastou o herói enfrentar a criatura, para ela aumentar de tamanho. Hércules só pôde seguir adiante ao parar de confrontá-la. Ignorada, Aporia diminuiu, dando espaço para o herói seguir seu caminho. A Aporia da maior processadora de alimentos do País, nesse caso, foram as operações Carne Fraca e Trapaça, deflagradas respectivamente em março de 2017 e em março deste ano pela Polícia Federal. O resultado foi o fechamento provisório de mercados e de unidades processadoras de carne da companhia. Mas, assim como Hércules, a BRF recuperou o que havia perdido. A lição, no entanto, não foi ignorar a dificuldade, mas aceitá-la e corrigi-la, consolidando uma postura de maior transparência. A tacada foi certeira. “Os números alcançados no terceiro trimestre de 2018 já mostram sinais positivos da estratégia de recuperação da BRF”, afirma Pedro Parente, diretor-presidente global da companhia. “Tivemos resultados operacionais com tendência de melhora na margem”.
A superação já aparece no resultado da empresa em 2017, com um faturamento de R$ 33,5 bilhões em 2017, representando uma leve queda de 0,8% ante 2016. Mas o saldo é positivo se for levado em conta o prejuízo de R$ 2,7 bilhões no mercado de proteína animal como um todo em 2017. Mesmo assim, a BRF continuou firme nos investimentos. Como ser a protagonista da primeira aplicação da tecnologia digital blockchain para o rastreamento de alimentos no País.
Por essa postura, a BRF sagrou-se campeã do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018, na categoria Agronegócio Direto Conglomerado. A empresa também ganhou como Melhor Gestão Financeira, na mesma categoria. Parte do bom resultado da companhia veio de R$ 1,6 bilhão investidos em 2017. Dessa aplicação, R$ 685 milhões foram para a melhoria e a modernização de frigoríficos, fábricas de ração e de laboratórios da empresa.
Os investimentos devem continuar fortes na companhia, já que Parente prevê a volta dos lucros. “O nosso planejamento estratégico está estruturado para uma recuperação em ondas”, destaca o executivo. “No primeiro ano, as margens param de cair. Em 2020, devemos voltar ao nível histórico de margens e, a partir de 2021, ficaremos acima dos níveis históricos”. A margem líquida é um importante índice de saúde do negócio, revelando o retorno do lucro mediante a receita. Se uma margem líquida é de 10% , significa dizer que, para cada R$ 1 de receita, houve 10 centavos de lucro. Em 2017, a BRF fechou uma margem líquida negativa de 3,3%. A ideia é que em 2020 ela alcance os patamares de 9% de margem, que foi a de 2015, o maior resultado desde a nova composição da empresa, com a fusão entre a Sadia e a Perdigão, em 2009.
Segundo Parente, por ser uma companhia de cadeia longa, é natural que a BRF precise de tempo para que os resultados se concretizem. Não é por acaso que a BRF tenha lugar garantido no Olimpo das maiores empresas de alimentos do mundo, como ocorre com a americana Cargill, a suíça Nestlé e a brasileira JBS.
Sediada na capital paulista e com uma história de 84 anos, a companhia consolidou um vasto império no Brasil e no mundo. No País, reúne 43 indústrias para o processamento de carnes de aves, suína e bovina, além de soja e outros alimentos. A BRF possui 20 centros de distribuição e 12 mil produtores integrados. No planeta, são 23 fábricas, em sete países. O time de funcionários é de mais de 105 mil pessoas, quase 90 mil apenas no Brasil. Toda essa magnitude contribuiu para o processamento de cerca de 5 milhões de toneladas de alimentos, em 2017. “Somos a maior exportadora de frango do mundo e a maior produtora de suíno, peru e frango do Brasil”, diz Parente. “Compramos quase 15% do milho produzido no País.” No mercado de aves, a companhia vendeu 2,1 milhões de toneladas de frango, em 2017, o que corresponde a 16,1% da produção nacional de aves. E quase metade de todo esse volume (49,2%) foi exportado.
Outra gigante de referência para a produção brasileira é a americana Cargill. A empresa é uma das que mais valoriza a equipe de funcionários, além de promover a construção de uma imagem corporativa o mais confiável possível. “Na prática, isso significa fazer tudo sempre da forma correta e não simplesmente percorrer o caminho mais fácil”, afirma Luiz Pretti, diretor-presidente da Cargill no Brasil. “A sólida posição de liderança no mercado global é construída diariamente sobre os pilares da transparência e do respeito aos nossos públicos: clientes, acionistas, funcionários e comunidade.” A multinacional é especialista na originação de commodities agrícolas, como a soja e o milho, além de industrializar outros alimentos, óleos vegetais e ração animal. Entre suas marcas mais famosas, estão os molhos de tomate Pomarola e Elefante, mais a linha de óleo e maionese Liza.
Em 2017, a subsidiária brasileira da companhia faturou R$ 34,2 bilhões, 6% acima do ano anterior.
O desempenho e a gestão refinada no negócio levaram a Cargill a ser a Melhor em Gestão Corporativa, na categoria Agronegócio Direto Conglomerado do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018. O reconhecimento vem especialmente por um programa de sustentabilidade que envolve sua equipe de 10,2 mil funcionários no País. A empresa tem um trabalho de relevância na gestão de jornada de trabalho, na saúde e na segurança dos funcionários e no uso do solo dos produtores parceiros, com ações de proteção de biomas e de matas nativas. “Uma avaliação de nossas operações apontou esses três temas como os mais importantes para avançarmos na gestão de sustentabilidade”, diz Pretti.
Uma das principais ações é a “Campanha pró Código Florestal”, cujo objetivo é engajar pequenos produtores a realizar o Cadastro Ambiental Rural (CAR), essencial para regularizar ambientalmente as propriedades rurais do País. A iniciativa alcançou 12 mil agricultores, relacionados à cadeia de abastecimento de soja. “São iniciativas como essa que garantem a confiança do nosso trabalho”, observa Pretti. Com sede em São Paulo, a Cargill possui 26 unidades industriais em 17 Estados e no Distrito Federal e trabalha com cerca de 6 mil produtores rurais. Por tudo isso, Cargill e BRF estão no Olimpo das grandes empresas do mundo.