A política econômica conduzida pelo governo federal, com foco no estímulo à demanda está equivocada. O problema do Brasil não é consumo, que está alto e sim as amarras provocadas por um Estado inchado e a perda de competitividade no setor produtivo, no caso industrial. Além disso, as medidas de incentivo ao aumento da demanda são compartimentadas, não há uma homogeneidade nas ações. Um país com inflação em elevação e crescimento baixo precisa rever sua agenda econômica.

Na maré contrária – salvando, mais uma vez, a economia – está o agro, com safras, exportações e giro financeiro recordes. Vejamos alguns números. Em 2012, as exportações do agro alcançaram US$ 95,81 bilhões, gerando um superávit de US$ 79,41 bi. Na prática, os embarques de produtos do agro compensaram o déficit de outros segmentos.

Para este ano, o valor bruto da produção das principais lavouras deverá atingir R$ 305,3 bilhões, aumento de 26,3% sobre 2012. Ou seja, o resultado financeiro da produção física nas fazendas está assegurado. Além disso, a safra de grãos na temporada 2012/13 está estimada em 180 milhões de toneladas, 8,6% acima do ciclo anterior. Com isso, novamente, o abastecimento interno está garantido com volume e preços.

Os produtores rurais vêm fazendo sua parte. Se não fosse a agricultura, a pecuária e a agroindústria de alimentos, o resultado do PIB no ano passado teria sido ainda pior. O agro é o mais dinâmico segmento e a mais segura fonte de recursos do País. Ao garantir a balança de pagamentos no campo positivo, o bom desempenho do setor permite também que as importações, em geral, cresçam. Se a renda aumentou, se o brasileiro compra cada vez mais carro importado e “iPads” da vida, o agro contribui muito para isso.

No entanto, o agro pode mais. Pode, por exemplo, continuar a fazer [e melhor] tudo o que vem fazendo, além de irrigar financeiramente o País para, por exemplo, funcionar [fato que já acontece na prática] como um fundo de investimentos para fomentar a inovação tecnológica em outros setores. O Brasil já é uma potência agrícola, com base numa atividade rural e agroindustrial altamente tecnológica e sustentável.

E podemos também ser uma potência industrial. Por que não? Os Estados Unidos são o que são, porque tem uma agricultura forte, e o parque industrial mais poderoso do planeta. Uma coisa não é oposta a outra. São complementares. É óbvio, que é inteligente focarmos no que somos bons [alimentos, agroenergia, minério, petróleo]. O mundo precisa disso tudo.

Contudo, podemos também enveredar ainda mais por outras áreas. Temos feitos nisso, como a aviação [leia-se, a Embraer], a indústria criativa [moda, softwares, publicidade], o setor automobilístico, com o Brasil tornando-se plataforma global de modelos, com o pioneirismo da tecnologia do etanol de cana-de-açúcar, só para citar alguns exemplos.

Desafios
Porém, existem obstáculos que se não forem superados trazem ameaças ao agro, e pelo efeito multiplicador do setor, aos outros segmentos da economia também. Os entraves mais proeminentes são a falta de um seguro rural e a infraestrutura logística de armazenagem, transportes e portos.

O seguro não andou no País. A despeito das subvenções estaduais e federais, do movimento de seguradoras e resseguradoras, a coisa está represada. O prêmio é caro, a área de cobertura é baixa, os dados de produção para a definição das apólices são insuficientes. Uma proposta de seguro de renda já amplamente debatida no setor ainda não encontrou receptividade no governo federal. Enquanto isso, o produtor continua desassistido, pagando a conta de intempéries climáticas ou da volatilidade dos mercados sozinho.

O mesmo acontece na infraestrutura logística. Apesar de algumas obras, especialmente no Arco Norte, voltadas a desafogar o escoamento das safras, a situação é perversa para o produtor, que tem sua renda sequestrada pelas rodovias ruins, malha ferroviária reduzida, falta de hidrovias, e portos saturados.

Estas são questões estruturais que atravancam o crescimento do agro, abrem espaço para a concorrência de outras nações produtoras agrícolas, com desdobramentos negativos para o País, e que precisam [para ontem] de soluções viáveis e concretas.