Buranello (à esq.) e Catraio: aposta na securitização

Olhando à primeira vista, parece uma salada incompreensível de letras: LCA, CRA, CDCA, CTRA. Pouco conhecidas, essas siglas representam uma das fronteiras mais promissoras do mercado financeiro, os papéis lastreados no agronegócio. Lançadas em 2004, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são um título garantido por créditos bancários à atividade agrícola. São, de longe, os mais conhecidos do mercado. Do total de R$ 22 bilhões desses títulos em circulação no fim de outubro, R$ 17 bilhões ou 78% correspondem às LCAs, um aumento de 34,6% em 12 meses. Nesse período, porém, outros papéis apresentaram crescimentos ainda mais expressivos. Apesar de distorcido pela pequena base de comparação, o aumento dos Certificados de Recebíveis Agropecuários (CRA) foi de 611%. Outros papéis, como os Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e sua forma simplificada, os CTRA, também cresceram na casa dos dois dígitos.

Esses títulos são muito parecidos. Eles funcionam como uma securitização, ou seja, a emissão de um papel que paga juros e cuja remuneração é garantida por empréstimos concedidos aos produtores. As diferenças ficam por conta das formas de assegurar o dinheiro dos investidores e de quem emite o papel. As LCA são cobertas por empréstimos bancários, as CRA provêm de operações lastreadas por créditos concedidos por empresas não financeiras. O mercado para as LCA é pujante. Um dos bancos que devem apostar em sua emissão para alavancar operações é o recém-criado Original, produto da fusão dos bancos JBS e Matone (veja a reportagem na página 84). Segundo Emerson Loureiro, presidente do Original, o instrumento financeiro tem duas vantagens. A primeira é a de mitigar o risco para o banco, pois diversifica a forma de captação. A segunda é que esses papéis atraem investidores por oferecer isenções fiscais. “Para cada real que emprestamos ao agronegócio, podemos emitir outro em letra”, diz.

 

No caso das CRA, trata-se de um serviço prestado pelas companhias securitizadoras, que analisam os empréstimos e conferem o trabalho dos auditores. “O potencial de mercado das CRA é enorme, pois ele permite a participação de grandes empresas que não são instituições financeiras”, diz Carlos Catraio, da Brasil Agrosec, securitizadora paulista fundada em 2010. No início de novembro, a Brasil Agrosec recebeu um aporte de capital de R$ 2,1 milhões de quatro acionistas: os bancos Fator, Indusval, Original e Ourinvest, que passaram a deter 92% de seu o capital. “A participação dos bancos nos dá capital e credibilidade”, diz Catraio. O conselho de administração da Brasil Agrosec é presidido por Manuel Felix Cintra Neto, ex-presidente da Bolsa de Mercadorias & Futuros e sócio do Banco Indusval. Segundo Cintra, a empresa poderá realizar aumentos de capital, seja pelos acionistas, seja por outros participantes.

O potencial de mercado é muito grande. “Pelo menos 30% do Produto Interno Bruto do País vem do setor agrícola, mas muitas dessas atividades não são financiadas pelos bancos”, diz o advogado Renato Buranello, sócio do escritório paulista Demarest & Almeida e especialista no setor. “Todas essas atividades são emissores em potencial de CRA”, diz ele.