Não há o que discutir: o ano de 2007 entrou para história como um divisor de águas no mundo dos leilões. Impulsionado pelas exportações de carnes, que bateram todos recordes com embarques de mais de R$ 4,5 bilhões, o fornecimento de genética bovina entrou para a lista dos grandes investidores. O mercado enxerga que a humanidade precisará de carne para se alimentar, portanto, a pecuária se tornou um bom negócio no longo prazo. Não há dados oficiais sobre esse nicho do agronegócio. Mas levando em consideração a soma de todos os remates do ano passado, encontra- se um número próximo de R$ 1 bilhão. Desse total, aproximadamente R$ 650 milhões são de gado puro de origem, chamado de P.O. Dentro desse “subgrupo” constam justamente vendas em centenas de leilões de gado P.O. Brasil afora. O objetivo desses remates é fornecer animais melhoradores para os rebanhos comerciais do País. Em síntese, todo trabalho realizado pela elite da pecuária que chega ao bife de casa. Como resultado, bois são abatidos mais cedo e conferem maior rentabilidade e menos custos. A carne brasileira melhora de qualidade e ganha espaço no mercado internacional. Como resultado de toda essa equação, os negócios ligados à carne ganham rentabilidade, o que desperta a atenção de gente que sabe como ganhar dinheiro. Exemplo é o executivo José Carlos Grübisich, presidente da Braskem, maior petroquímica da América Latina. Ele entrou para a criação de nelore de elite há um ano e já faz suas vendas. Sua intenção é aliar uma atividade rentável com algo prazeroso. Grübisich já realizou suas primeiras vendas e tem dito que os negócios têm andado mais rápido do que o esperado. Afora o interesse em ter alguma atividade ligada ao agronegócio, ele recebeu o incentivo do amigo e criador Pedro Novis, presidente do Grupo Oderbrecht.

O mercado da pecuária também tem visto a entrada de celebridades do mundo pop. Quem entrou para valer na criação de nelore de elite foi a cantora baiana Ivete Sangalo. Em sociedade com o empresário e criador Olavo Monteiro de Carvalho, ela realizou o leilão “Levanta Poeira”. Com prenheses escolhidas na ponta de dedo, o evento rendeu R$ 4,65 milhões. O resultado surpreendeu a cantora, que se disse satisfeita com sua “estréia” no agronegócio. “Fui muito bem recebida pelo setor e só tenho a agradecer”, afirma. Quem também debutou em grande estilo foi o empresário Wilson Marques, da banda Chiclete com Banana. Em evento realizado no luxuoso hotel Catussaba, em Salvador, seu esforço rendeu R$ 3,6 milhões. “Mesmo que não tivesse sido tão bom o resultado, só por ter tantas pessoas importantes e amigas presentes já teria valido a pena”, avalia. Foi em seu evento que o cantor Raimundo Fagner comprou seu primeiro nelore. E, no dia seguinte, repetiu a dose no remate de Ivete Sangalo e Olavo Monteiro. No total, o cantor investiu cerca de R$ 500 mil e pretende iniciar uma criação. Mais novo entusiasta do agronegócio brasileiro e da pecuária em específico, o publicitário Nizan Guanaes, da Agência Africa também ingressou como pecuarista no ano passado. Seu aporte foi de R$ 350 mil e com isso ele estreita o relacionamento com o setor. Nizan é responsável pelas diretrizes do Canal Rural, do Grupo RBS, que faturou nada menos do que R$ 500 milhões com transmissões de leilões. Animado, ele diz que o agronegócio não é só o futuro, mas o presente que move o Brasil.

Mas os grandes negócios aconteceram, mesmo, no mês de setembro, a começar pelo remate promovido pelo presidente da Nestlé do Brasil, Ivan Fábio Zurita. O evento, promovido na cidade de Araras, interior de São Paulo, faturou R$ 10 milhões. O leilão ainda marcou uma das maiores vendas do ano, quando o executivo vendeu 50% do touro Feitor, por R$ 1 milhão, ao cantor Roberto Carlos. No mesmo leilão, o cantor vendeu um de seus animais de sua criação por R$ 300 mil. O exemplar foi adquirido por um condomínio formado por Marcelo Ribeiro de Mendonça, do Grupo Vale do Verdão, e Benedito Mutran Filho, importante pecuarista do Pará.

O maior negócio do ano, porém, aconteceu poucos dias depois do pregão promovido por Zurita. O dono da festa foi o criador Jonas Barcellos, que movimentou em seu pregão R$ 17 milhões. A fêmea Nalisha, então propriedade do criador Marco Paulo Carneiro, saiu pela pequena fortuna de R$ 2,9 milhões. O comprador foi um condomínio formado pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, o criador e organizador do leilão, Jonas Barcellos, e o empresário João Carlos Di Gênio, do Grupo Objetivo. Quércia afirmou que estava investindo forte no nelore, porém, advertiu: “Já estou tendo retorno.” Para 2008, todos os grandes leilões estão confirmados e as perspectivas são as mesmas: bons negócios e dinheiro no bolso.

