18/01/2017 - 12:48
Óleos vegetais
A diferença entre expectativa e realidade foi algo muito frequente no Brasil em 2015. Enquanto para a maioria dos setores da economia nacional, a realidade foi bem pior do que os empresários esperavam, para o complexo soja – que inclui o grão, o farelo e o óleo – os números superaram as previsões. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a produção da oleaginosa ficou próxima das 97 milhões de toneladas, um crescimento de 12,2% ante à safra anterior. Os preços, entretanto, recuaram. Em valores absolutos, o faturamento de exportação do complexo recuou de US$ 31,3 bilhões, em 2014, para US$ 28 bilhões no ano passado. Como alento, por conta da alta volatilidade do dólar ante ao real, que bateu em R$ 4,24 em setembro de 2015, os produtores não chegaram a sentir tanto o efeito da queda nas receitas – especialmente aqueles que adquiriram insumos antes da forte alta da moeda americana. O resultado foi que o óleo vegetal, com maior valor agregado em comparação ao grão e o farelo, também teve destaque.
Com crescimento de 8% na produção, com oito milhões de toneladas processadas, o óleo foi o único item do complexo que obteve crescimento em volume e em valor exportado no ano passado. Apesar da queda de 20,2% no preço, o segmento alcançou US$ 1,15 bilhão com os embarques, cifra 2,2% superior à registrada em 2014. E a empresa que melhor aproveitou esse momento de altas foi a multinacional americana Bunge, comandada pelo presidente Raul Padilla. A companhia, que também chega à mesa do consumidor com marcas como Salada, Soya, Cyclus e Primor, viu sua receita saltar para R$ 35,8 bilhões, um aumento de 5% na variação anual. Seu lucro líquido teve resultado ainda melhor: saiu de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,21 bilhão, incremento de 9%. Por seu resultado financeiro, a Bunge é a campeã no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2016 no setor de Óleos Vegetais.
Não é para menos o destaque da subsidiária brasileira. A companhia atua em toda a cadeia produtiva do agronegócio, comprando grãos e processando alimentos, como margarina, maionese, azeite e farinha de trigo, além dos óleos. Inclusive, foi na triticultura que a empresa fez a sua maior aquisição em 2015: a compra de 100% do Moinho Pacífico do empresário Lawrence Pih. Segundo a multinacional, o negócio foi fechado por R$ 1,1 bilhão. Com isso, a Bunge aumenta a sua estrutura local. Por aqui, são cerca de 100 instalações, entre fábricas, usinas, moinhos e centros de distribuições que empregam 20 mil funcionários. Além disso, a Bunge Brasil conta com a produção de mais de 17 mil agricultores brasileiros, 20% deles de origem familiar. Apesar do desempenho positivo, a empresa viu sua participação diminuir dentro do faturamento global, em função da desvalorização do real.
Em 2015, a companhia divulgou uma queda de 23,9% em suas vendas mundiais, para US$ 43,4 bilhões. As principais explicações dadas pelo CEO global, Soren Schroder, foi a desvalorização da moeda em diversos mercados emergentes, como é o caso do Brasil, e a acentuada baixa nos preços das commodities. Por outro lado, o lucro líquido da matriz aumentou 53,6%, a US$ 756 milhões. Este ano, com uma recuperação ainda tímida dos valores da oleaginosa, Schroder vem se mostrando mais otimista. “Esse movimento de alta geralmente é bom para companhias como a nossa”, disse Schroder em entrevista ao jornal britânico Financial Times, em referência às cotações da soja.
As previsões da Abiove para a produção do grão no Brasil na safra 2016/2017 são mais otimistas. De acordo com as estimativas da associação, a oferta nacional ultrapassará 100 milhões de toneladas no próximo ano. O óleo, porém, pode sofrer uma pequena retração, das atuais oito milhões de toneladas para cerca de 7,95 milhões. Para Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Abiove, falta muito para o Brasil ter o mesmo destaque em produtos de valor agregado, assim como tem nas matérias primas. Como se não bastassem as diferenças tarifárias, entre os embarques de commodities em grão e processados, os mercados assistem uma elevação na concorrência com os incentivos ao agronegócio na Argentina, maior fornecedor de subprodutos da soja no mundo. “No Brasil, o setor já vem trabalhando com margens muito apertadas, por conta da crise e da concorrência global”, diz Furlan. “Com a recuperação do País, esperamos um alívio para um produto que pode ser tão importante para a economia.”