28/07/2022 - 17:00
A mobilização de empresários em torno de temas políticos nunca foi tão grande como a vista hoje, às vésperas das eleições presidenciais, afirma o presidente da gigante de papel e celulose Suzano, Walter Schalka – um dos signatários da carta em defesa da democracia divulgada na terça-feira, 26. Para o executivo, o setor produtivo entendeu que tem, sim, a função de cobrar um planejamento estratégico para o País – algo que ele diz não existir há tempos. Por isso, defende o fim da polarização e o debate de temas relevantes. “Temos de buscar a pacificação, a volta da esperança e a reunificação das famílias e de grupos de WhatsApp, em vez da polarização que estamos vivendo.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Qual é a sua expectativa sobre a eleição presidencial?
Temos de buscar a pacificação do Brasil, a volta da esperança e a reunificação das famílias e de grupos de WhatsApp, em vez da polarização que estamos vivendo. É fundamental discutir os problemas reais que o Brasil tem, que são muito sérios e precisam passar por soluções estruturantes. Temos de resolver a questão da educação, que, apesar de universalizada, é de baixa qualidade, da desigualdade social e da falta de emprego, assim como a ineficiência administrativa do Estado. Precisamos sair da discussão pequena e construir uma solução pró-Brasil.
Como o sr. vê a questão ambiental no País?
O Brasil tem uma oportunidade única no mundo. O aquecimento global é indiscutível. O que buscamos agora são formas de revertê-lo. Isso tem a ver com a redução muito rápida das emissões de carbono, mas também com a regeneração. O Brasil tem a maior floresta do mundo. Se o Brasil chegar aos países do Hemisfério Norte e propor cobrar bilhões de dólares ao ano pela sua preservação, é muito barato para o mundo. Além disso, há o problema social da Amazônia, que é seriíssimo. Temos condições de fazer negociações de cabeça erguida, para que a preservação da Amazônia se volte a todos os brasileiros, e não aos ilegais que se beneficiam do desmatamento.
Sobre a eleição, é importante que o empresariado se posicione em conjunto?
Eu nunca vi, na minha experiência pessoal, a mobilização no mundo empresarial que estou vendo neste momento. Parece que caiu a ficha sobre o papel relevante que temos. Nossos votos são iguais aos das outras pessoas. Mas podemos ser líderes de opinião e colocar claramente (nossos posicionamentos) para todos os brasileiros e brasileiras.
Falta projeto de país para o Brasil? Estamos à deriva?
Há muito tempo. Quando um CEO assume uma empresa, a primeira coisa a fazer é um planejamento estratégico. Quando um presidente é eleito, ele precisa pensar como Estado. Qual é o projeto para o futuro e como gerar uma qualidade de vida adequada? Não podemos ser só um exportador de commodities. Qual é a nossa inserção na questão da digitalização global? Tirando empresas como Embraer e Weg, com participação global expressiva fora das commodities, como viramos esse jogo e preparamos o Brasil para o futuro?
Em que pé estão os projetos em Mato Grosso do Sul e no Espírito Santo?
Temos múltiplos projetos. Temos um projeto de aumento de base florestal, estamos fazendo um retrofit da fábrica de Aracruz, com investimentos de mais de R$ 600 milhões. Estamos construindo uma fábrica de celulose com investimentos na ordem de R$ 19 bilhões, sendo R$ 14,7 bilhões na parte industrial e todo o resto na área logística. Estamos terminando um terminal novo em Itaqui, no Maranhão. Nossa política é de reinvestir 90% da nossa geração de caixa. Em 2022, serão R$ 16,1 bilhões. É um dos maiores programas de investimento privado do Brasil. No ano que vem, será algo da mesma magnitude.
Qual é o trabalho ambiental da Suzano?
Não temos pegada ambiental, somos carbono negativo. Ampliamos nossa base florestal, mas preservamos 1 milhão de hectares (de floresta nativa). Vamos aumentar nossa base de preservação e plantaremos 30 mil hectares de florestas nativas. Além disso, plantamos 800 mil árvores por dia, 365 dias por ano. É o maior programa de plantio florestal do mundo.
Tem crescido a importância das marcas próprias da Suzano, voltadas ao varejo?
Há quatro anos, esse negócio de bens e consumo era uma apresentação de PowerPoint. Saímos do zero, e os analistas me perguntavam qual era a vantagem competitiva, porque não tínhamos marcas e distribuição. Dizia que tinha competitividade de custos e ICMS acumulado. Como somos exportadores, recebemos créditos e temos ICMS zerado na saída. Estávamos empoçando ICMS. Para resolver isso, montamos essa operação. Hoje, temos 60% do mercado no Norte, 28% do Nordeste e somos líderes no Rio e no Espírito Santo. Hoje, temos marca e distribuição, tudo construído dentro de casa.
Quando serão lançadas as novas fábricas?
A fábrica de Aracruz será a número um do mundo em termos de competitividade. Estamos dentro do cronograma e temos 21% concluídos. São 4 mil trabalhadores na obra, número que chegará a 10 mil nos próximos meses. Queremos ampliar nossa competitividade de custo para entrar em outros negócios. Estamos trabalhando com celulose para ser utilizada em roupas. Temos uma startup na Finlândia, a Spinnova, que tem duas fábricas, incluindo uma no Brasil, em modelo piloto. Também acreditamos que a árvore vai servir de base para a produção do bio-óleo para substituir combustíveis fósseis.
O que a empresa faz para desenvolver as comunidades nas cidades onde atua?
São três metas ESG. A primeira é sequestrar 40 milhões de toneladas de carbono até 2025. A segunda é tirar 10 milhões de toneladas de plásticos da natureza até 2030. A terceira é tirar 200 mil pessoas da pobreza, buscando dar renda sustentável para as comunidades e dando educação para a próxima geração.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.