JORGE PICCIANI, pecuarista, preside o Grupo Monte Verde. É deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj)

Com a ajuda das universidades e centros de pesquisa, a pecuária brasileira tornou-se líder no desenvolvimento de técnicas de clonagem animal, fertilização in vitro (FIV), transferência de embriões (TE) e inseminação artificial (IA), fazendo com que a qualidade e a produtividade do plantel brasileiro dessem um salto na última década.

A genética, aliada à vantagem competitiva de nossos animais se alimentarem basicamente de capim – o chamado boi verde -, levou o Brasil ao posto de maior exportador de carne do mundo, gerando divisas da ordem de US$ 5 bilhões.

Nosso consumo per capita, o quinto do mundo, está em 35 quilos/ano e, com o aumento do poder econômico do brasileiro, chegará a 50 quilos nos próximos dez anos.

Pastejo: há muito o que evoluir no Brasil

No entanto, enfrentamos hoje um imenso desafio, que é conciliar nossa atividade com o respeito ao meio ambiente, aos animais e ao ser humano.

Além de serem questões relativas à sobrevivência do planeta, tratase também de uma nova exigência do mercado. Não basta mais o boi verde, também a pecuária tem que ser verde.

A resposta para esse desafio existe e passa necessariamente pelo manejo adequado dos pastos, através da implantação, em larga escala, de técnicas como o pastoreio Voisin. O método, criado no pósguerra, na França, consiste em dividir as pastagens em um grande número de piquetes, limitados por cercas eletrificadas através de energia solar.

O tempo ideal de permanência dos animais nestes piquetes é de 24 horas, mas pode-se tolerar, em fazendas grandes, até três dias. São muitas as vantagens desse sistema. Na pecuária extensiva, modelo mais praticado no Brasil, os animais ficam por longos períodos numa mesma área.

Assim, comem o rebrote do capim, enfraquecem as plantas forrageiras e degradam o solo. Segundo cálculos da Embrapa, existem 72 milhões de hectares de pastos degradados no País.

Custa caro recuperar essas áreas. São necessárias máquinas consumindo óleo diesel para arar, gradear e semear a terra, além de fertilizantes, herbicidas, sementes. Muitos acabam, por isso, optando por abrir novas áreas de pastagens, destruindo áreas de florestas, atitude inconcebível no mundo moderno.

No método Voisin, isso não ocorre. Como os animais ficam no piquete por pouco tempo, o processo de crescimento do capim, que começa cerca de 18 horas depois do seu corte, não para nunca. Enquanto o gado está num piquete, o capim cresce livre nos outros. Isso tem efeito direto na captação de CO2 da atmosfera.

É sabido que as plantas em crescimento, por conta das altas taxas de fotossíntese, absorvem mais gás carbônico. Isso tem consequências muito positivas sobre o aquecimento global. Na medida em que não exaure a terra, esse método acaba com a necessidade de abertura de novas pastagens e diminui o uso de adubos químicos e a queima de óleo na recuperação das áreas.

Na medida em que as cercas são ligadas por fios eletrificados, gasta-se menos madeira para construí-las. E, ainda por cima, é usada uma fonte de energia renovável: o Sol. No Brasil, o grande difusor desse sistema é o engenheiro agrônomo Humberto Sório, professor da Universidade de Passo Fundo (RS), que há 40 anos se dedica a implantar e prestar assistência a fazendas que, como a Monte Verde, buscam sustentabilidade.

A resposta para o futuro da pecuária brasileira está, pois, mais uma vez na tecnologia e na inteligência disponível nas universidades e centros de pesquisas.

Com métodos corretos de manejo, o pecuarista brasileiro, hoje considerado vilão da natureza, tornar-se-á um aliado do meio ambiente, produzindo mais e melhor. Assim, o setor continuará a gerar as riquezas que o País tanto precisa e o consumidor poderá saborear, com ainda mais prazer, um churrasco politicamente correto.

“Custa caro recuperar áreas degradadas, por isso muitos abrem novas áreas”