Depois de se envolver em uma polêmica sobre o tema, no ano passado, o banco digital Nubank informou nesta quarta-feira, 10, que vai definir metas para reduzir a desigualdade racial em sua equipe, tanto em posições de entrada quanto em cargos de chefia. Segundo disse a companhia ao Estadão, o plano da companhia é garantir, em cinco anos, um ambiente de trabalho com um quadro geral de 30% de funcionários negros; em cargos de gerência, o índice desejado é de 22% até 2025.

Hoje, de acordo com a empresa, 23% de seus colaboradores são pretos ou pardos – conforme a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -, enquanto entre nos cargos de chefia o porcentual é de 18%.

Para mudar de patamar, a instituição calcula que será necessária a contratação de aproximadamente 2 mil pessoas negras até 2025. Segundo Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, que se envolveu em uma polêmica ao dizer, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que seria difícil encontrar lideranças negras e que não se podia “nivelar por baixo (a equipe)”, o episódio serviu para abrir os olhos do banco digital sobre o tema.

“Com o episódio do Roda Viva nos demos conta que, apesar de termos diversidade como um valor ao longo da nossa história, tínhamos avançando pouco na pauta racial. Desde então, temos refletido sobre o quanto precisamos agir para combater as barreiras impostas pelo racismo estrutural, e ao mesmo tempo em que aceleramos ações que já estavam nos planos e nós também incluímos diversas outras para maximizar o nosso impacto”, disse a executiva, em resposta enviada por e-mail à reportagem.

O Nubank disse ainda que a inclusão racial em suas contratações já vem em trajetória crescente. “Em 2017, 19% das contratações eram de pessoas autodeclaradas pardas ou pretas. Em 2020, esse número foi de 27%. A expectativa é que 30% de todos os funcionários contratados até o final de 2021 sejam negros. Em 2025, esse número será de 37%”, explicou o Nubank, em comunicado.

Nesta semana, o Estadão divulgou o índice socioambiental dos oito maiores bancos brasileiros em ativos totais, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Uma das críticas dos autores do estudo foi justamente a falta de diversidade da equipe dessas instituições. Entre as conclusões do Idec está a baixa representatividade feminina dos cargos de chefia e a total ausência de um censo do total de funcionários negros em cargos de gerência e auditoria.

Dentre as 2 mil contratações previstas até 2025, explicou o Nubank, mais de 500 serão destinadas ao time de engenharia, pelo menos 150 para vagas de analistas de negócios e mais de 250 para posições de gerentes de produto, designers e cientistas de dados. A empresa disse ainda que a realização do censo organizacional é parte de um plano de ação dedicado à questão do racismo estrutural, divulgado pela instituição em novembro de 2020, já na esteira da polêmica das declarações ao Roda Viva.

Diversidade como ferramenta de negócio

No e-mail enviado à reportagem, Cristina Junqueira também afirmou que, de maneira geral, a preocupação com diversidade acaba trazendo benefícios ao negócio: “Sempre acreditamos fortemente na diversidade e inclusão, não só porque sabemos que são ingredientes fundamentais de qualquer sociedade justa, produtiva e saudável, mas também porque é clara a vantagem competitiva de desenvolver produtos para todos os brasileiros, através de times que reflitam a pluralidade que encontramos na sociedade.”

Sobre iniciativas como a do Magazine Luiza, que desenvolveu um programa de trainees voltado à correção da inequidade racial da companhia, e da gigante alemã Bayer, que anunciou trainee e mentoria exclusivas para candidatos negros, a executiva afirmou: “Esse é um problema complexo e de difícil solução, e nesse sentido é ótimo que mais e mais empresas encontrem a sua maneira de contribuir para um mercado de trabalho mais diverso e inclusivo.”