ELES LEVANTARAM POEIRA

A estréia do consórcio ISON, Ivete Sangalo e Olavo Monteiro, não poderia ser melhor. O evento realizado em 29 de novembro, em Salvador, contou com a nata da pecuária brasileira. O primeiro lote da noite, Atriz, da tradicional linhagem Hierarca foi vendida por R$ 420 mil, tendo a cantora comandando os lances. O comprador foi um condomínio formado pelos pesos-pesados Jonas Barcellos, Jayme Miranda, Alice Ferreira Sampaio, Duda Biagi e Orestes Quércia. O remate ainda marcou a entrada do publicitário Nizan Guanaes, da Agência África, no mercado da pecuária de elite. Sem dúvida um cartão de boas vindas ao mercado do nelore de elite.

ELE É O DONO DA FESTA

Proprietário da Fazenda Mata Velha, o criador Jonas Barcellos garantiu, mais uma vez, o grande remate do ano. Seu leilão faturou R$ 17 milhões e ainda efetuou a maior venda da história mundial do nelore. A fêmea Nalisha II, então propriedade de Marco Paulo Carneiro, foi vendida por R$ 2,9 milhões. O próprio Barcellos fez parte do consórcio que arrematou a nelore mais cara do mundo. Seu evento cresceu 100% em relação ao ano anterior e contou com a participação de duas mil pessoas. Promovendo seu Leilão Mata Velha desde 2001, Barcellos, ao lado de outros importantes pecuaristas, tem sido um dos grandes chanceleres da raça, trazendo, todos os anos, novos investidores para o nelore de elite.

O EMBAIXADOR DA PECUÁRIA

Executivo de primeira ordem no País, Ivan Fábio Zurita divide sua vida entre a presidência da Nestlé do Brasil e o cotidiano de pecuarista de sucesso. Seu leilão, realizado na cidade de Araras, interior de São Paulo, rendeu no ano passado R$ 10 milhões. Nos últimos anos ele tem feito o papel de “embaixador” da pecuária para novos investidores. Isso porque Zurita tem trazido todos os anos gente nova para a pecuária de elite. Entre alguns nomes famosos está o humorista Tom Cavalcante, o cavaleiro Olímpico Doda Miranda e, mais recentemente, o cantor Roberto Carlos. O “Rei” foi o comprador do lote mais caro do evento, realizado em setembro do ano passado, pagando R$ 1 milhão por 50% de um touro. Ele diz que pretende continuar investindo em gado de elite.

“2008 SERÁ AINDA MELHOR”

Paulo Horto, dono da Programa Leilões, diz que o mercado seguirá aquecido este ano com incremento nos ganhos

“Pode aplaudir!” A expressão usada por Paulo Horto, dono da Programa Leilões, já é conhecida pelos criadores. De fato, 2007 foi um ano digno de aplausos. O milionário circuito de leilões de elite contou com alta qualidade genética, recordes de preços e novos investidores. Confiante na pecuária nacional, Horto comemora o desempenho do setor e das quatro leiloeiras que comanda (Programa, Remate, Central e Nova Leilões). Confira a entrevista concedida à DINHEIRO RURAL:

DINHEIRO RURAL – Qual a sua avaliação do ano de 2007?

PAULO HORTO – Foi um grande ano para a pecuária brasileira, tanto a seletiva quanto a extensiva. Na pecuária seletiva, o mercado se mostrou mais maduro e mais consistente, atraindo assim investidores diversificados e conservadores. Do início ao fim de 2007, a média dos lotes ofertados e do faturamento dos remates cresceu, inclusive no segundo semestre. Na pecuária extensiva, o ano foi de recuperação de perdas, com aumento do consumo interno e das exportações de carne bovina.

RURAL – A que se deve o bom desempenho do mercado?

HORTO – O resultado positivo é fruto de organização e eventos bem planejados. O mercado vem se tornando cada vez mais exigente, o que obriga os promotores a investir, cada vez mais, na genética a ser ofertada. E os preços são conseqüência dos produtos apresentados.

RURAL – Muitos empresários e artistas vêm investindo na pecuária seletiva. Até que ponto a atividade pode ser encarada como uma modalidade rentável de negócio?

HORTO – Todo negócio tem que ser bem administrado para ser rentável, e na pecuária seletiva não é diferente. Quem realiza um trabalho com foco no melhoramento genético tem tudo para se destacar no setor. Mas, além da rentabilidade, o prazer da criação e os relacionamentos também contribuem para atrair investidores dos mais variados segmentos – artistas, profissionais liberais, grandes empresários, etc.

RURAL – Em 2007, a Programa Leilões completou 35 anos. Quais os diferenciais que ajudam a leiloeira a manter-se líder no setor?

HORTO – Maturidade, relacionamento, experiência e uma equipe que é apaixonada pelo que faz.

RURAL – Quantos leilões a Programa realizou em 2007? Qual foi a quantidade de novos clientes? E qual o faturamento da empresa?

HORTO – Aproximadamente 250 leilões, mais de 100 novos clientes e um faturamento cerca de 18% superior ao do ano passado.

RURAL – O que precisa ser melhorado para que o segmento continue em expansão? E o que esperar para 2008?

HORTO – Eu acho que tudo deve ser melhorado sempre: a genética, os serviços e tudo que se relaciona direta ou indiretamente com este mercado. Estamos muito confiantes com 2008, só não podemos esquecer que para colher bem é preciso plantar bem.

PAULO HORTO: quem faz um trabalho com foco no melhoramento genético tem tudo para se destacar