01/06/2012 - 0:00
META: o programa pretende ampliar ou recuperar 40 milhões de hectares até 2020
Estimativas do Ministério da Agricultura (Mapa) apontam para mais de 30 milhões de hectares degradados e inférteis no Brasil. O dado, alarmante, expõe uma grande incerteza ao agronegócio no País: a produtividade no campo consegue preservar o solo e evitar novos impactos ambientais? Para solucionar problemas como este, o governo vem tentando, há dois anos, tirar do papel o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), uma política de crédito que financia técnicas agropecuárias sustentáveis como plantio direto na palha, integração lavoura-pecuária floresta ou recuperação de pastagens degradadas. A ideia é ampliar ou recuperar 40 milhões de hectares até 2020, reduzindo até 146 milhões de toneladas de CO² jogados na atmosfera. Ainda não se sabe que fração dessa meta efetivamente já foi alcançada e, conforme o último balanço disponível do Plano Safra de junho do ano passado até abril deste ano, os produtores tomaram apenas 26% do total de R$ 3,15 bilhões de crédito colocados pelo governo para o Programa ABC. Um desempenho ainda fraco, mas que mostra que o apetite por este financiamento melhorou. Nesses dez meses da atual safra os bancos já emprestaram R$ 840,9 milhões, ou seja, o dobro dos créditos concedidos na safra anterior, de R$ 419 milhões.
ARMINDO KICHEL: para o pesquisador da Embrapa, falta conscientização sobre as novas práticas sustentáveis
Juntos, Banco do Brasil – com recursos próprios – e 20 bancos privados como Bradesco, Itaú e Santander, e públicos regionais – com dinheiro repassado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – aprovaram somente 30 projetos pelo ABC, ao longo de todo ano safra 2010/2011, quando foi lançado o programa. A dois meses de terminar o ano safra 2012, até abril, porém, o número de contratos subiu para 3,2 mil. No mesmo período, o BNDES já concedeu R$ 240 milhões contra R$ 40 milhões durante o ano-safra anterior. “O programa tem uma taxa de juros muito atrativa, de 5,5%, e já é um dos nossos carros- chefes”, afirma Caio Barbosa, gerente de Suporte aos Programas Agropecuários do BNDES, que tem à disposição R$ 2,3 bilhões para serem emprestados. A saída do Mapa para tornar o programa ABC mais conhecido e acessado foi criar, em julho do ano passado, grupos de trabalho nos Estados formados por secretarias de Agricultura, Meio Ambiente e Trabalho, instituições como a Embrapa, associações e cooperativas de produtores, além de universidades. O programa já está implantado em 16 unidades da federação, com Minas Gerais liderando o desembolso de crédito, com R$ 162,4 milhões contratados. “A maior parte dos empréstimos vai para plantio direto na palha, recuperação de pastagem degradada e integração lavoura-pecuária-floresta”, diz o coordenador de Manejos Sustentáveis do Mapa, Elvison Ramos. Essas práticas são as campeãs de demanda no Banco do Brasil, responsável por financiar 86% dos recursos tomados no âmbito do Programa ABC. Segundo o vice-presidente de Negócios do BB, Osmar Dias, quando assumiu o cargo, em abril de 2011, o banco não havia recebido um projeto sequer para aquisição desse crédito. “Tivemos então que disparar o início do programa”, disse Dias. Já no atual Plano Safra, a situação se reverteu. O banco fechou o acumulado de junho de 2011 a maio deste ano com R$ 724 milhões de empréstimos a 2,29 mil produtores, o equivalente a 71,5% do total de 3,2 mil contratos feitos pelos bancos operadores do ABC no período. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) também está fazendo um grande esforço para divulgar o Programa ABC. A entidade já produziu uma cartilha sobre esse crédito em vários Estados, está concluindo um vídeo que será mostrado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e ainda prepara para este ano a publicação de um estudo sobre o retorno econômico de práticas de manejo sustentável. “Queremos mostrar para o produtor que o seu custeio não vai aumentar em função da agricultura de baixo carbono”, diz a superintendente técnica da CNA, Rosemeire Cristina dos Santos.
Para o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, em Mato Grosso do Sul, Armindo Kichel, apesar dos avanços dos produtores do seu Estado, ainda falta conscientização sobre as novas práticas sustentáveis.
Clique na imagem para ampliar