02/10/2025 - 17:04
A Oxitec, empresa britânica de defensivos biológicos para controle de insetos e pragas, inaugura nesta quinta-feira, 2, uma fábrica no Brasil dedicada à produção e multiplicação de mosquitos que devem ajudar a reduzir a incidência de doenças comuns em regiões tropicais transmitidas pelo Aedes aegypti, como a dengue, a zika e a chikungunya. Localizada em Campinas (SP), a planta tem 1300 m² e capacidade para produzir 190 milhões de insetos por semana.
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Os mosquitos que agora serão produzidos pela Oxitec são modificados geneticamente com a introdução da bactéria Wolbachia. Essa técnica limita a transmissão do vírus da dengue e de outras arboviroses pelos mosquitos modificados.
Como a transmissão das doenças aos humanos é feita pela picada da fêmea do Aedes aegypti, as descendentes fêmeas geradas a partir desses insetos geneticamente modificados com a bactéria não chegam à fase adulta, logo, não disseminam o vírus da doença. A empresa tem planos de ser a maior ‘fabricante’ mundial de mosquitos capazes de reduzir a transmissão de doenças.
Fábrica da Oxitec em Campinas (SP) (Crédito: Oxitec)
A empresa não comercializa os insetos vivos e sim os ovos dos mosquitos que eclodirão. A maioria da produção é distribuída diretamente para entidades governamentais como prefeituras. Mas também é possível adquirir uma caixinha do produto como pessoa física, para isso, é necessário desembolsar R$ 180,00. Cada caixinha solta entre 100 e 200 mosquitos ao longo de um mês.
A Oxitec acaba de receber um aporte de US$ 12 milhões da Fundação Gates, entidade filantrópica do bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, e tem como um dos focos de atuação reduzir a incidência de doenças tropicais que podem se agravar e deixar sequelas ou até mesmo levar à morte.
Apesar de a empresa estar já iniciando sua produção, ela ainda aguarda a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para botar os mosquitos no mercado. O pedido ao órgão foi feito em março, mas ainda não houve resposta.

“Decidimos inaugurar antes da aprovação da Anvisa porque a nova temporada de dengue está se aproximando, queremos mostrar que estamos prontos. Assim que houver a liberação, temos capacidade para começar a produzir”, disse Natália Ferreira, diretora presidente da Oxitec no Brasil.
Programa do Ministério da Saúde
Em julho, o Ministério da Saúde inaugurou uma fábrica para a produção de mosquitos com Wolbachia em Curitiba (PR), por meio de uma parceria com a Fiocruz, a Wolbito do Brasil, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP).
A biofábrica paranaense tem uma produção que alcança 100 milhões de ovos por semana e aproximadamente 5 bilhões por ano.

Até o momento, seis cidades foram selecionadas para receber a primeira leva de mosquitos desde agosto, são elas: Brasília (DF), Valparaiso de Goiás (GO), Luziânia (GO), Joinville (SC), Balneário Camboriú (SC) e Blumenau (SC).
Como funciona uma fábrica de mosquitos?
Assim como na produção de qualquer animal no campo, o foco aqui é a reprodução. O processo de produção é altamente automatizado e segue o ciclo de vida do mosquito Aedes aegypti, desde o ovo até a fase adulta, antes de ser reembalado como ovo para distribuição
O processo começa com a multiplicação de ovos de linhagens já existentes. No caso da Wolbachia, os ovos chegam infectados (a bactéria é inoculada apenas uma vez em laboratório).
Os ovos são colocados em bandejas com água, utilizando um sistema de aquacultura. Este sistema é automatizado para controlar o fluxo de água e distribuir o alimento para as larvas. Nesta fase, que dura entre 8 a 10 dias, o mosquito passa do ovo para a larva e, em seguida, para a pupa (semelhante a um casulo).
Na fase de pupa (que ainda é aquática), é feita a separação de machos e fêmeas por tamanho, pois as fêmeas são ligeiramente maiores. Essa separação é crucial para manter proporções conhecidas nas gaiolas.
As pupas separadas são colocadas em grandes gaiolas, onde emergem como mosquitos adultos (alados). Machos e fêmeas acasalam nas gaiolas.
As gaiolas têm panos pretos usados para que os mosquitos possam pousar, descansar e conservar energia para o acasalamento. Por fim, as fêmeas põem os ovos em papéis molhados.

Os ovos são selados em potes que contêm também a ração para as larvas se alimentarem.
O produto finalizado, na forma de ovos, é estável por cerca de seis a oito semanas (shelf life) e pode ser enviado por transportadoras para qualquer lugar do mundo, uma grande vantagem logística sobre o transporte de mosquitos adultos.
A IstoÉ Dinheiro procurou a Anvisa e o Ministério da Saúde para um posicionamento, mas ainda não teve resposta. O espaço segue aberto e o texto será atualizado quando houver retorno.
*Estagiário sob supervisão