Os preços do açúcar são os mais altos da série histórica, no Brasil e no exterior

Desde que começou a contabilizar a série histórica do preço do açúcar, ainda na década de 1980, a consultoria Safras e Mercados nunca viu preços tão altos. A média histórica brasileira é de R$ 32 por uma saca de 60 quilos. Hoje, o preço está cotado a R$ 72. Exatamente o dobro. No etanol, as coisas também vão bem quando se observam os fundamentos: o preço de custo para as usinas está em 11 centavos de dólar e o comércio internacional está na casa dos 29 centavos. “São os melhores preços dos últimos tempos”, diz o analista de mercado Miguel Biegai. Para Eduardo Pereira de Carvalho, expresidente da União da Indústria Canavieira, o ano está resolvido. “Estamos numa fase maravilhosa. Há alguns problemas, mas nada que seja desanimador”, analisa. E, por incrível que pareça, até para os produtores a coisa não está ruim. Pelo menos para quem conseguiu colher. “É uma fase boa, principalmente porque as usinas estão tomando fôlego e alguns players que não estavam pagando já estão honrando seus compromissos”, explica Fernando Bueno, que possui terras em Agudos, cinturão da cana, na região de Ribeirão Preto. Mas, se tudo está tão bom, por que os preços estão tão altos nas bombas para o consumidor final? Será que o etanol deixou de ser competitivo? Sim. E não.

Atualmente, apenas em três Estados brasileiros o etanol está competitivo para o consumidor final: Mato Grosso, Tocantins e Goiás. Isso graças a algumas diferenças tributárias que ainda conferem àquelas localidades algumas vantagens que mantêm os preços mais baixos nas bombas. Em São Paulo, maior produtor brasileiro, o consumo tem caído drasticamente desde que o combustível verde ultrapassou a barreira de 70% do valor pago por um litro de gasolina. Mas o problema vai um pouco além da equivalência econômica. Hoje há um desajuste entre oferta e demanda. Da safra prevista de 550 milhões de toneladas de cana para 2009/2010, que acaba de se encerrar, apenas 535 milhões foram colhidos.

 

Com os altos preços do açúcar, 5% da safra migrou para o alimento, deixando de lado a produção de combustível. Como resultado final, há uma proporção de 56,8% da cana colhida destinada para o álcool. No ano passado, por exemplo, a proporção esteve em 60,5% em favor do carburante natural. “Essa é uma questão de mercado, que deve se normalizar muito em breve”, prevê o analista do banco holandês Rabobank, Andy Duff. “Não teremos uma crise de abastecimento, como chegou a ser ventilado na imprensa.”

Charles Grassley: o senador americano, do lobby do milho, explica que será difícil manter a taxa sobre o etanol brasileiro por mais um ano

Andy Duff: o analista do Rabobank diz que o mercado está favorável para o setor canavieiro e o Brasil tem feito sua parte nos investimentos

No dia 21 de janeiro, a União da Indústria Canavieira (Unica) soltou uma nota a fim de esclarecer um posicionamento que em princípio parecia polêmico e deu espaço para especulações. Em 30 de outubro de 2009, a entidade enviou correspondência à Câmara de Comércio Exterior (Camex) solicitando a eliminação da tarifa de 20% cobrada pelo Brasil sobre importações de etanol. Naquela época, os estoques começavam a baixar e ventilou-se a possibilidade de o Brasil, ao invés de exportar o combustível, passar a ser um importador. Segundo explica a entidade, o pedido reflete tão-somente posição histórica da agremiação.

Fernando Bueno: o produtor acredita que o ano será positivo para quem planta

“Defendemos o livre comércio, sem barreiras tarifárias ou não tarifárias para os combustíveis renováveis como o nosso etanol. Então temos de dar o exemplo”, explica Marcos Jank, presidente da Unica. É interessante notar que o Brasil importa, sim, etanol de outros países, como Argentina, Estados Unidos, Costa Rica e México. “Se pleiteamos a queda de tarifas no mercado americano, não há razão para mantermos uma taxa tão elevada”, completa Jank.

No início de janeiro, começaram a aparecer os primeiros sinais de que a referida taxa americana pode, realmente ruir. Atualmente, o tíquete de entrada para o combustível nacional é US$ 0,54 por galão de 3,8 litros e, segundo o senador republicano Charles Grassley , será “difícil” e “controverso” para os Estados Unidos manter a tarifa de importação contra o produto nacional. Grassley é conhecido como “inimigo” do Brasil no Congresso americano, justamente por ser um ferrenho defensor da indústria do milho americano. No ano passado, segundo Unica, o Brasil exportou US$ 1 bilhão aos EUA.

“Defendemos o livre comércio. Por isso, não queremos taxa sobre a importação de etanol”

Marcos Jank presidente da Única

Para a safra 2010/2011, que começa a ser colhida em março, segundo apurou DINHEIRO RURAL, são grandes as chances de uma maior rentabilidade para o setor. “Ao que tudo indica, o ano está resolvido”, diz Fernando Bueno. Alguns problemas permeiam o campo. Uma nova doença, chamada ferrugem alaranjada da cana, tem atingido algumas plantações com variedades mais antigas. O clima também não está colaborando. “Mas temos de ter otimismo e pensar que o pior já passou.”