O brasileiro está apreciando cada vez mais os cafés finos, os espressos e as máquinas que utilizam cápsulas para o preparo de blends especiais. Para atender à demanda de um mercado consumidor cada vez mais exigente, as indústrias do setor buscam por fórmulas para profissionalizar a produção. Entre elas estão a norueguesa Yara Fertilizantes e a torrefadora italiana Illycaffè (leia quadro). No mês passado, a Yara International, companhia que fatura globalmente US$ 14 bilhões por ano, anunciou um programa inédito no País chamado Projeto Nutricional para o Café. Chrystel Monthean, diretora de Cadeia de Valor da Yara Internacional, esteve no Brasil para dar início ao programa que é focado em assistência aos cafeicultores. A ideia é que eles melhorem suas práticas agronômicas. “Com o projeto, a empresa está assumindo um compromisso de longo prazo com o setor”, diz Chrystel. Em 2014, a empresa investiu globalmente    US$ 19,4 milhões em pesquisa. A expectativa é alocar 20% dos próximos investimentos para o grão. “Queremos colaborar com os produtores de café no Brasil e no mundo.”

O projeto de assistência começou no Vietnã, em 2010. No país asiático, os produtores amargavam perdas na produção por exagerarem no uso de defensivos e fertilizantes. Para mudar esse cenário, o governo vietnamita passou a liderar uma força tarefa com parcerias público-privadas, visando melhorar a qualidade do grão. Junto com ONGs e outras empresas do setor, a Yara participou da iniciativa com a missão de desenvolver um plano nutricional sob medida para os cafeicultores desse país. De lá para cá, o programa só colheu bons resultados. “Demonstramos que é possível reduzir a quantidade de fertilizantes em 10%, mantendo a mesma produtividade”, diz Chrystel. “Além disso, a aplicação mais eficiente dos defensivos melhorou a rentabilidade do agricultor em 14%.” 

Na safra 2014/2015, o país asiático está colhendo 23 milhões de sacas de café, de acordo a Associação de Café e Cacau do Vietnã (Vicofa, na sigla em inglês). É o segundo maior produtor mundial do grão, atrás apenas do Brasil, que deve produzir neste ano 44,1 milhões de sacas. “O Brasil está à frente de muitos países, mas ainda faltam alguns conhecimentos sobre nutrição para tirar da planta todo o seu potencial produtivo”, diz Chrystel. Neste ano, além do Brasil, o projeto também irá para Uganda, na África. No ano passado, ele foi implantado na Colômbia, no México e na Tanzânia.

Segundo Paulo Yvan, diretor de Produto da Yara no Brasil, com um programa nutricional adequado os produtores brasileiros podem elevar a produtividade de suas lavouras entre três e seis sacas de café por hectare. A produtividade média em Minas Gerais, o maior Estado produtor, é de 30 sacas por hectare. Considerando uma cotação de R$ 450 pela saca do grão, a renda adicional média do produtor pode ser de até R$ 2 mil por hectare. “Uma planta que recebe nutrição na medida exata produz sempre mais e é mais resistente a pragas e doenças”, diz Yvan. “Além disso, ela se recupera melhor após a colheita do grão, evita a queda da florada e reduz a bienalidade.”

Para responder à demanda no campo, a Yara mantém em Hanninghof, na Alemanha, um grupo de pesquisadores que desenvolve as linhas gerais da plataforma de nutrição. No Brasil, o projeto terá 20 profissionais atuando nas lavouras de café, entre técnicos de campo e agrônomos. A empresa também pretende firmar parcerias com universidades para desenvolver pesquisas, nos mesmos moldes do projeto vietnamita.

O PRÓXIMO SALTO DO GRÃO NO BRASIL 

Andrea Illy diz que o produto brasileiro pode evoluir mais

O presidente da Illycaffè, Andrea Illy, afirma que daqui para a frente, cada vez mais, as práticas agronômicas vão influenciar na gestão da lavoura. Em março, Illy esteve no Brasil para a entrega do 24º Prêmio Ernesto Illy de qualidade do café para espresso, do qual participaram 38 produtores de Minas Gerais e dois de São Paulo. “As mudanças climáticas vão exigir adaptações”, diz Illy. “O aquecimento global e as secas impactarão cada vez mais a rotina do campo.” A Illycaffè, que faturou globalmente E 374 milhões em 2013, há mais de duas décadas incentiva no Brasil a produção de cafés especiais, através do pagamento de bônus, cursos e assistência técnica ao produtor. Atualmente, cerca de 70% das amostras do grão que a companhia recebe de produtores parceiros são aprovadas. O restante é barrado por apresentar grãos com imperfeições, imaturos ou fermentados. De acordo com Illy, esse quadro pode melhorar, com a padronização dos processos de produção em toda a cadeia, do plantio à xícara. “Seria bom produzir um café mais sustentável, diversificar as variedades e desenvolver novas máquinas de colheita”, afirma. “O Brasil vai iniciar uma evolução, do grão especial para o café de excelência.”